De acordo com o European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) (2023), as ILC estão entre as IACS mais comuns, associadas a internamentos hospitalares prolongados e procedimentos cirúrgicos adicionais, podendo exigir cuidados intensivos e resultar em maior morbimortalidade e custos elevados em saúde. A sua prevenção é um processo complexo, exigindo a integração de várias medidas que abranjam os períodos pré, intra e pós-operatório, de forma padronizada.A prevenção das IACS relacionadas com a utilização de Dispositivos Médicos (DM) constitui um tema de elevada importância na prática clínica, especialmente no contexto perioperatório, onde o risco de transmissão de agentes patogénicos é significativo. A ocorrência de IACS pode estar associada ao uso de DM, em particular os de uso múltiplo, que exigem um processo rigoroso de reprocessamento. Se este processo for realizado inadequadamente, estes dispositivos podem representar uma fonte de contaminação cruzada, aumentando, consequentemente, o risco de ILC (Rutala & Weber, 2013). Deste modo, a adoção de práticas baseadas em evidência científica, normas regulamentares e protocolos rigorosos, são essenciais para garantir a segurança da pessoa e do profissional.O Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica na Área de Enfermagem à Pessoa em Situação Perioperatória (EEEMCPSP) desempenha um papel fundamental na prevenção das IACS, nomeadamente da ILC, envolvendo-se e participando ativamente no planeamento, implementação e avaliação de estratégias baseadas em evidência científica, garantindo a segurança da pessoa e a qualidade dos cuidados prestados (Regulamento n. 429/2018 de 16 de julho, 2018).De acordo com o Regulamento n. 429/2018 de 16 de julho (2018) é competência do EEEMCPSP liderar o processo de prevenção e controlo de infeção associado aos cuidados perioperatórios, com vista a maximizar a segurança da pessoa em situação perioperatória e da equipa pluridisciplinar, congruente com a consciência cirúrgica. Neste sentido, por forma a garantir a segurança e a qualidade dos cuidados, o enfermeiro deve promover a gestão e controlo dos DM utilizados em contexto perioperatório, assegurando que estes estão disponíveis, íntegros e funcionais, garantindo a sua rastreabilidade e participando na conceção e na implementação dos processos de reprocessamento de Dispositivos Médicos de Uso Múltiplo (DMUM). As referidas competências do EEEMCPSP vão também ao encontro do que é preconizado pelo Colégio da Especialidade de Enfermagem Médico-Cirúrgica, ao nível dos Padrões de Qualidade. No enunciado descritivo Prevenção de Complicações define-se que, na procura permanente da excelência do exercício profissional, o enfermeiro especialista deve implementar procedimentos para a prevenção e controlo da infeção associada aos cuidados perioperatórios prevenindo complicações para a saúde dos clientes (Ordem dos Enfermeiros [OE], 2017). A utilização segura de DMUM cirúrgicos desde muito cedo exigiu do enfermeiro uma atitude de prudência. A sua utilização no processo cirúrgico representa um forte impacto na qualidade e segurança cirúrgica. Múltiplos constrangimentos podem surgir na sua utilização e que, exigem aos enfermeiros perioperatórios tomada de decisão autónoma.Neste contexto, os registos referentes aos DMUM utilizados nas intervenções cirúrgicas são fundamentais, pois comprovam que os dispositivos estavam seguros e apropriados para uso no momento da cirurgia.A rastreabilidade é um elemento essencial na gestão dos Dispositivos Médicos de Uso Múltiplo (DMUM) cirúrgicos, pois assegura a segurança das intervenções cirúrgicas, o cumprimento das normas legais e a qualidade dos cuidados prestados.Durante o período intraoperatório, os registos de enfermagem têm um papel determinante na garantia da rastreabilidade dos DMUM. Esta prática refere-se à capacidade de identificar o percurso, a utilização ou a localização dos dispositivos com base nas informações previamente documentadas (Galhardo et al., 2022).Neste contexto, a Organização Mundial da Saúde recomenda que o rótulo da embalagem esterilizada seja devidamente arquivado. Este rótulo ou etiqueta, deve conter a identificação do dispositivo, a data de esterilização e de validade, o número do esterilizador, o ciclo correspondente, bem como a identificação do profissional responsável pelo processo (AORN, 2019; WHO, 2016).
As Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde representam um grave problema de saúde pública pela elevada morbimortalidade e custos envolvidos. A sua prevenção é possível e essencial nos programas de segurança do doente. São fatores de risco o uso de dispositivos invasivos, intervenções cirúrgicas e microrganismos multirresistentes. A Infeção do Local Cirúrgico é frequente e multifatorial, exigindo medidas preventivas abrangentes. No perioperatório, o correto uso e rastreabilidade dos Dispositivos Médicos de Uso Múltiplo (DMUM) são cruciais. O enfermeiro Especialista lidera estratégias de prevenção e controlo, assegurando práticas seguras, conformidade legal e qualidade assistencial.
Compreender a importância que os enfermeiros de intraoperatório atribuem ao reprocessamento de DMUM, pela identificação das práticas de validação da esterilidade dos DMUM, dos registos que contribuem para a rastreabilidade e pela análise das intervenções dos enfermeiros perante as não conformidades relacionadas aos DMUM.
Estudo descritivo, exploratório de abordagem qualitativa. Amostra não probabilística, constituída por enfermeiros de contexto intraoperatório com os seguintes critérios: especialistas, a exercer funções há mais de 5 anos. Os dados serão recolhidos por entrevista semiestruturada com recurso a guião e os dados analisados por método de análise de conteúdo de Bardin. Serão respeitados os princípios éticos e de confidencialidade.
Compreender a importância que os enfermeiros de intraoperatório atribuem ao reprocessamento de DMUM, pela identificação das práticas de validação da esterilidade dos DMUM, dos registos que contribuem para a rastreabilidade e pela análise das intervenções dos enfermeiros perante as não conformidades relacionadas aos DMUM.
Esta investigação pode trazer benefícios para o cidadão na medida em que se poderão evitar complicações associadas ao ato cirúrgico e, nomeadamente, à deficiente utilização de DMUM e concomitantemente, poderá trazer benefícios para a sociedade, prevenindo gastos evitáveis com internamentos prolongados resultantes de infeções do local cirúrgico.
Não aplicávelAssociation of Perioperative Registered Nurses (AORN). (2019). Guideline Quick View: Packaging Systems. AORN https://doi.org/10.1002/aorn.12868 Journal, 110(5), 557–561.
Association of Perioperative Registered Nurses (AORN). (2022). Sterilization. In AORN (Ed.), Guidelines for Perioperative Practice. (pp. 1059–1088). AORN.
Direção-Geral da Saúde. (2022). “Feixe de Intervenções” para Prevenção da Infeção do Local Cirúrgico. https://normas.dgs.min-saude.pt/wp content/uploads/2015/12/norma_020_2015_atualizada_17_11_2022_prev_inf_local_cirur gico.pdf
Pina, E., Ferreira, E., Marques, A., & Matos, B. (2010). Infeções associadas aos cuidados de saúde e segurança do doente. Revista Portuguesa de Saúde Pública, 10, 27-39. https://www.elsevier.es/en-revista-revista-portuguesa-saude-publica-323-articulo- infeccoes-associadas-aos-cuidados-saude-e-seguranca-do-X0870902510898567
European Centre For Disease Prevention and Control. (2013). Point prevalence survey of healthcare-associated infections and antimicrobial use in European acute care hospitals 2011–2012. https://www.ecdc.europa.eu/sites/default/files/media/en/publications/Publications/healthca re-associated-infections-antimicrobial-use-PPS.pdf
European Centre For Disease Prevention and Control. (2023). Healthcare-associated infections: surgical site infections. https://www.ecdc.europa.eu/sites/default/files/documents/Healthcare associated%20infections%20-%20surgical%20site%20infections%202018-2020.pdf
Galhardo, G. F., & Lopes, A. J. (2022). A importância da rastreabilidade do instrumental pela equipe de enfermagem do Centro Cirúrgico de um Hospital Universitário Federal do Rio de Janeiro/Brasil. Research, Society and Development, 11(14), e409111436409. https://doi.org/10.33448/rsd-v11i14.36409
Ordem dos Enfermeiros. (2017). Padrões de Qualidade dos Cuidados Especializados em Enfermagem Médico-Cirúrgica na Área de Enfermagem à Pessoa em Situação Crítica, na Área de Enfermagem à Pessoa em Situação Paliativa, na Área de Enfermagem à Pessoa em Situação Perioperatória e na Área de Enfermagem à Pessoa em Situação Crónica. https://www.ordemenfermeiros.pt/media/5681/ponto-2_padroes-qualidade-emc_rev.pdf
Regulamento n. 429/2018, de 16 de julho. (2018). Regulamento de competências específicas do enfermeiro especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica na Área de Enfermagem à Pessoa em Situação Crítica, na Área de Enfermagem à Pessoa em Situação Paliativa, na Área de Enfermagem à Pessoa em Situação Perioperatória e na Área de Enfermagem à Pessoa em Situação Crónica. Em Diário da República: 2a série, n. 135, 19359-19370. Regulamento n. 729/2021 de 5 de Agosto. (2021).
Rutala, W. & Weber, D. (2013). Disinfection and sterilization: An overview. American Journal of Infection Control, 41, S2-S5. http://dx.doi.org/10.1016/j.ajic.2012.11.005
World Health Organization (WHO). (2016). Decontamination and reprocessing of medical devices for health-care facilities. https://iris.who.int/handle/10665/250232
18/10/2025
30/06/2026
CUIDADOS À PESSOA COM FERIDA E VIABILIDADE TECIDULAR
Self-care and health-disease