A transição para o Autocuidado Terapêutico em pessoas com diabetes mellitus (Tese de Doutoramento)

Portugal apresenta uma das mais elevadas prevalências de diabetes mellitus tipo 2 (DM2) da Europa (International Diabetes Federation, 2015). Por este motivo, vários esforços tem sido encetados para inverter a tendência do crescimento da diabetes e das suas complicações e aumentar os ganhos de saúde. Esta tem sido também uma preocupação do governo português. No seu programa para a saúde, estabelece como prioridade promover a saúde através da criação de um Programa Nacional para a Saúde, Literacia e Autocuidados, que entre outras preocupações, se centra na prevenção da diabetes, apoio aos cuidadores domiciliários, na promoção do envelhecimento saudável e na utilização racional e segura do medicamento.

Este documento traduz a preocupação do governo com os baixos níveis de literacia em saúde em Portugal. A literacia em saúde, entendida como a capacidade para tomar decisões informadas sobre a saúde, na vida de todos os dias, e também naquilo que diz respeito ao desenvolvimento do Sistema de Saúde, constitui a referência nuclear do Programa Nacional de Educação para a Saúde, Literacia e Autocuidados. Tem como visão reforçar o papel do cidadão no sistema de saúde português e fazer da informação, do conhecimento e da decisão informada veículos privilegiados desse reforço. Considera também que a literacia e o autocuidado são de grande importância não só para a promoção e proteção da saúde da população, mas também para a efetividade e eficiência da prestação de cuidados de saúde, constituindo, por isso, um fator crítico para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde.

A literatura consultada permitiu-nos concluir que os resultados de autocuidado terapêutico das pessoas com DM2 são ainda incipientes e não se aproximam ao desejado. Sendo o autocuidado um processo de tomada de decisões concretizada pelas pessoas, familiares e comunidades e que depende dos aspetos socioculturais locais, é particularmente relevante no contexto dos cuidados de saúde primários. A capacidade de autocuidado terapêutico depende do conhecimento e da capacidade das pessoas de desenvolverem e se envolverem em atividades de autocuidado. A sua avaliação na prática clínica é fundamental, e para isso, são necessárias medidas validas.

Reconhecemos que, no contexto nacional, não existem instrumentos que permitam a sua avaliação, quer para as pessoas com doenças crónicas, quer agudas, depois do regresso a casa. O entorno dos cuidados de enfermagem é a melhoria da capacidade das pessoas e suas famílias para gerirem a condição de saúde no seu contexto natural. Mas, a inexistência de instrumentos de avaliação do autocuidado terapêutico válidos e fiáveis para o contexto nacional pode ser um fator restritivo para a prática clínica, por limitar a oportunidade de avaliar as capacidades das pessoas, de individualizar intervenções dirigidas às suas reais necessidades, bem como a avaliação da efetividade das intervenções de enfermagem. Concluímos também sobre a insuficiência de informação sobre os fatores que influenciam a aquisição do autocuidado terapêutico nas pessoas com DM2, sendo este um resultado sensível aos cuidados de enfermagem.

A literatura indica que as relações colaborativas entre os enfermeiros e as pessoas com DM2 são determinantes para resultados positivos em saúde. E este é um dos fatores que mais contribui para a melhoria de comportamentos de autocuidado. Também não identificámos estudos que pusessem em evidência a experiência das pessoas com DM2 com o apoio profissional dos enfer­meiros e a perceção da sua utilidade para o desenvolvimento de capacidades para o autocuidado.

A este propósito, e em alinhamento com as preocupações políticas de promoção do autocuidado e literacia em saúde, entendemos ser pertinente e oportuno contribuir para a provisão de instrumentos de medida do autocuidado terapêutico para pessoas com doença aguda e crónica (DM2); identificar preditores da aquisição do autocuidado terapêutico em pessoas com DM2 e compreender a experiência das pessoas com DM2 com o apoio profissional dos enfermeiros e a sua utilidade percebida no desenvolvimento de comportamentos de autocuidado terapêutico.

Descrição dos objetivos gerais

    Traduzir e concretizar a adaptação cultural da Therapeutic Self-care Scale para a população portuguesa;            Avaliar as caraterísticas psicométricas do Therapeutic Self-care Scale para a população Portuguesa. Construir um instrumento de avaliação da perceção do apoio profissional dos enfermeiros para aplicar numa amostra de pessoas com DM2. Avaliar as caraterísticas psicométricas da Escala de ACT numa amostra de pessoas com DM2; Avaliar características psicométricas do instrumento de avaliação da perceção do apoio profissional dos enfermeiros numa amostra de pessoas com DM2. Identificar preditores do autocuidado terapêutico, QdVRS, capacidade funcional e apoio profissional dos enfermeiros em pessoas com DM2, através de um modelo de estrutura-processo-resultado. Conhecer a experiência das pessoas com DM2 com o apoio profissional dos enfermeiros na capacitação para o autocuidado terapêutico e a sua utilidade percebida.

Informação do projeto

  • Data de início

    01/01/2010

  • Data de conclusão

    01/01/2019

  • Linha Temática

    Care Systems, Organization, Models, and Technology

  • Target population
    • Pessoas com diabetes mellitus tipo 2
  • Equipa
    • Ana Filipa dos Reis Marques Cardoso RI
    • Paulo Joaquim Pina Queirós
    • Carlos Alberto Fontes Ribeiro