As doenças oncológicas representam a principal causa de morte prematura em Portugal, bem como a perda de anos de vida saudável, tendência verificada no resto da Europa. A incidência e a prevalência das doenças oncológicas têm aumentado, em Portugal e no Mundo. Em 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou em 18,1 milhões o número de novos casos de cancro em todo o Mundo. De acordo com os dados do Registo Oncológico Nacional, nesse mesmo ano, foram diagnosticados 50.151 novos casos em Portugal e em 2019 foram diagnosticados 57.878 novos casos (Despacho n.º 13227/2023).
O cancro é uma das principais prioridades nacionais para os próximos anos, em Portugal e na União Europeia (UE), com o objetivo de diminuir a mortalidade dos doentes oncológicos e aumentar a qualidade de vida dos doentes e sobreviventes. Neste sentido, o governo aprovou uma Estratégia Nacional de Luta contra o Cancro para o Horizonte 2030 que será integrada no Plano Nacional de Saúde e foi alinhada com o Plano Europeu de Luta Contra o Cancro (PELCC), centrada na pessoa e estruturada em 4 pilares: Prevenção; Rastreio/Deteção Precoce; Diagnóstico e Tratamento e Sobreviventes.
Por conseguinte, a crescente necessidade de procura dos serviços de saúde, simultaneamente com a incidência e prevalência de doenças oncológicas, provoca uma escassez de recursos humanos que tem intensificado a carga de trabalho (CT) dos enfermeiros. Esta CT pode comprometer a saúde física e mental dos enfermeiros bem como a qualidade dos cuidados prestados. Nesse contexto, os estilos de liderança dos enfermeiros gestores desempenham um papel crucial na forma como os enfermeiros lidam com o aumento do desempenho e a carga de trabalho (Costa et al., 2020).
O conceito de CT é caracterizado por elementos relacionados com o processo de trabalho que se interligam entre si e com o trabalhador podendo gerar desgaste e, muitas das vezes, os fatores não são claramente identificados pelos profissionais. Conhecer os elementos que contribuem para o aumento e redução das cargas de trabalho promovem o fortalecimento dos aspetos positivos do trabalho e a minimização dos aspetos negativos (Biff et al., 2020).
Os enfermeiros desempenham um papel crucial nos cuidados diretos a pessoa com doença oncológica e sua família. Além de enfrentarem necessidades físicas, psíquicas e emocionais significativas, prestam cuidados especializados e complexos. O avanço tecnológico e científico na área oncológica leva a pressão constante no trabalho e à necessidade de disponibilizar suporte psicológico e emocional à pessoa com doença oncológica e sua família. Este aumento de complexidade das necessidades e responsabilidades impacta diretamente não só a qualidade dos cuidados prestados, mas também na saúde mental e no bem-estar dos enfermeiros.
Neste sentido, em Portugal existe uma estratégia orientada para a qualidade dos cuidados de saúde, uma iniciativa da Direção-Geral da Saúde através do Plano Nacional para a Segurança dos Doentes 2021-2026. Esta iniciativa assenta em cinco pilares com diversos objetivos estratégicos. Os novos pilares preconizados para a qualidade em saúde são: cultura de segurança, liderança e governança, comunicação, prevenção e gestão de incidentes de segurança e práticas seguras em ambientes seguros. A liderança e a cultura de segurança encontram-se entre os pilares para o sucesso e definem ainda, que o envolvimento do gestor é fundamental para a criação de um ambiente de excelência e qualidade de cuidados seguros ao utente (Despacho n.º 9390/2021).
A segurança do utente é essencial para a qualidade no setor da saúde, pois os cuidados prestados não podem ser considerados de qualidade se forem inseguros ou propensos a erros e complicações (Fragata, 2011). Ainda importa referir que, o papel do gestor na cultura de segurança em instituições de saúde é crucial para promover um ambiente seguro e confiável. O gestor deve ser o exemplo e a inspiração promovendo práticas seguras. Deve ser igualmente capaz de promover a formação contínua das suas equipas e deve ser um dos elementos que supervisiona e avalia os processos e resultados identificando as falhas e promovendo a melhoria contínua.
Assim, torna-se imperativo que as organizações criem um ambiente favorável para os enfermeiros e que os gestores estejam despertos para estas situações, pois são as peçasfundamentais no seio das equipas, proporcionando a motivação e envolvimento dos enfermeiros na equipa alcançando os objetivos comuns.
Enquadramento: O aumento da incidência de diagnósticos de doenças oncológicas exige cuidados de enfermagem cada vez mais diferenciados e complexos tornando os enfermeiros mais suscetíveis a riscos psicossociais por intensificação da carga de trabalho (CT). A CT pode comprometer a saúde física e mental dos enfermeiros bem como a qualidade dos cuidados prestados.
Objetivos: Analisar a carga de trabalho percecionada pelos enfermeiros que exercem a sua atividade assistencial num hospital exclusivamente dedicado ao cuidado da pessoa com doença oncológica; bem como a sua relação com variáveis sociodemográficos e profissionais da amostra.
Metodologia: Estudo quantitativo, descritivo e transversal. A população corresponderá aos enfermeiros que exercem funções assistenciais no hospital exclusivamente dedicado ao cuidado da pessoa com doença oncológica. Técnica de amostragem não-probabilística, de conveniência. Os dados serão colhidos através de um questionário composto por duas partes: características sociodemográficas e profissionais, e Escala de Perceção Individual da Carga de Trabalho dos Enfermeiros.
Resultados esperados: Considerando que a CT está diretamente relacionada com a qualidade e segurança dos cuidados prestados, poderão ser identificadas oportunidades de intervenção para o enfermeiro gestor minimizar o impacto negativo nos enfermeiros liderados diminuindo a sua exposição aos riscos psicossociais.
- Analisar a perceção da carga de trabalho percecionada pelos enfermeiros que exercem a sua atividade assistencial num hospital exclusivamente dedicado ao cuidado da pessoa
com doença oncológica;
- Analisar a relação entre a carga de trabalho e as variáveis sociodemográficas e profissionais dos participantes.
A escolha desta temática provém do interesse pessoal da investigadora principal e do possível contributo, para a prática de enfermagem no contexto de cuidados à pessoa em situação oncológica, por forma a serem prestados cuidados com maior qualidade e segurança.
Não está previsto o envolvimento do cidadão na equipa de investigação.
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30/09/2025
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Care Systems, Organization, Models, and Technology