Validação psicométrica da versão Portuguesa de Portugal da escala COMFORT-B em crianças internadas em contexto de UCI

Muitas crianças em unidades de cuidados intensivos (UCI) experimentam dor que é uma fonte de sofrimento deixando marcas a longo prazo (dor persistente e/ou transtorno de estresse pós-traumático) (Bonacaro et al., 2025; Kotfis et al., 2017). Inúmeros estudos têm revelado uma gestão da dor inadequada (Batalha, 2010; Francesco et al., 2018) o que torna imperioso uma avaliação da dor valida e fiável para que um diagnóstico preciso seja o suporte das decisões terapêuticas a implementar (Batalha, 2010; Bonacaro et al., 2025). A avaliação da intensidade da dor nas crianças é uma das tarefas mais difíceis que os enfermeiros executam (Batalha, 2010) e em UCI apresenta desafios únicos (Laures et al., 2019). A ausência de escalas validadas culturalmente para a língua Portuguesa com avaliação das suas propriedades psicométricas para avaliação da intensidade da dor em crianças incapazes de autorrelato constitui atualmente mais um obstáculo a uma avaliação válida e precisa das crianças internadas em contexto de UCI. A dor destas crianças pode ser dividida em quatro categorias consoante a sua origem: dor/desconforto contínuo ligado aos tratamentos, dor devido à doença aguda, dor intermitente relacionado com os procedimentos e dor persistente pré-existente. O padrão-ouro na avaliação da dor é o autorrelato (Batalha, 2010), mas numa UCI isso nem sempre é possível. O autorrelato pode não ser possível pelas condições clínicas (ventilação mecânica, gravidade da doença, tratamentos medicamentosos ou outros) e estádio de desenvolvimento psicomotor (idade pré-verbal ou imaturidade cognitiva). Nas crianças incapazes de autorrelato os indicadores comportamentais e fisiológicos podem ser usados para avaliar a dor (Raja et al., 2020). No entanto, as medidas fisiológicas estão apenas moderadamente correlacionadas com a dor (van Dijk et al., 2001) ocorrendo por outras razões que não a dor (medicamentos e diagnósticos comuns em UCI induzem resposta fisiológicas semelhantes (Ismail, 2016), tornando estas medidas menos confiáveis ao realizar uma avaliação da dor (Boerlage et al., 2015; Laures et al., 2019)A escala COMFORT-B (Ista et al., 2005) foi desenvolvida a partir da escala COMFORT (Ambuel et al., 1992) abolindo os indicadores fisiológicos para melhor a sua precisão e a facilidade de utilização. Uma outra vantagem desta escala é o facto de avaliar a dor desde o nascimento aos dezoito anos, possibilitando o uso de uma só escala em crianças incapazes de autorrelato, independentemente de estarem ou não ventilados mecanicamente. Esta escala é reconhecida como padrão-ouro na avaliação da dor em crianças incapazes de autorrelato em contexto de UCI. Importa salientar que a padronização e uniformização dos métodos de avaliação da dor beneficiaria a prática e a pesquisa. (Laures et al., 2019).A escala COMFORT-B avalia a intensidade da dor com base na observação de indicadores comportamentais observáveis por um período de dois minutos baseada em 7 dimensões: nível de consciência; calma/agitação; resposta respiratória; choro; movimentos físicos; tónus muscular; e tensão facial (Ista et al., 2005). A dimensão resposta respiratória só é utilizada quando a criança está sob ventilação mecânica substituindo o indicador choro. Cada dimensão é quantificada de 1 a 5 perfazendo um total de pontuação da escala que varia entre um mínimo de 6 e um máximo de 30. Uma pontuação < 12 pontos, significa que criança está sedada e necessita de desmame, uma pontuação entre 12 e 17 significa que não tem dor e uma pontuação >17 que tem dor (Ista et al., 2005). quanto mais alta a pontuação maior a intensidade da dor.

A ausência de escalas validadas culturalmente para a língua Portuguesa com avaliação das propriedades psicométricas para avaliação da intensidade da dor em crianças incapazes de autorrelato (exceto recém-nascidos) é um obstáculo a uma correta gestão da dor. A escala COMFORT-B tem a vantagem de avaliar a dor em crianças incapazes de autorrelato desde o nascimento até aos dezoito anos, quer estejam ou não sob ventilação mecânica.Pretendeu-se avaliar as suas propriedades psicométricas da versão Portuguêsa de Portugal da escala COMFORT-B em crianças incapazes de autorrelato em unidades de cuidados intensivos (UCI). Trata-se de um estudo multicêntrico e metodológico de avaliação da validade (constructo e concorrente) e fiabilidade (consistência interna e concordância inter-avaliadores) que decorreu em duas UCI neonatais e duas UCI pediátricos). A seleção dos participantes foi aleatória consecutiva com uma amostra de um mínimo de 50 crianças e 100 observações em cada serviço. A aplicação das escalas foi realizada de forma independente e simultânea por dois enfermeiros (COMFORT – B –PT) e um terceiro enfermeiro aplicou a escala visual analógica (observador) ou a escala échelle de douleur et d’inconfort du nouveau-né, se recém-nascido. Espera-se que a escala COMFORT-B-PT seja válida e fiável para avaliar a intensidade da dor em crianças internadas em UCI mitigando a dificuldade atualmente existente na avaliação e gestão da dor destas

Avaliar as propriedades psicométricas da versão portuguesa de Portugal escala de dor COMFORT-B, em crianças desde o nascimento aos 18 anos, incapazes de autorrelato e internadas em contexto de unidades de cuidados intensivos

Esta investigação poderá contribuir para disponibilizar uma escala de avaliação da dor em crianças incapazes de autorrelato internadas em unidades de cuidados intensivos para o contexto Português. Atualmente não existe em Portugal nenhuma escala validada com este fim, exceto para recém-nascidos.

Uma avaliação válida e fidedigna da dor contribuirá decisivamente para uma melhor gestão da dor das crianças submetidas a cuidados intensivos e incapazes de autorrelato melhorando a qualidade dos cuidados prestados, a qualidade de vida da criança e família e menos gastos económicos para a sociedade.

Não aplicável

  • ULS Coimbra, Departamento GORN, MDM - Neonatologia A
  • Universidade Federal do Piauí, Brasil
  • UCI, Hospital Infantil Lucídio Portela, Piaui, Brasil
  • Ambuel, B., Hamlett, K. W., Marx, C. M., & Blumer, J. L. (1992). Assessing Distress in Pediatric Intensive Care Environments: The COMFORT Scale1. Journal of Pediatric Psychology, 17(1), 95–109. https://doi.org/10.1093/jpepsy/17.1.95

    Batalha, L. (2010). Dor em pediatria: Compreender para mudar. Lidel. http://www.wook.pt/ficha/dor-em-pediatria/a/id/5101906/filter/

    Boerlage, A. a., Ista, E., Duivenvoorden, H. j., de Wildt, S. n., Tibboel, D., & van Dijk, M. (2015). The COMFORT behaviour scale detects clinically meaningful effects of analgesic and sedative treatment. European Journal of Pain, 19(4), 473–479. https://doi.org/10.1002/ejp.569

    Bonacaro, A., Granata, C., Canini, C., Anderle, L., Ambrosi, F., Bassi, M. C., Biasucci, G., Contini, A., Artioli, G., La Malfa, E., & Guasconi, M. (2025). Evaluation of Pain in the Pediatric Patient Admitted to Sub-Intensive Care: What Is the Evidence? A Scoping Review. Epidemiologia, 6(1), Artigo 1. https://doi.org/10.3390/epidemiologia6010009

    Borges, J. (2014). Adaptação Cultural e Avaliação das Propriedades Psicométricas da Versão Portuguesa da Escala de Dor COMFORT-B [ESEnfC]. https://web.esenfc.pt/pav02/include/download.php?id_ficheiro=32646&codigo=145

    Francesco, S., Melania, L., Lucrezia, B., Antonella, G., Concetta, I., Giulia, V., Giovanna, A., & Leopoldo, S. (2018). A first contribution to the validation of the Italian version of the Behavioral Pain Scale in sedated, intubated, and mechanically ventilated paediatric patients. Acta Bio Medica : Atenei Parmensis, 89(Suppl 7), 19–24. https://doi.org/10.23750/abm.v89i7-S.7945

    Ismail, A. (2016). The Challenges of Providing Effective Pain Management for Children in the Pediatric Intensive Care Unit. Pain Management Nursing, 17(6), 372–383. https://doi.org/10.1016/j.pmn.2016.08.005

    Ista, E., van Dijk, M., Tibboel, D., & de Hoog, M. (2005). Assessment of sedation levels in pediatric intensive care patients can be improved by using the COMFORT “behavior” scale*. Pediatric Critical Care Medicine, 6(1), 58. https://doi.org/10.1097/01.PCC.0000149318.40279.1A

    Kotfis, K., Zegan-Barańska, M., Szydłowski, Ł., Żukowski, M., & Ely, E. W. (2017). Methods of pain assessment in adult intensive care unit patients—Polish version of the CPOT (Critical Care Pain Observation Tool) and BPS (Behavioral Pain Scale). Anaesthesiology Intensive Therapy, 49(1), 66–72. https://doi.org/10.5603/AIT.2017.0010

    Project Information

    • Start Date

      06/03/2025

    • Completion date

      01/10/2028

    • Structuring project

      MANAGEMENT OF PAIN AND SUFFERING IN CHILDREN AND ADOLESCENTS

    • Thematic line

      Self-care and health-disease

    • Target population
      • Crianças desde o nascimento até aos 18 anos incapazes de autorrelato e internadas em contexto de UCI
    • Keywords
      • Enfermagem
      • Escala
      • Conforto
      • Criança
      • Cuidados intensivos
      • avaliação de dor
    • Áreas prioritárias
      • Gestão da dor
    • ODS da Agenda 2030 das Nações Unida
      • Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
    • Project Team
      • Luís Manuel da Cunha Batalha RI