A PESSOA EM FIM DE VIDA

O envelhecimento demográfico e o aumento das doenças crónico-degenerativas e infecciosas confrontam a actual sociedade com um crescente aumento de doentes crónicos envoltos em grande sofrimento e elevados níveis de dependência, para quem o modelo de medicina curativa, apesar dos avanços tecnológicos, não consegue dar resposta. A preocupação com as necessidades da pessoa com doença avançada e progressiva não é uma questão recente, na década de sessenta com a criação em Inglaterra do primeiro hospice por Cicely Saunders nascia um novo modelo de assistência a pessoas em fim de vida, cuidados paliativos, assente no principio da dignidade humana em que a principal prioridade era o controlo da dor e do sofrimento, suportada por investigação clínica sobre a eficácia de novos fármacos (analgésicos, anti-inflamatórios, e anti-depressivos) no controlo de sintomas da pessoa com doença incurável, com naturais repercussões na sua qualidade de vida e da sua família. Esta terá sido a origem de uma filosofia nova na prática dos cuidados a doentes para quem a cura era cientificamente impossível e que rapidamente se estendeu a outros países.

O reconhecimento do direito fundamental à assistência e apoio do ser humano em fim de vida foi posteriormente reconhecido por várias organizações internacionais tendo a OMS (1990) definido como cuidados paliativos “(…) cuidados activos e totais, prestados a pacientes cuja doença não responde ao tratamento curativo. O controle da dor, de outros sintomas e de problemas psicológicos, sociais e espirituais é da maior importância”, considerando-os uma prioridade nas políticas de saúde cuja abordagem deve ser programada e planificada.

Em Portugal em 1994 é criada a primeira unidade de cuidados paliativos no Instituto de Oncologia do Porto fruto do reconhecimento de que, cada vez mais, a medicina curativa não conseguia dar resposta a pessoas com doença avançada e progressiva. Neste âmbito é criada a Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos que tinha como finalidade promover o desenvolvimento, o estudo, a investigação e o ensino em cuidados paliativos.

O Conselho da Europa em 1999 admite e reconhece os deficits assistenciais às pessoas com doença avançada progressiva e recomenda a implementação de medidas que combatam a solidão e sofrimento, que garantam cuidados assistenciais em ambientes adequados promotores da dignidade da pessoa em fim de vida.

O Plano Nacional de Saúde 2004 – 2010 pela incontestável importância que os cuidados paliativos têm nos cuidados de saúde em Portugal, considera-os uma área prioritária de intervenção pelo que é criado o Programa Nacional de Cuidados Paliativos em 2004 com actualização em 2010, que tem como grande finalidade a promoção da qualidade assistencial, facilidade e equidade no acesso de todos os que deles necessitam independentemente dos diferentes contextos em que possam ocorrer, quer eles sejam institucionais ou domiciliários.

Preconizando ainda que também as famílias devem ser alvo dos cuidados, quer como parte integrante na assistência ao seu familiar, quer como objecto de cuidado pela garantia de apoio, informação e educação que permitam de forma construtiva fazer os ajustamentos necessários que a evolução da doença impõe nesta fase de processo de transição de fim de vida (DGS, 2010).

São vários os estudos que se têm desenvolvido a nível internacional no âmbito dos cuidados paliativos para que, de forma sustentada, pela evidência cientifica, se melhorem as práticas cuidativas destes doentes e suas famílias, o conhecimento que nos permita uma melhor compreensão deste processo de transição em fim de vida.

Neste sentido, propomos desenvolver um projecto que integre os vários estudos de investigação no âmbito dos cuidados a doentes com doença avançada progressiva e famílias, quer eles ocorram a nível institucional quer a nível domiciliário.

Objectivos do projecto:

    Identificar os processos de transição da pessoa/família em fim de vida; Identificar factores determinantes da prática de Enfermagem em contexto de fim de vida; Compreender o impacto das manifestações físicas e psicológicas da pessoa/família com doença avançada progressiva; Identificar as estratégias de ajuda dos enfermeiros para melhorar a qualidade de vida da pessoa/família com doença avançada progressiva; Compreender as mudanças sociais, culturais e éticas em contexto de fim de vida; Contribuir para a construção e difusão de conhecimento de Enfermagem em contexto de fim de vida; Contribuir para uma “melhor” qualidade de cuidados de Enfermagem à pessoa/família em fim de vida.

 

  • Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem
  • Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
    • AHYA, Patra et al – Desafios da enfermagem em cuidados paliativos. Loures:  Lusociência, 1999.ISBN - 972 – 8383-17-7.
    • ARIÈS , Philipe – Sobre a história da morte no ocidente desde a idade média. 2ª ed.. Lisboa: Teorema, 1989.
    • ASTUDILLO, Wilson, et al – Cuidados del enfermo en fase terminal y atención a su familia. 4ª ed. Navarra: EUNSA, 2002 . ISBN: 84-313-1966-6
    • BARBOSA, António; Neto, Isabel Galriça – Manual de Cuidados Paliativos. 1ª ed Lisboa:: Centro de Bioética, Faculdade de Medicina.de Lisboa.2006.ISBN – 978 – 972-9349 – 21- 8.
    • BRUSCO, Angelo – Humanización de la asistencia al enfermo. Madrid: Sal Terrae, 1999. ISBN: 84-2993- 1282.X.
    • CARTER, Betty ; McGOLDRICK – As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar . 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995 . p. 373-391
    • COUVREUR, Chantal - A qualidade de vida . Arte para viver no século XXI . Loures: Lusociência.  2001. ISBN - 972 – 8383-21-5.
    • ELENA SUÁREZ , Elba – Cuando la muerte se acerca. Caracas: McGraw-Hill Interamericana , 1998. ISBN:980-6168-87-9.
    • GÓMEZ-BATISTE, X. et al. – Cuidados paliativos en oncologia. Barcelona: JIMS, 1996. ISBN 84-7092-426-5. P. 5-9  
    • GONZÁLEZ BARÓN, M. , et al. – Tratado de medicina paliativa y tratamento de soporte en el enfermo com cáncer. Madrid: Editorial Médica Panamericana, 1996. ISBN 84-7903-223-5. p. 1175-1181.  
    • HENNEZEL, Marie de – Diálogo com a morte. 2ª ed. Lisboa: Editorial Notícias, 1997. ISBN 972-46-0793-3.
    • HENNEZEL, Marie de – Nós não nos despedimos. Uma reflexão sobre o fim da vida.. Lisboa: Editorial Notícias , 2001. ISBN 972-46-1198-1.
    • KUBLER-ROSS, Elizabeth – Sobre a morte e o morrer. 8ªed. . São Paulo:,  Martins FontesFontes, 1998. ISBN 85-336-0963-9.
    • MARQUES, António Lourenço [et al.] – O desenvolvimento dos cuidados paliativos em Portugal. Patient Care. Lisboa. ISSN 0873-2167. Vol.14, n.º 152 (Outubro 2009), p.32-38.
    • MARQUES, A. Reis  et al. – Reacções emocionais à doença grave: Como lidar .... Coimbra: Clínica Psiquiátrica dos HUC, 1991.
    • MINISTÉRIO DA SAÚDE – Programa Nacional de Cuidados Paliativos [Em linha]. (2010). [Consult. 23 Maio 2010]. Disponível em http://www.min-saude.pt.
    • MOREIRA , Isabel M ª P . B . – O doente terminal em contexto familiar: uma análise da experiência de cuidar vivenciada pela família. Coimbra: Formasau, 2001. ISBN: 972-8485-22-0.
    • NEVES, Chantal et al. – Cuidados paliativos. Coimbra: Formasau, 2000. ISBN 972-8485-16-6.
    • OLIVEIRA, Abílio – O desafio da morte.. Lisboa: Editorial Notícias, 1999. ISBN 972-46-1044-6.
    • OLIVEIRA, J. H. Barros de – Viver a morte: abordagem antropológica e psicológica. Coimbra, Livraria Almedina, 1998. ISBN : 972-40-1063-5.
    • ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE – Definition of palliative care. [Em linha]. (2002). [Consult. 14 Setembro 2010]. Disponível em http://www.Who.int/câncer/palliative/definition/en.
    • PACHECO, Susana – Cuidar a pessoa em fase terminal . Perspectiva ética. Loures: Lusociência , 2002 . ISBN : 972-8383-30-4
    • PORTELA, Luís J.  – Unidades de dor versus unidades de cuidados paliativos (Controvérsias). In: PORTELA , Luís P. ; NETO, Isabel Galriça – Dor e cuidados paliativos. Lisboa, Permanyer Portugal , 1996. ISBN 972-733-059-2. p. 73-75.
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    • TWYCROSS, Robert – Cuidados paliativos. Lisboa: Climepsi, 2001. ISBN 972-796-001-4.
    • SAPETA, Paula e LOPES, Manuel – Cuidar em fim de vida: factores que interferem no processo de interacção enfermeiro doente. Revista Referência. Coimbra. ISSN 0874-0283. Série 2, nº 4 (Jun. 2007), p 35-60.
    • TWYCROSS, Robert – Medicina Paliativa: filosofia y consideraciones éticas. Acta Bioéthica. [Em Linha]. (2000). [Consult. 4 Setembro 2010]. Disponível em http://www.scielo.cl/scielo.php?pid=S1726569X2000000100003&script=sci_arttext.

     

    Informação do projeto

    • Data de início

      01/01/2011

    • Data de conclusão

      01/01/2022

    • Linha Temática

      Self-care and health-disease

    • Coordination Team
      • Isabel Maria Pinheiro Borges Moreira Coord. PI
      • Isabel Maria Henriques Simões Coord.
      • Rui Filipe Lopes Gonçalves Coord.
      • Maria do Céu Mestre Carrageta Coord.