Durante a sua permanência no hospital, 30 a 80% dos doentes, têm pelo menos um cateter venoso periférico (CVP) (Palese et al., 2016). Contudo, a sua presença não está isenta de complicações, como a flebite (1,9 a 25%), infiltração/extravasamento (17,3%), oclusão (8%) e exteriorização acidental (7,3%). Høvik et al. (2019) associa ainda a infeção local ou sistémica (38% para as infeções da corrente sanguínea associadas ao CVP), o aumento de custos, da mortalidade e da morbilidade. A dor (6,4%, de acordo com Marsh et al. (2020) e o desconforto, são também complicações associadas à presença deste dispositivo e enunciadas por outros autores (Høvik et al., 2019; Palese et al., 2016; Ray-Barruel & Alexander, 2023).
Este problema constitui uma das grandes preocupações a nível nacional e internacional, nomeadamente no plano nacional de segurança dos doentes (PNSD) 2021-2026 (Despacho n.o 9390/2021, 2021), cujo pilar cinco (5) enfatiza o desenvolvimento de práticas seguras em ambientes seguros, sendo um dos objetivos estratégicos o de reduzir as infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS).
As últimas guidelines internacionais recomendam que o CVP deva ser inserido, removido ou mantido, mediante critérios, que sustentem a tomada de decisão em enfermagem, no sentido de reduzir o número de cateteres desnecessários (McGuire & Coronado, 2020), reduzir o tempo de permanência do CVP para o estritamente necessário, bem como, reduzir a taxa de complicações associadas (Direção-Geral da Saúde, 2017; World Health Organization, 2022). A tomada de decisão emerge assim como um fator preponderante na análise desta problemática. A inserção e manutenção do CVP envolve intervenções de enfermagem promotoras da satisfação do doente e da prevenção de complicações, sendo assim considerada uma área sensível aos cuidados de enfermagem (Decreto-lei no 104/98, 1998; Parecer do Conselho de Enfermagem no 30/2020, 2020; Regulamento no 361/2015, 2015; Simonetti et al., 2019).
A pessoa em situação de doença aguda é muitas vezes sujeita a cateterização periférica no serviço de urgência (SU). Contudo, a presença deste dispositivo médico não está isenta de complicações, que podem ser evitadas através da intervenção do enfermeiro no cumprimento de guidelines que definem uma prática segura neste âmbito. No entanto, a evidência realça a existência de discrepâncias entre o que é recomendado e o que é efetivamente realizado.
O objetivo geral deste projeto de investigação-ação é o de avaliar o impacte de uma intervenção multimodal na tomada de decisão do enfermeiro relativamente ao uso do cateter venoso periférico no cuidado à pessoa em contexto de urgência, para a prevenção de complicações. Para a sua concretização foram delineados objetivos específicos e atividades que os concretizam. Como referenciais teóricos que sustentam este projeto, é de realçar a teoria da Tomada de decisão de Tanner e a Teoria da Vigilância de Meyer e Lavin, relacionando-as com a perícia do enfermeiro abordada por Benner e com a aprendizagem, na perspetiva da Teoria socio-cognitiva de Albert Bandura.
Seguindo uma metodologia de investigação-ação, o projeto será desenvolvido ao longo de 4 fases processuais– planeamento, ação, observação e reflexão.
Espera-se assim que este projeto contribua para a Enfermagem enquanto ciência e profissão, trazendo outcomes positivos para a pessoa/família, para as equipas e para as instituições de saúde.
1. Sintetizar as evidências relacionadas com a tomada de decisão do enfermeiro na utilização do CVP no serviço de urgência, complicações associadas, determinantes da adesão e perpetiva do cliente sobre os cuidados de enfermagem recebidos;
2. Conhecer a prática clínica dos enfermeiros e o contexto;
3. Desenhar uma intervenção multimodal em cocriação com a equipa do serviço de urgência;
4. Implementar a intervenção com a equipa;
5. Caracterizar a prática clínica dos enfermeiros após implementação da intervenção;
6. Refletir sobre o impacte da intervenção na equipa e nos cuidados prestados à pessoa em situação aguda no SU.
Poderá ser incluída alguma estratégia de inovação, se a equipa considerar pertinente, na fase de desenho da intervenção, mediante a análise dos resultados obtidos no estudo espeloratório da primeira fase.
Está prevista a discussão com a equipa do serviço de urgência da necesisdade de envolvimento do cidadão no estudo. Além disso, na fase de revisão de literatura, foi mapeada a perceção dos doentes sobre os cuidados que lhe são prestados neste âmbito.
Australian Commission on Safety and Quality in Health Care. (2021). Management of Peripheral Intravenous Catheters - Clinical Care Standard. https://www.safetyandquality.gov.au/sites/default/files/2021-05/management_of_peripheral_intravenous_catheters_clinical_care_standard_-_accessible_pdf.pdf
Decreto Lei n.o 104/1998. (1998). Ministério da Saúde: Código Deontológico dos enfermeiros. Diário Da República, I Série (N.o 93 de 21-04-1998), 1739–1757.
Despacho n.o 9390/2021. (2021). Gabinete do Secretário de Estado Adjunto e da Educação: Aprova o Plano Nacional para a Segurança dos Doentes 2021-2026 (PNSD 2021-2026). Diário Da República, II Série ( N.o 187 de 24-09-2021), 96–103.
Direção-Geral da Saúde. (2017). Programa de prevenção e controlo de infeções e de resistência aos antimicrobianos (Vol. 8).
Høvik, L. H., Gjeilo, K. H., Lydersen, S., Rickard, C. M., Røtvold, B., Damås, J. K., Solligård, E., & Gustad, L. T. (2019). Monitoring quality of care for peripheral intravenous catheters; feasibility and reliability of the peripheral intravenous catheters mini questionnaire (PIVC-miniQ). BMC Health Services Research, 19(1), 636. https://doi.org/10.1186/s12913-019-4497-z
McGuire, R., & Coronado, A. (2020). Evaluation of clinically indicated removal versus routine replacement of peripheral vascular catheters. British Journal of Nursing, 29(2), S10–S16. https://doi.org/10.12968/bjon.2020.29.2.S10
Nickel, B., Gorski, L., Kleidon, T., Kyes, A., DeVries, M., Keogh, S., Meyer, B., Sarver, M. J., Crickman, R., Ong, J., Clare, S., & Hagle, M. E. (2024). Infusion Therapy Standards of Practice, 9th Edition. Journal of Infusion Nursing, 47(1S), S1–S285. https://doi.org/10.1097/NAN.0000000000000532
Palese, A., Ambrosi, E., Fabris, F., Guarnier, A., Barelli, P., Zambiasi, P., Allegrini, E., Bazoli, L., Casson, P., Marin, M., Padovan, M., Picogna, M., Taddia, P., Salmaso, D., Chiari, P., Marognolli, O., Canzan, F., & Saiani, L. (2016). Nursing care as a predictor of phlebitis related to insertion of a peripheral venous cannula in emergency departments: findings from a prospective study. Journal of Hospital Infection, 92(3), 280–286. https://doi.org/10.1016/j.jhin.2015.10.021
Parecer do Conselho de Enfermagem no 30/2020. (2020). Inserção de um catéter venosos periférico na veia jugular externa por enfermeiros. Ordem dos Enfermeiros.
Ray-Barruel, G., & Alexander, M. (2023). CE: Evidence-Based Practice for Peripheral Intravenous Catheter Management. AJN, American Journal of Nursing, 123(1), 32–37. https://doi.org/10.1097/01.NAJ.0000905568.37179.01
Registered Nurses’ Association of Ontario. (2021). Vascular Access (2nd ed.). www.RNAO.ca/bpg
Regulamento no 361/2015. (2015). Regulamento dos Padrões de Qualidade dos Cuidados Especializados em Enfermagem em Pessoa em Situação Crítica. Diário Da República, 2.a Série N.o 123, 17240–17243.
Simonetti, V., Comparcini, D., Miniscalco, D., Tirabassi, R., Di Giovanni, P., & Cicolini, G. (2019). Assessing nursing students’ knowledge of evidence-based guidelines on the management of peripheral venous catheters: A multicentre cross-sectional study. Nurse Education Today, 73, 77–82. https://doi.org/10.1016/j.nedt.2018.11.023
Teixeira, J., Reis, N., Chawłowska, E., Rocha, P., Czech-Szczapa, B., Godinho, A. C., Bączyk, G., Agrelos, J., Jaracz, K., Fontoura, C., Lucas, P., & Pinto, M. R. (2025). Current Approaches on Nurse-Performed Interventions to Prevent Healthcare-Acquired Infections: An Umbrella Review. Microorganisms, 13(2), 463. https://doi.org/10.3390/microorganisms13020463
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23/11/2024
31/07/2027
A pessoa em situação crítica
Self-care and health-disease