Controlo da dor, medo e ansiedade em crianças submetidas a punção venosa: preferência e efetividade

A punção venosa é um dos procedimentos mais desenvolvidos pelos enfermeiros que gera dor e pode estar associado a sentimentos de medo e ansiedade, podendo acarretar consequências que se repercutem na vida adulta (Bice et al., 2014; Moutinho & Rocha, 2016).

A dor é descrita como uma sensação desagradável e de mal-estar que causa sofrimento. Este sofrimento, vai além da dor física, afetando por isso as áreas fisiológica, sensorial, comportamental, afetiva e cognitiva, podendo assim dizer-se que é uma experiência individual e subjetiva, o que torna a compreensão deste fenómeno tão complexa (Batalha, 2010). Estudos apontam para o facto de o medo influenciar as experiências de dor durante procedimentos dolorosos com agulhas  (Birnie et al., 2018; Huguet, et al., 2011).

De acordo com a carta da criança hospitalizada, no Artigo 4º a dor deve ser reduzida ao mínimo e, para isso, devem ser dados meios às crianças e aos pais para que os mesmos possam lidar com as situações dolorosas que possam ocorrer (Vasco et al., 2009).

Um correto alívio da dor envolve o recurso a técnicas farmacológicas e não farmacológicas (Bellieni et al., 2006; Bruce, 2009 citado por Yilmaz Kurt et al., 2020; Hogan, 2011; Hussein, 2015). Atualmente a diversidade de opções farmacológicas e não farmacológicas eficazes na prevenção e controlo da dor resultante de punções com agulhas é vasta (Batalha & Correia, 2018).

Encontrando-se numa posição privilegiada na prevenção e controlo da dor (Yilmaz Kurt et al., 2020), o alívio da dor e do medo associados à punção venosa em  pediatria, deve ser uma prioridade e preocupação constante dos enfermeiros (Aydin et al., 2016).

É essencial que os enfermeiros dominem as várias técnicas existentes e as adotem de acordo com as caraterísticas e necessidades individuais de cada criança alvo dos seus cuidados (Davies & Molloy, 2006).

Considerando que a existência de diversas variáveis, podem influenciar, de forma positiva ou negativa, a perceção, resposta, tratamento e avaliação da dor (Batalha,2010), a relevância deste estudo resulta da preocupação em identificar e desenvolver as estratégias de controlo da dor mais eficazes para cada criança, de acordo com a sua singularidade, melhorando a qualidade dos cuidados, evitando sofrimento e promovendo bem-estar e conforto.

O reconhecimento da individualidade de cada criança ou adolescente, torna possível a prestação de cuidados diferenciados e intervenções personalizadas promovendo assim, o sentimento de autocontrolo (Ordem dos Enfermeiros [OE], 2013). Segundo Batalha (2010), a sensação de autocontrolo e domínio, resultado do uso bem-sucedido de estratégias de coping, traduz-se em efeitos emocionais positivos minorando a sensação de dor na criança.

Segundo o Guia Orientador de Boa Prática da OE (2013), conceder à criança um certo domínio sobre o tratamento poderá resultar num melhor controlo da dor comparativamente com crianças que possam não ter tido oportunidade de escolha. Este aspeto associado à escassez de estudos que permitam clarificar quais as predileções das crianças quanto à escolha do método preferencial para controlo da dor aquando da punção venosa, a sua posterior implementação e avaliação fundamentam a pertinência para a realização desta investigação.

A punção venosa é um dos procedimentos rotineiros realizados pelos enfermeiros potencialmente geradores de dor e associado a medo, stress e ansiedade (Bice et al.,2014; Moutinho & Rocha, 2016). Este procedimento é descrito como dos mais temidos pelas crianças (Dalvandi et al., 2017). Para a prevenção da dor são recomendadas o uso de intervenções farmacológicas e não farmacológicas (Yilmaz Kurt et al., 2020). Existem diversas opções eficazes na prevenção e controlo da dor resultante de punções com agulhas (Batalha & Correia, 2018). Todavia, a sua aceitação (tempo de espera e eficácia) são uma barreira à sua utilização.  Assim, pretendemos identificar uma estratégia de controlo da dor eficaz no alívio da dor e com aceitação por parte da criança (intervenção preferida). Por outro lado,  pretendemos  dar a possibilidade da criança escolher a técnica a usar, no pressuposto de que dando o controlo da situação à criança isso aumenta a eficácia analgésica. Para tal, irá ser desenvolvido um estudo randomizado controlado em crianças dos 6 aos 10 anos no departamento de ambulatório Consulta externa de Medicina e Hospital de Dia de Hemato-Oncologia do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra- polo Hospital Pediátrico. Serão utilizadas seis intervenções de controlo da dor e medido o medo, ansiedade e a dor da criança antes e depois da punção venosa. 

 

    Identificar a estratégia de controlo da dor preferida pela criança;
    Comparar a eficácia analgésica de estratégias de controlo da dor entre as crianças que escolheram e não escolheram a estratégia de controlo da dor.

 

Apesar de existirem medidas farmacológicas e algumas não farmacológicas com eficácia na prevenção da dor na criança submetida a punção venova a sua implementação na prática clinica esbarra em muitas barreiras pelo tempo que exigem, recursos que exigem e tempo dispendido par que sejam efetivamente eficazes.

Por outro lado, desconhecemos que estratégias as crianças preferem e se a escolha da estratégia influencia a sua eficácia. Dar a oportinudade à criança de ter o controlo da situação através da escolha do método de prevenção da dor a utilizar poderá aumentar a eficácia do mesmo, a crer em um estudo conhecido.

Assim, saber que estratégias as crianças preferem e dar-lhe a possibilidade da sua escolha são estratégias simples que podem ser facilmente implementadas na prática clinica.

  • Centro Hospitalar de Coimbra, E.P.E.
  • Ali, S., Mcgrath, T., & Drendel, A. L. (2016). An Evidence- Based Approach to Minimizing Acute Procedural Pai in the Emeregency Department and beyond. Pediatric Emergency Care, 32(1), 36–42. Retrieved from www.pec-online.com

    Aydin, D., Şahiner, N. C., & Çiftçi, E. K. (2016). Comparison of the effectiveness of three different methods in decreasing pain during venipuncture in children: ball squeezing, balloon inflating and distraction cards. Journal of Clinical Nursing, 25(15–16), 2328–2335. https://doi.org/10.1111/jocn.13321

    Batalha, L. M. da C. (2016). Avaliação da Dor: Manual de estudo. In Tratamento da Dor na Clínica (Vol. 1).

    Batalha, L. M. da C., & Correia, M. M. M. (2018). Prevenção da dor na punção venosa em crianças : estudo comparativo entre anestésicos tópicos. Revista de Enfermagem Referência, IV(18), 93–102. Retrieved from https://doi.org/10.12707/RIV18021

    Bellieni, C. V., Cordelli, D. M., Raffaelli, M., Ricci, B., Morgese, G., & Buonocore, G. (2006). Analgesic effect of watching TV during venipuncture. Archives of Disease in Childhood, 91(12), 1015–1017. https://doi.org/10.1136/adc.2006.097246

    Bice, A. A., Gunther, M., & Wyatt, T. (2014). Increasing nursing treatment for pediatric procedural pain. Pain Management Nursing, 15(1), 365–379. https://doi.org/10.1016/j.pmn.2012.06.004

    Birnie, K., Noel, M., Chambers, C., Uman, L., & Parker, J. (2018). Psychological Interventions for Needle-Related Procedural Pain and Distress in Children and Adolescents (review). Explore, (10), 166. https://doi.org/10.1016/j.explore.2018.10.014

    Carlsson, A. A., Sorlie, V., Gustafsson, K., Olsson, M., & Kihlgren, M. (2008). Fear in children with cancer: Observations at an outpatient visit. Journal of Child Health Care, 12(3), 191–208. https://doi.org/10.1177/1367493508092519

    Dalvandi, A., Ranjbar, H., Hatamizadeh, M., Rahgoi, A., & Bernstein, C. (2017). Comparing the effectiveness of vapocoolant spray and lidocaine/procaine cream in reducing pain of intravenous cannulation: A randomized clinical trial. American Journal of Emergency Medicine, 35(8), 1064–1068. https://doi.org/10.1016/j.ajem.2017.02.039

    Davies, E. H., & Molloy, A. (2006). Comparison of ethyl chloride spray with topical anaesthetic in children experiencing venepuncture. Paediatric Nursing, 18(3), 39–43. https://doi.org/10.7748/paed2006.04.18.3.39.c8136

    Gullone, E. (2000). The Development of normal fear: a century of research. Clinical Psychology Review, 20(4), 429–451. https://doi.org/10.1021/jp909068v

    Hogan, M.-E. (2011). Reducing Pain In Four- To Six-Month Old Infants Undergoing Immunization Using A Multi-Modal Approach. Retrieved from http://ezproxy.cul.columbia.edu/login?url=https://search.proquest.com/docview/914418776?accountid=10226%0Ahttp://rd8hp6du2b.search.serialssolutions.com?ctx_ver=Z39.88-2004&ctx_enc=info:ofi/enc:UTF-8&rfr_id=info:sid/ProQuest+Dissertations+%26+Theses+Global

    Huguet, A., McGrath, P. J., & Pardos, J. (2011). Development and preliminary testing of a scale to assess pain-related fear in children and adolescents. Journal of Pain, 12(8), 840–848. https://doi.org/10.1016/j.jpain.2011.01.005

    Hussein, H. A. (2015). Effect of active and passive distraction on decreasing pain associated with painful medical procedures among school aged children. World Journal Nursing Sciences, 1(2), 13–23. https://doi.org/10.5829/idosi.wjns.2015.1.2.93202

    Lim, C. M. S. (2006). Comparison of High and Low Distraction for Pediatric Procedural Pain. Georgia State University.

    McMurtry, C. M., Noel, M., Chambers, C. T., & McGrath, P. J. (2011). Children’s Fear During Procedural Pain: Preliminary Investigation of the Children’s Fear Scale. Health Psychology, 30(6), 780–788. https://doi.org/10.1037/a0024817

    Moutinho, C., & Rocha, A. (2016). A Dor na Criança submetida a Punção Venosa Periférica. Prevenção com Eutectic Mixture of Local Anesthetics. Millenium - Journal of Education, Technologies, and Health, 0(50), 253–265.

    Mutlu, B., & Balci, S. (2015). Effects of balloon inflation and cough trick methods on easing pain in children during the drawing of venous blood samples: A randomized controlled trial. Journal for Specialists in Pediatric Nursing, 20(3), 178–186. https://doi.org/10.1111/jspn.12112

    Ordem dos Enfermeiros. (2010). Competências específicas do enfermeiro especialista em enfermagem de saúde da criança e do jovem. Ordem Dos Enfermeiros, 6.

    Ordem dos Enfermeiros. (2013). Guia orientador de Boa Prática - estratégias não farmacológicas no controlo da dor na criança (Vol. 148).

    Taddio, A., & McMurtry, C. M. (2015). Psychological Interventions for Needle-Related Procedural Pain and Distress in Children and Adolescents. Paediatrics & Child Health, 20(4), 195–196. https://doi.org/10.1016/j.explore.2018.10.014

    The American Nurses Association (ANA). (2012). Reduction of Patient Restraint and Seclusion in Health Care Settings Position Statement-Center for Ethics and Human Rights. 15.

    Vasco, F., Levy, M. de L., & Cepêda, T. (2009). Anotações Carta da Criança Hospitalizada. 0–40. Retrieved from http://www.pipop.info/fotos/editor2/anotacoes_carta_crianca_hospitalizada_2009.pdf

    Yilmaz Kurt, F., Aytekin Ozdemir, A., & Atay, S. (2020). The Effects of Two Methods on Venipuncture Pain in Children: Procedural Restraint and Cognitive-Behavioral Intervention Package. Pain Management Nursing, 21(6), 594–600. https://doi.org/10.1016/j.pmn.2019.09.002

    Informação do projeto

    • Data de início

      01/01/2021

    • Data de conclusão

      01/01/2025

    • Linha Temática

      Self-care and health-disease

    • Palavras-chave
      • : Dor
      • Criança
      • Enfermagem
      • punção venosa
      • controlo dor
      • criança
    • Áreas prioritárias
      • Gestão da dor
      • Inovação em Tecnologia dos cuidados de enfermagem
    • ODS da Agenda 2030 das Nações Unida
      • Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
    • Project Team
      • Luís Manuel da Cunha Batalha RI
      • Kátia Capela Oliveira
      • Maria Matilde Marques Correia