As alterações sociodemográficas e epidemiológicas, decorrentes do envelhecimento e do aumento de doenças crónicas, condicionam novas necessidades e desafios na oferta de cuidados de saúde e na prática de cuidados de enfermagem (Lima, 2023; Lopes, 2021). Tal é particularmente relevante em Portugal, sendo um dos países mais envelhecidos e com maior prevalência de doenças crónicas da Europa (Eurostat, 2025)
Neste contexto, torna-se imperativo adotar modelos de cuidados ajustados às necessidades da população, emergindo os cuidados em contexto domiciliário como resposta para assegurar cuidados de forma continuada e personalizada (Lopes, 2021; WHO, 2016). Os cuidados à pessoa e família em contexto domiciliário têm como finalidade promover, manter ou recuperar a saúde, visando a autonomia, a independência, o bem-estar e conforto (Alves Gago & Lopes, 2012). Porém, e não obstante os inúmeros benefícios, os cuidados em casa encerram, também, desafios, não só para os profissionais de saúde, mas, de modo particular, para as famílias (Bento, 2020).
A vivência de transições de saúde/doença condiciona alterações múltiplas na dinâmica familiar, induzindo imprevisibilidade, incerteza e, muitas vezes, sobrecarga. Nestes contextos, frequentemente, um (ou mais) membro da família assume o papel de cuidador, condicionando alterações significativas na sua vida quotidiana e no exercício dos diferentes papéis (Meleis et al., 2010; Santos et al., 2021).
O papel de cuidador é um papel exigente, principalmente em situações de dependência ou de necessidade de manuseamento de dispositivos médicos complexos, frequentemente utilizados, por exemplo, em hospitalização domiciliária, de forma transitória ou permanente (Chan, 2022). Uma proporção significativa de cuidados é composta por pessoas idosas, muitas com mais de 80 anos, ou seja, idosos a cuidar de idosos, constituindo, por isso, uma dupla vulnerabilidade (Bento et al., 2021; Bernardino & Rodrigues, 2025).
A evidência científica tende a correlacionar o envelhecimento com o declínio progressivo das capacidades físicas e cognitivas, comprometendo a autonomia das pessoas para o autocuidado ou o cuidado a familiares em situação de dependência (Advinha et al., 2021; Bento et al., 2021). Por outro lado, os cuidadores, particularmente os idosos, tendem a apresentar elevada sobrecarga, bem como défices de conhecimento e competências para dar resposta às necessidades da pessoa dependente (Bernardino & Rodrigues, 2025).
A gestão do regime medicamentoso encerra-se como um dos cuidados que as pessoas idosas e/ou os seus cuidadores familiares idosos têm de realizar e para os quais podem não ter capacidade (Bento et al., 2021). A idade (Advinha et al, 2017; Bento et al., 2021), a capacidade cognitiva e o nível de escolaridade são fatores determinantes da gestão do regime medicamento (Advinha, 2017).
Neste contexto, é essencial avaliar a capacidade do cuidador idoso, para identificar precocemente necessidades que possam comprometer a gestão do regime medicamentoso.
As atuais alterações sociodemográficas e epidemiológicas, condicionam desafios nos cuidados, assistindo-se, frequentemente, a idosos a cuidar de idosos. Com o envelhecimento, a perda progressiva de capacidades essenciais para a gestão eficaz do regime medicamentoso revela-se um fator determinante na adesão ao mesmo.
Em contexto de hospitalização domiciliária, esta realidade é particularmente relevante, pois a adequada gestão e adesão ao regime medicamentoso são determinantes do sucesso do tratamento e recuperação da pessoa internada. Neste cenário, o cuidador informal, frequentemente também idoso, assume um papel essencial, sendo, muitas vezes responsável pela administração da terapêutica. Assim, importa centrar os cuidados de enfermagem também nas necessidades do cuidador informal, promovendo o conhecimento e a capacitação para o desenvolvimento das competências necessárias à gestão do regime medicamentoso, visando identificar as necessidades e dificuldades que impactam significativamente a díade pessoa-cuidador, de forma a melhorar a segurança e a qualidade dos cuidados.
Neste enquadramento, e dada a escassez de evidência científica sobre a capacidade dos cuidadores informais idosos para a gestão de regime terapêutico, particularmente em contexto de hospitalização domiciliária, considera-se de toda a pertinência a investigação nesta área.
Validar um instrumento para avaliação da capacidade dos cuidadores idosos para a gestão do regime medicamentoso, em contexto de hospitalização domiciliária;
Avaliar a capacidade dos cuidadores idosos para a gestão do regime medicamentoso, em contexto de hospitalização domiciliária.
O estudo é particularmente relevante e inovador ao centrar-se na validação de um instrumento de avaliação da capacidade dos cuidadores informais idosos para a gestão do regime medicamentoso, especificamente no contexto da hospitalização domiciliária portuguesa. A adaptação e validação de um instrumento permitirá identificar precocemente a capacidade dos cuidadores informais idosos para a gestão do regime medicamentoso, permitindo a implementação de intervenções de enfermagem ajustadas, por forma a promover a segurança da pessoa doente em contexto de hospitalização domiciliária.
Deste modo, espera-se contribuir para a melhoria contínua das práticas e da qualidade dos cuidados, no âmbito da gestão terapêutica, bem como atender aos desafios do envelhecimento populacional e de doenças crónicas complexas, promovendo a capacitação do cuidador (e sociedade) para responder de forma mais eficaz e humanizada às necessidades de cuidados de pessoas dependentes em contexto domiciliário.
Não aplicávelAdvinha, A. M. (2017). Avaliação da capacidade funcional da população idosa na gestão da sua medicação (Dissertação de Mestrado, Universidade de Lisboa). Universidade de Lisboa.
Bento, M. C. S. da S. C. (2021). Contributos para a definição de um modelo organizacional dos cuidados às pessoas dependentes no autocuidado e seus cuidadores, em contexto domiciliário: Estudo realizado nas ECCI do ACES do Baixo Mondego (Tese de Doutoramento). Universidade Católica Portuguesa. http://hdl.handle.net/10400.14/36381
Bernardino, S. P., & Rodrigues, C. S. (2025). Cuidador (in)formal no envelhecimento em Portugal: Scoping review. RIAGE – Revista Ibero-Americana de Gerontologia, 6, 445–454. https://doi.org/10.61415/riage.270
Chan, S. (2022). Home Hospitalization, an Alternative to Conventional Hospitalization. Internal Medicine, 29(1), 53–56. https://doi.org/10.24950/rspmi.2022.01.288 Eurostat. (2025). Population structure and ageing. Em Eurostat– Statistics Explained. Consultado em [30.07.2025], em https://ec.europa.eu/eurostat/statistics‐explained/index.php?title=Population_structure_and_ageing
Gago, E. A., & Lopes, M. J. (2012). Cuidados domiciliares : interação do enfermeiro com a pessoa idosa/família. Acta Paul Enferm., 25(special issue 1), 74-80.
Lopes, M. J., & Sakellarides, C. (2021). Os cuidados de saúde face aos desafios do nosso tempo: contributos para a gestão da mudança. Universidade de Évora. https://doi.org/10.24902/uevora.21
Meleis, A. I., Sawyer, L. M., Im, E.-O., Messias, D. K. H., & Schumacher, K. (2010). Transitions theory: Middle-range and situation-specific theories in nursing research and practice. Springer Publishing Company.
05/02/2025
05/12/2027
Famílias que integram dependentes no autocuidado: organização e gestão dos cuidados
Care Systems, Organization, Models, and Technology