As Perceções de Líderes Formais de Enfermagem acerca da Prática Baseada na Evidência

A Prática Baseada na Evidência (PBE), no decorrer da década de 90, ganhou destaque nos cuidados de saúde, devido à necessidade de os profissionais de saúde utilizarem de forma consciente, explícita e criteriosa as melhores evidências aquando da sua tomada de decisão (Melnyk & Newhouse, 2014; Nevo & Slonim-Nevo, 2011).
A PBE é definida como a tomada de decisão clínica informada pela melhor evidência disponível, tendo em consideração o contexto, a preferência da pessoa cuidada e o juízo clínico do profissional de saúde (Pearson et al., 2005). Também, de acordo com o International Council of Nurses (2012), a PBE em enfermagem é caraterizada como uma abordagem à resolução de problemas através da consideração dos pressupostos anteriormente descritos.
Em 2006, a Ordem dos Enfermeiros afirmou que a PBE é fundamental para a excelência dos cuidados de enfermagem, para a segurança da pessoa cuidada, bem como para a promoção de melhores resultados em saúde sensíveis aos cuidados de enfermagem. Assim, a implementação da PBE nas organizações de saúde torna-se cada vez mais importante, uma vez que promove os cuidados de saúde com elevado valor, melhora a experiência da pessoa cuidada e os resultados em saúde, e diminui os custos em saúde (Melnyk et al., 2014).
Contudo, a implementação da PBE nas organizações de saúde é considerada um desafio, em particular para os enfermeiros dos três níveis de gestão (enfermeiros gestores, enfermeiros gestores com funções de direção e enfermeiros diretores, segundo a carreira de enfermagem descrita no Diário da República, 1.ª série, N.º 101, de 27 de maio de 2019, ou categoria/cargo equivalente no contexto privado), uma vez que estes desempenham um papel de liderança formal e devem atuar como facilitadores/promotores da mudança, da transformação dos contextos, da motivação dos enfermeiros da equipa, e consequentemente da implementação da PBE (Clavijo-Chamorro et al., 2021).
A liderança é reconhecida como uma caraterística fundamental para a implementação da PBE, caraterizando-se por um processo multidimensional, onde se perspetiva a influência do líder sobre os profissionais de saúde (Stetler et al., 2014). Comportamentos de liderança formal foram considerados importantes para apoiar e implementar a PBE, através da promoção da consciencialização dos clínicos referente aos contributos da PBE, das respostas positivas à mudança organizacional, e da aceitação de inovações (Stetler et al., 2014; Shuman et al., 2018).
No entanto, em Portugal não existe ainda nenhum estudo desenvolvido sobre as perceções de líderes formais de enfermagem (enfermeiros gestores, enfermeiros gestores com funções de direção e enfermeiros diretores) sobre a PBE e as ações que empreendem para a implementar e sustentar. Posto isto, torna-se essencial a realização de um estudo primário que dê resposta a este objetivo, especificamente, em instituições de cuidados de saúde portuguesas. Conhecer as perceções dos líderes formais de enfermagem irá permitir identificar barreiras à implementação da PBE e, consequentemente, definir estratégias para as ultrapassar, incluindo a possível necessidade de planeamento de intervenções educativas junto dos líderes formais e dos enfermeiros das equipas para promover os benefícios da implementação da PBE nas instituições de cuidados de saúde portuguesas.



A liderança tem sido descrita na literatura como um aspeto facilitador ou uma barreira à implementação e sustentação da Prática Baseada na Evidência (PBE). De facto, os comportamentos de liderança formal são cruciais para a implementação da PBE, através da promoção da consciencialização dos profissionais de saúde relativamente aos contributos da PBE, das respostas positivas à mudança organizacional, e da aceitação de inovações. No entanto, a implementação da PBE nas instituições de cuidados de saúde é, ainda, considerada um desafio. Conhecer as perceções dos líderes acerca desta área é um passo fundamental para melhor conhecer os contextos e promover ações que facilitem a integração da PBE nos
contextos da prática clínica. Em Portugal não existe até ao momento nenhum estudo desenvolvido sobre as perceções de líderes formais de enfermagem (enfermeiros gestores, enfermeiros gestores com funções de direção e enfermeiros diretores) sobre a PBE e as ações que empreendem para a implementar e sustentar. Torna-se, por isso, relevante realizar o estudo aqui proposto uma vez que permitirá identificar as barreiras à implementação da PBE e, consequentemente, definir estratégias para as ultrapassar, incluindo a possível necessidade de planeamento de intervenções educativas junto dos líderes formais e dos enfermeiros das equipas para promover os benefícios da implementação da PBE nas instituições de cuidados de saúde portuguesas.


Pretende-se com este estudo conhecer as perceções dos líderes formais de enfermagem sobre a PBE, contribuindo assim para uma melhor compreensão e conhecimento da implementação da PBE nas instituições de saúde portuguesas. Sendo que os líderes têm sido reconhecidos como um facilitador ou uma barreira à implementação da PBE é necessária a compreensão da sua visão acerca desta área. Em Portugal, desconhecendo-se estudos neste âmbito, torna-se essencial esta aposta não apenas para conhecer as perceções dos líderes formais de enfermagem sobre a PBE, mas também para planear de futuro outros estudos e ações que promovam a integração da PBE nos contextos da prática clínica envolvendo os líderes formais de enfermagem.

  • Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
  • CHUC
  • Hospital de Cantanhede – Arcebispo João Crisóstomo
  • Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil - Centro Regional de Oncologia de Coimbra
  • JBC
  • Bardin, L. (2013). Análise de conteúdo (3ª ed.). Lisboa, Portugal: Edições

    Clavijo-Chamorro, M. Z., Romero-Zarallo, G., Gómez-Luque, A., López-Espuela, F., Sanz-Martos, S., & López-Medina, I. M. (2021). Leadership as a Facilitator of Evidence Implementation by Nurse Managers: A Metasynthesis. Western Journal of Nursing Research, 1-15. https://doi.org/10.1177/01939459211004905

    Decreto-Lei n.º 71/2019 de 27 de maio. Diário da República n.º 101 - I série. Assembleia da República. Lisboa, Portugal.
    International Council of Nurses. (2012). Closing the gap: From evidence to action. http://www.icn.ch/publications/2012-closing-the-gap-from-evidence-to-action/

    Melnyk, B. M., & Newhouse, R. (2014). Evidence-based practice versus evidence-informed practice: a debate that could stall forward momentum in improving healthcare quality, safety, patient outcomes, and costs. Worldviews on Evidence-Based Nursing, 11(6), 347-349.
    https://doi.org/10.1111/wvn.12070

    Melnyk, B. M., Gallagher‐Ford, L., Long, L. E., & Fineout‐Overholt, E. (2014). The establishment of evidence‐based practice competencies for practicing registered nurses and advanced practice nurses in real‐world clinical settings: proficiencies to improve healthcare quality,
    reliability, patient outcomes, and costs. Worldviews on Evidence-Based Nursing, 11(1), 5-15. https://doi.org/10.1111/wvn.12021

    Nevo, I., & Slonim-Nevo, V. (2011). The Myth of Evidence-Based Practice: Towards EvidenceInformed Practice. British Journal of Social Work, 41(6), 1176– 1197. https://doi.org/10.1093/bjsw/bcq149

    Ordem dos Enfermeiros. (2006). Tomada de Posição sobre Investigação em Enfermagem. http://www.ordemenfermeiros.pt/tomadasposicao/Documents/TomadaPosicao_26Abr2006.pdf

    Pearson, A., Wiechula, R., Court, A., & Lockwood, C. (2005). The JBI model of evidence‐based healthcare. International Journal of Evidence-Based Healthcare, 3(8), 207-215. https://doi.org/10.1111/j.1479-6988.2005.00026.x

    Shuman, C. J., Liu, X., Aebersold, M. L., Tschannen, D., Banaszak-Holl, J., & Titler, M. G. (2018). Associations among unit leadership and unit climates for implementation in acute care: a cross- sectional study. Implementation Science, 13(1), 1-10. https://doi.org/10.1186/s13012-
    018- 0753-6

    Stetler, C. B., Ritchie, J. A., Rycroft‐Malone, J., & Charns, M. P. (2014). Leadership for evidencebased practice: strategic and functional behaviors for institutionalizing EBP. Worldviews on Evidence‐Based Nursing, 11(4), 219-226. https://doi.org/10.1111/wvn.12044

    Informação do projeto

    • Data de início

      01/01/2021

    • Data de conclusão

      01/01/2022

    • Linha Temática

      Care Systems, Organization, Models, and Technology

    • Palavras-chave
      • :Prática Clínica Baseada em Evidências
      • Liderança
      • Gestor de Saúde
      • Pesquisa Qualitativa
    • Áreas prioritárias
      • Segurança do doente e efetividade dos cuidados
    • Equipa
      • Diana Gabriela Simões Marques Santos RI
      • António Fernando Salgueiro Amaral
      • Daniela Filipa Batista Cardoso
      • Ana Filipa dos Reis Marques Cardoso