O reconhecimento da ocorrência de erros com consequências negativas para os utentes e para as instituições de saúde, deu origem a nomeação de comissões pela Organização Mundial de Saúde, que equacionou como focos de investigação prioritários a comunicação, a coordenação e a cultura de segurança do doente (World Health Organizacion,2007).
A Organização Mundial de Saúde e o Conselho da União Europeia consideram que a primeira fase para o desenvolvimento da cultura de segurança, consiste na avaliação da atual cultura de segurança do doente, como condição fundamental para a introdução de mudanças nos comportamentos dos profissionais e nas organizações, porque continuam ainda a ocorrer incidentes na prática dos cuidados (Portugal, Ministério da Saúde, Direção Geral da Saúde, 2013; European Comission, 2014).
The Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations constatou que 65% dos eventos estão associados a falhas de comunicação (Fay-Hillier, Regan, & Gallagher Gordon, 2012). As lacunas na comunicação entre profissionais de enfermagem e utentes conduz a quebras na continuidade dos serviços prestados, a procedimentos inadequados ou pouco eficazes, com efeitos negativos para o doente.
Uma das recomendações anotadas no relatório de avaliação da cultura de segurança na dimensão “abertura na comunicação” é sensibilização sobre a importância da comunicação, trabalho em equipa, liderança e o desenvolvimento de competências/técnicas de comunicação dentro das equipas e o desenvolvimento de competências/técnicas de comunicação entre profissionais de saúde e doentes (Direção Geral de Saúde, 2015).É premente aprender habilidades nas áreas de comunicação, gestão de conflito, relacionamentos interpessoais para melhorar as experiências de trabalho, aumentar a produtividade, a capacitação pessoal e a satisfação dos profissionais (Wittenberg-Lyles, Goldsmith, Richardson, Hallett & Clark, 2013).
Face a esta problemática a presente investigação visa: identificar os fatores determinantes na cultura de segurança do utente, analisar os fatores que intervêm nas competências de comunicação em enfermagem, analisar a relação entre as competências de comunicação em enfermagem e a cultura de segurança do utente, validar duas escala de competências comunicacionais em enfermagem (comunicação intra e interpessoal e comunicação em equipas de saúde) e construir um programa de intervenção em competências comunicacionais em enfermagem e de promoção da cultura de segurança do utente.
Propomo-nos enveredar por um estudo não-experimental, exploratório, transversal do tipo correlacional, utilizando metodologias quantitativas e qualitativas. O questionário já foi aplicado aos Enfermeiros do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, constituído por três partes: primeira parte a caraterização sociodemográfica dos enfermeiros, na segunda parte o questionário de avaliação da cultura de segurança do doente validado pela Professora Doutora Margarida Eiras em 2018, a terceira parte correspondente ao inventário de competências relacionais em Enfermagem, que conjuga uma escala de Competências de Comunicação Clinica para Enfermeiros, validada por Ferreira, Silva e Duarte em 2016 e duas escalas construídas para este estudo – escala de comunicação intra e interpessoal e escala de comunicação em equipas de cuidados de saúde que estão a ser validadas no momento. Posteriormente iremos recorrer ao método focus group com o objetivo de aprofundar os dados obtidos com a investigação quantitativa, construindo um guião de entrevista do grupo focal.
Pretendemos através deste estudo proporcionar contributos para o avanço do conhecimento científico da enfermagem através da identificação dos fatores determinantes na cultura de segurança do doente e dos fatores que intervêm nas competências de comunicação em enfermagem. Esperamos a partir dos dados obtidos e de acordo com as necessidades dos profissionais de enfermagem e especificidades institucionais proceder à construção de um programa de intervenção em competências comunicacionais em enfermagem e de promoção da cultura de segurança do utente.
Investigar as dimensões comunicacionais envolvidas na prática de Enfermagem pode representar um caminho para estimular práticas e atitudes promotoras da cultura de segurança, comprometendo os profissionais de Enfermagem na melhoria contínua da qualidade dos cuidados prestados.
01/01/2015
Em desenvolvimento
Care Systems, Organization, Models, and Technology