O termo CS difundiu-se a partir do acidente nuclear de Chernobyl em 1986, cuja principal causa foi atribuída a uma CS “fraca” (International Safety Advisory Group, 1991). A CS é o produto de valores, atitudes, perceções, competências e padrões de comportamento individuais e de grupo que determinam o compromisso, o estilo e a proficiência da gestão da saúde e da CS (Agency for Healthcare Research and Quality, 2013). O interesse crescente pela SD nas duas últimas décadas levou ao desenvolvimento de vários instrumentos de avaliação da CS nos cuidados de saúde. Com estes, prevê-se a introdução de mudanças nos comportamentos dos profissionais e organizações, e alcançar melhores níveis de SD e de qualidade dos cuidados. Em Portugal, o Departamento da Qualidade na Saúde da Direção Geral da Saúde (DGS) publicou, anteriormente, normas que fomentam uma CS, nomeadamente, a Norma nº 02/2013 - Cirurgia Segura. Esta teve como objetivo melhorar a CS intraoperatória, ao reduzir o número de EA (complicações cirúrgicas ou mortes), fomentar a operacionalização de práticas seguras, promover a comunicação e trabalho em equipa (DGS, 2014). Assim, foi identificado um conjunto de normas de segurança cirúrgica, compiladas na "Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica", a serem utilizadas no BO. Tornou-se obrigatória a implementação do projeto "Cirurgia Segura Salva-Vidas", através desta Norma, em todos os BO do Serviço Nacional de Saúde e das entidades por ele contratadas. Os desafios para SD em contexto intraoperatório são de natureza diversa, onde se destacam a prevenção de: infeção do local cirúrgico, hemorragia, tromboembolismo, hipotermia, úlceras de pressão (UP), quedas, retenção inadvertida de dispositivos médicos, erros de medicação, cirurgia errada (lado, doente ou procedimento cirúrgico). Esta complexidade exige uma gestão de risco rigorosa de todos os fatores que podem comprometer a SD (Mota et al., 2021), sendo que, a OMS reconhece que o contexto intraoperatório, pelas suas particularidades, constitui um ambiente de alto risco para a ocorrência de erros de medicação (World Health Organization, 2009). O facto de a maioria das prescrições ser realizada de forma verbal, de raramente ocorrer a validação da prescrição por parte dos serviços farmacêuticos, da administração poder ser realizada por vários profissionais e do acesso à mesma ser realizado através de um stock disponível no BO, representam desafios à CS. A dosagem incorreta tem sido o erro de medicação mais comum no BO, seguidos dos erros de omissão (Boytim & Ulrich, 2018). Os erros na prestação de cuidados podem manifestar-se de duas formas: comissão (executa de forma errada a ação planeada) e omissão (não se consegue executar a ação certa) (Lima et al., 2022). O fenómeno das IEO aborda um erro de omissão, ou seja, intervenções regularmente não realizadas por completo ou significativamente adiadas (Kalisch et al., 2009). Constata-se que os cuidados básicos e os relacionados com intervenções autónomas do enfermeiro são onde se verificam mais IEO (Jones et al., 2015b). Estudos indicaram que a frequência de IEO se deviam a: escassez de recursos materiais, aumento inesperado do volume de trabalho (Chapman et al., 2017; Palese et al., 2017; Winsett et al., 2016), má comunicação (McMullen et al., 2017), indisponibilidade de fármacos e dotação não segura (Cho et al., 2016; Winsett et al., 2016).
No contexto intraoperatório, para além dos erros de medicação, destacam-se as seguintes áreas onde podem ocorrer IEO:
• Monitorização sistematizada do risco de desenvolvimento de UP, (Mota et al., 2021);
• Alocação de dispositivos médicos para prevenção de UP, garantindo a sua disponibilidade, limpeza, integridade e funcionalidade, respeitando instruções do fabricante (Mota et al., 2021);
• Monitorização do risco de queda
A diferença entre os cuidados de enfermagem prestados no BO e nas unidades de internamento justificou o desenvolvimento de um inquérito MISSCARE adequado em 2021 - MISSCARE Survey Operating Room (OR).
A Cultura de Segurança (CS) e a Qualidade dos Cuidados de Enfermagem são áreas fundamentais para garantir o bem-estar e a Segurança do Doente (SD) intraoperatório. O contexto intraoperatório envolve um ambiente altamente especializado e organizado, onde uma equipa multiprofissional presta cuidados a doentes críticos de maneira rápida e eficaz (Nwosu et al., 2022). No Bloco Operatório (BO) ocorrem intervenções complexas, variáveis e incertas, realizadas sob pressão e stresse. Desenvolver uma forte CS no BO é um processo multifacetado, envolve competências individuais e práticas organizacionais (Pasquer et al., 2024). Apesar da ligação estabelecida entre o nível de SD e as consequências para os doentes em contexto hospitalar, a CS no BO não tem recebido uma atenção significativa (Nwosu et al., 2022). A compreensão da relação entre a CS organizacional e as Intervenções de Enfermagem Omissas (IEO) em BO no contexto dos hospitais portugueses ainda não foi explorada. Pretende-se preencher esta lacuna e, simultaneamente, contribuir para a promoção de cuidados perioperatórios mais seguros, promovendo um sistema de saúde como um todo, reduzindo os custos e melhorando a qualidade dos cuidados.
Objetivo geral: Identificar a relação entre a Cultura de Segurança e a ocorrência de Intervenções de Enfermagem Omissas no Doente Intraoperatório de hospitais públicos e privados da região centro de Portugal.
Objetivos específicos:
• Traduzir, adaptar culturalmente e validar para a população portuguesa de Enfermeiros de Bloco Operatório o MISSCARE Survey OR;
• Estudar a relação entre os cuidados perioperatórios omissos e incidentes no âmbito da segurança da pessoa em situação perioperatória;
• Analisar a relação entre as intervenções de enfermagem omissas no perioperatório e as características socioprofissionais dos enfermeiros de BO;
• Desenvolver um guia de boas práticas para os Enfermeiros do BO acerca da CS e a sua influência na ocorrência de IEO, nas práticas de enfermagem.
O MISSCARE Survey OR passarão por um processo de adaptação cultural e tradução conforme indicações da Organização Mundial da Saúde (World Health Organization, 2017).
Construção de um guia de boas práticas para os Enfermeiros do BO acerca da CS e a sua influência na ocorrência de IEO, nas práticas de enfermagem tendo em vista a melhoria da qualidade de cuidados.
Ao estudar e divulgar os resultados obtidos, pretende-se contribuir para o desenvolvimento da Enfermagem enquanto ciência e profissão, melhorando a qualidade do exercício profissional do enfermeiro que presta cuidados ao doente no intraoperatório.
Não aplicávelBoytim, J., & Ulrich, B. (2018). Factors contributing to perioperative medication errors: A systematic literature review. AORN Journal, 107(1), 91–107. https://doi.org/10.1002/aorn.12005
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25/02/2025
29/07/2027
Professional practices and safe care environments
Care Systems, Organization, Models, and Technology