Enfermagem e utentes com VIH: da vivência da transição à promoção de processos adaptativos

Viver com uma doença crónica implica múltiplas alterações na condição da pessoa ao longo da sua trajectória de vida, colocando-a num complexo processo de ajustamento. Neste processo, a vida pode adquirir diferente sentido quando a pessoa se confronta com a sua finitude ou a da sua projecção futura e, os desafios colocados, podem ser tão mais problemáticos quanto a dificuldade de nomeação das dificuldades que a cada momento se atravessa. Os portadores de doença crónica têm que se adaptar, na trajectória da doença às várias situações que vão ocorrendo e aprender a responder aos seus desafios, tanto do ponto de vista físico como emocional.

Os processos de transição saúde/doença aumentam a necessidade de cuidados de enfermagem e, deste modo, o enfermeiro assume, no contexto dos serviços de saúde, um papel importante no cuidar destas pessoas, incidindo a sua atenção no conjunto de respostas humanas comprometidas. Assim, é importante conhecer como as pessoas infectadas com VIH realizam os seus processos de transição, que estratégias mobilizam para lhes fazer face e que sentido lhes confere.

 

Na primeira fase do trabalho pretende-se caracterizar as pessoas infectadas por VIH do estudo em termos sociodemográficos, epidemiológicos e clínicos, avaliar o estado de saúde e o estado de humor das pessoas infectadas por VIH, identificar as estratégias de coping utilizadas no ajustamento à doença e identificar o tipo de apoio percepcionado pela pessoa infectada no processo de ajustamento à doença.

O estudo segue uma metodologia de estudo de caso combinando informação proveniente de diferentes fontes e diferentes instrumentos. Os dados quantitativos incluíram 152 indivíduos infectados por VIH-1 e VIH-2. Concluímos que a maioria dos indivíduos não evidencia marcadas limitações no funcionamento físico (média=82,07), mas maiores limitações no funcionamento psíquico (média=65,03), e quanto à percepção de saúde geral (média=54,09) a maioria considera a sua saúde semelhante à verificada no ano transacto. Emocionalmente revelam-se valores médios baixos de tensão, depressão, hostilidade, fadiga e confusão e, concomitantemente, valores médios mais elevados de vigor/actividade. As variáveis moderadoras apoio social e coping mostram uma amostra com elevada percepção de apoio social e um estilo de coping ligeiramente inferior ao da média da população portuguesa. Ambas influenciam o estado de saúde e perturbação do humor a um nível estatisticamente muito significativo, embora com limitada percentagem de variância. Apesar disso, os dados qualitativos, obtidos através de entrevistas narrativas a 24 indivíduos, revelam o estigma como característica comum. Identificamos mudanças no campo da saúde, relacional e social. O receio de desacreditação social é elevado e condiciona alguns aspectos sociais e afectivos desses indivíduos. Concluiu-se que a ‘hereditariedade do estigma’ revela ignorância social e que a intervenção de enfermagem é crucial na mitigação do estigma, sobretudo na educação para a saúde.

Informação do projeto

  • Data de início

    01/01/2009

  • Data de conclusão

    01/01/2014

  • Linha Temática

    Self-care and health-disease

  • Project Team
    • Rosa Dilar Pereira da Costa RI
    • Aida Maria de Oliveira Cruz Mendes
    • Wilson Abreu