A ostomia de eliminação intestinal é uma comunicação entre o organismo e o meio externo, estabelecida por meio de procedimentos cirúrgicos com finalidade terapêutica, podendo ser classificada como colostomia ou ileostomia, dependendo da localização anatómica (SOBEST, 2020). Para que esse processo ocorra de maneira segura e com o menor impacto possível na vida da pessoa, o uso adequado do equipamento coletor torna-se essencial. A aderência correta do dispositivo é um dos principais fatores na prevenção de complicações cutâneas periestomais, que podem impactar significativamente a qualidade de vida da pessoa com ostomia intestinal.
Rolfsen et al., (2024) destacam que fatores como sudorese excessiva, presença de dobras cutâneas, sobrepeso, obesidade e mobilidade reduzida prejudicam a aderência dos dispositivos.
D'Ambrosio et al., (2022) indicam incidência de 36,3% a 73,4% de complicação cutânea na região periestomal, frequentemente associada a vazamentos causados por dificuldades de aderência do equipamento. Essas complicações incluem dermatites, infecções, lesões por fricção e ulcerações, estenoses, granulomas, prurido e ardor com sérios prejuízos à pessoa e consequentemente ao sistema de saúde (FELLOWS et al., 2023).
A demarcação do estoma, seleção do equipamento e associação de adjuvantes como uso de cinto, placas moldáveis e produtos de barreira (e.g., sprays, pó e pastas) têm sido adotadas para otimizar a aderência do equipamento e prevenção dessas intercorrências (BRASIL, 2021; CROSS, 2023; MCNICHOL et al., 2021).
Dessa forma, a qualidade da barreira adesiva é um fator determinante. Materiais tecnologicamente avançados com propriedades de absorção de humidade têm sido cada vez mais utilizados para promover uma vedação eficaz e prolongada (COSMAN; GUILLOU; COSMAN, 2021) com bases côncavas ou convexas para favorecerem a adaptação ao perfil abdominal de cada paciente (ZAMARRIPA et al., 2024).
Ferramentas como o Ostomy Skin Tool 2.0 (MARTINS et al., 2022) têm sido empregadas para padronizar essa avaliação clínica, permitindo uma abordagem mais individualizada e eficaz dos cuidados.
Um estudo britânico apontou 200 participantes com ostomias intestinais com complicações como alto débito (35,0%), sangramento (23,5%), dificuldades na manipulação do estoma (50,0%) e problemas cutâneos relacionados a vazamento (48,5%) no primeiro ano após cirurgia com tempo médio de internamento de 13 dias e 12 contatos ambulatoriais e um custo anual de £ 20.444,60 (EU 24.275,30) por indivíduo; onde 90,5% desses custos foram atribuídos a fatores relacionados à ostomia.
Wang et al., (2024) investigaram os efeitos de equipamentos coletores de ostomia personalizados, impressos em 3D com sensores inteligentes, na melhoria dos cuidados em pessoas com estomas. Os resultados mostraram que o grupo com equipamento personalizado teve: tempo de aplicação de equipamento coletor significativamente menor; taxa de vazamento de 1,75% contra 16,1% no grupo de controle; e também, menores escores de complicações periestomais e melhor aceitação da situação. Estes resultados sugerem que equipamentos coletores personalizados e inteligentes podem melhorar significativamente a eficiência e a qualidade do cuidado com estomas no domicílio, reduzindo complicações cutâneas e aumentando a satisfação da pessoa.
A utilização da impressão 3D de acordo com Cosman et al (2021) facilita a adaptação personalizada e pode ser útil para pessoas com ostomia com destreza prejudicada.
Apesar dos avanços tecnológicos, o descolamento da base adesiva do equipamento coletor continua a ser um desafio clínico, com resultados de investigação evidenciando que a aderência adequada do dispositivo tem melhoria significativa na qualidade de vida (SUN et al., 2020; SILVA et al., 2022; ROLFSEN et al., 2024).
Assim, é objetivo deste estudo desenvolver um algoritmo, baseado em evidências científicas e nas necessidades e requisitos relatados por pessoas com estomas intestinais de eliminação e profissionais da saúde, que oriente e apoie a tomada de decisão na seleção personalizada do equipamento para promover a melhor aderência.
O projeto propõe a identificação e validação empírica de variáveis relevantes para o desenvolvimento futuro de uma tecnologia de cuidado baseada em um algoritmo digital, com o objetivo de promover a aderência de equipamentos coletores em pessoas com ostomias de eliminação intestinal. A ostomia, geralmente necessária após doenças como cancro ou trauma, tem um impacto significativo na qualidade de vida, afetando a autoestima, imagem corporal, vida sexual e relações sociais. As dificuldades na aderência dos dispositivos coletores podem estar na origem de lesões periestomais, dor, desconforto e problemas psicológicos. A proposta visa contribuir para a construção de uma solução que respeite a individualidade da pessoa, considerando por exemplo o biotipo, comorbilidades e contexto social. Pretende ainda ser um contributo para a redução dos custos em saúde, minimizando a probabilidade de ocorrência de complicações e otimizando o trabalho dos profissionais. A iniciativa reforça o papel da enfermagem como ciência do cuidado integral, centrada nas necessidades reais da pessoa com ostomia de eliminação intestinal.
- Caracterizar o perfil clínico e socio-demográfico de pessoas com ostomia de eliminação intestinals atendidas num hospital público especializado
- Analisar os fatores que influenciam a aderência do equipamento coletor na perceção dos profissionais e das pessoas com ostomias intestinais
- Desenvolver uma tecnologia de cuidado identificada como algoritmo em plataforma digital para uso de um equipamento coletor adequado em pessoas com estomias de eliminação complicada
Conciliar a percepção dos profissionais e da pessoa com ostomia para facilitar a aderência do equipamento coletor. Estimular a participação ativa da pessoa com ostomia intestinal e cuidadores, por meio de estratégias de envolvimento e autocuidado referente à melhoria da aderência do equipamento coletor e minimização de complicações periestomais. Criar um impacto favorável para a pessoa com ostomia intestinal a partir do desenvolvimento de um algoritmo que oriente a decisão na seleção do melhor equipamento para a melhor aderência do dispositivo coletor.
Não aplicávelBENNER, Patricia. De iniciado a perito: excelência e poder na prática de enfermagem. Coimbra: Quarteto, 2001.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Especializada em Saúde. Departamento de Atenção Especializada e Temática. Guia de atenção à saúde da pessoa com estomia. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2021. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_atencao_saude_pessoa_estomia.pdf. Acesso em: 2 abr. 2025.
COSMAN, I. E.; GUILLOU, D. T.; COSMAN, B. C. 3D-printed ostomy flange stabilizer. Journal of Wound Ostomy and Continence Nursing, v. 48, n. 2, p. 169–170, mar./abr. 2021. DOI: 10.1097/WON.0000000000000737.
CROSS, H. L. Ostomy management: principles and practice. Wound Care Journal, v. 32, n. 3, p. 52–60, 2023.
FELLOWS, J. et al. Multinational survey on living with an ostomy: prevalence and impact of peristomal skin complications. British Journal of Nursing, v. 30, n. 16, p. S22–S30, 2021. DOI: 10.12968/bjon.2021.30.16.S22.
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ZHANG, L. et al. Incidência e fatores de risco para complicações cutâneas periestomais em pacientes com estomia intestinal: revisão sistemática. Journal of Wound Ostomy and Continence Nursing, v. 51, n. 2, p. 123–130, 2024.
10/03/2025
10/03/2026
Inovação em Tecnologias dos Cuidados de Saúde: Estudo e desenvolvimento de soluções inovadoras
Care Systems, Organization, Models, and Technology