De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), em 2019, a prevalência padronizada estimada da diabetes diagnosticada na população europeia com idade igual ou superior a 15 anos era cerca de 7%, sendo que Portugal, comparativamente, apresenta uma taxa de 9% ocupando um dos lugares cimeiros da Europa (OCDE, 2022).
Apesar dos investimentos nos e dos Serviços de Saúde na prevenção e controle desta patologia, a epidemiologia da Diabetes apresenta distribuições espaciais distintas (IDF, 2021; OCDE, 2022) com expressão crescente e pandémica, aportando sofrimento e custos significativos, apontando para a necessidade de repensar as práticas clínicas (Funnell & Anderson, 2004).
A Diabetes é uma doença crónica silenciosa, assintomática e não transmissível e, por isso, comporta um risco acrescido de complicações a médio e longo prazo suscetíveis de serem evitadas e retardadas através da adesão ao regime terapêutico (alimentação, exercício físico e terapêutica medicamentosa) (Anderson & Funnell, 2010). Contudo, o controle eficaz da patologia exige o cumprimento dietético (seleção de alimentos, proporções) e medicamentoso (horários, frequências, doses), a monitorização dos níveis de glicemia e a vigilância dos pés, entre outros, suscetíveis de serem percebidos como fatores causadores de stress e condicionantes de várias dimensões da vida quotidiana pública e privada. Nesta medida, a gestão eficaz da diabetes não pode ser assegurada apenas com a supervisão dos profissionais de saúde (IDF, 2021; Alves et al., 2018). Depende, em grande medida, da eficácia dos processos de autogestão e, neste sentido, implica reorientação das práticas clínicas dos
profissionais de saúde, nomeadamente dos enfermeiros (IDF, 2021; Jing et al., 2018; Swiyatoniowska et al., 2019), com a autogestão como enfoque central. A autogestão transcende amplamente a aquisição e aprofundamento de conhecimentos específicos na área da diabetes, passando pela consciência crítica da necessidade de mudança e pela capacidade de as pessoas definirem as suas próprias metas e objetivos (Ferreira et al., 2023). A melhor evidência disponível no âmbito da autogestão (Magtoto, 2023) aponta para um conjunto de medidas que consubstanciaram a delimitação dos (onze) critérios de auditoria definidos pela JBI que, em resultados da sua aplicabilidade em contexto dos Cuidados de Saúde Primários, se restringiram a nove, implicando o envolvimento de utentes, famílias e
enfermeiros, a saber:
•Identificação das pessoas com capacidade de autogestão (Ministry of Health, 2016);
•Necessidades de suporte, estilos de vida, fatores sociais e psicológicos (Dineen-Griffin et al., 2019);
•A autogestão é consensualizada e orientada para o incentivo à monitorização de sinais e sintomas, gestão terapêutica, contratualização de metas e objetivos (Dineen-Griffin et al., 2019);
•Referenciação para recursos externos de apoio e capacitação;
•Coordenação de serviços de apoio e acompanhamento dos utentes (Coulter et al., 2015);
•Negociação e apoio à definição de metas e objetivos verificados e autopercebidos;
•Monitorização da implementação do plano de autogestão com identificação/gestão das barreiras à consecução dos objetivos dos utentes com diabetes tipo 2 (Dineen- Griffin et al., 2019; Ministry of Health, 2016; Coulter et al., 2015);
•Formação específica dos enfermeiros no âmbito da autogestão (Dineen-Griffin et al., 2019; Ministry of Health, 2016; Coulter et al., 2015).
A existência de um plano de autogestão e sua documentação constitui prática de relevo igualmente recomendada pela melhor evidência (Coulter et al., 2015) não passível de ser
aplicada no imediato, mas revestindo-se de um compromisso futuro.
Introdução: Considerando as projeções de saúde 2021-2030, o envelhecimento da população estará associado à maior carga bruta de doença crónica, designadamente a diabetes, enquanto
doença prioritária em Portugal (DGS, 2021). A prevalência da diabetes tipo 2 é elevada, é uma doença silenciosa, com grande impacto em termos de complicações, que podem ser retardadas com a autogestão (Observatório da Diabetes, 2019; IDF, 2022).
Objetivos: Promover a prática clínica baseada na melhor evidência relacionada com a autogestão da diabetes tipo 2 com @s Enfermeir@s de família.
Métodos: O projeto é realizado no Centro de Saúde de Darque, na USF e UCSP. Tem por base o Modelo de Implementação da Evidência da JBI concretizado em 7 fases, incluídas em quatro tarefas. Asseguradas as condições promotoras da mudança e em resultado da análise da melhor evidência, consideraram-se para as auditorias 9 dos 11 critérios recomendados pela JBI no âmbito da gestão da doença crónica.
Resultados: Espera-se que se promova e fortaleça uma cultura centrada no cuidado da pessoa e família com diabetes tipo 2. A ênfase é colocada, muito concretamente, nas práticas clínicas com foco na capacitação para processos de autogestão da doença.
Conclusão: O projeto, norteado por uma metodologia em que se preconiza um desenvolvimento sequencial e sistematizado, assentará numa lógica bottom up e de co-construção enquanto condição estruturante da sua sustentabilidade.
Objetivo Geral:
Promover a Prática Baseada na Evidência (PBE), relacionada com a promoção da autogestão dadiabetes tipo 2 em utentes inscritos nas duas unidades funcionais, USF e UCSP, do Centro de Saúde de Darque;
Objetivos Específicos:
- Avaliar a disponibilidade do contexto para a implementação da mudança e do projeto de intervenção;
- Determinar e analisar a conformidade atual dos cuidados com os critérios baseados em evidências, relativamente à promoção da autogestão da diabetes tipo 2;
- Identificar barreiras à implementação da melhor evidência e facilitadores para a mudança;
- Promover a consciencialização e o conhecimento, da equipa, sobre as melhores práticas a desenvolver nas unidades funcionais, USF e UCSP, do Centro de Saúde de Darque, de acordo com as normas descritas;
- Incrementar a conformidade da prática com a melhor evidência disponível relativa à promoção da autogestão da diabetes tipo 2;
- Reavaliar a conformidade das práticas com a melhor evidência após a implementação das estratégias de facilitação da mudança;
O projeto apresenta-se inovador, particularmente no que diz respeito ao tratamento e acompanhamento de uma das mais prementes questões de saúde pública – a diabetes tipo 2. Ao conciliar a prática clínica baseada na melhor evidência disponível com a formação e envolvimento ativo dos doentes no processo de cuidado, enfatiza a importância da autogestão da doença como estratégia para retardar ou prevenir complicações graves associadas a esta condição crónica. O doente torna-se um agente ativo no controle de sua saúde O impacto desta iniciativa estende-se além dos benefícios clínicos diretos, contribuindo para transformar a sociedade e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Ao capacitar os enfermeiros para aplicarem as melhores práticas baseadas em evidências de envolvimento dos utentes na autogestão da sua condição, espera-se não apenas uma redução nas complicações graves e custos associados à doença, mas também um avanço significativo em direção a um sistema de saúde mais preventivo, personalizado e centrado na pessoa. Este projeto não só alinha com as projeções de saúde para 2021-2030, como também
estabelece um modelo replicável que poderá beneficiar a gestão de outras condições crónicas, contribuindo para modelos de cuidados de saúde mais sustentáveis e eficazes.
Parecer nº 38/2023 – CES da Comissão de Ética para a Saúde da ULSAM, E.P.E.
O envolvimento de stakeholders terá um carater consultivo e colaborativo. O projeto promoverá o envolvimento do cidadão (Enfermeiro(a) e utente) através de parceria entre ambos, estimulando a comunicação aberta e o apoio mútuo. Esta colaboração é essencial para criar um ambiente de cuidados de saúde que valorize a participação ativa do utente na gestão da sua condição.
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30/04/2023
01/05/2025
Care Systems, Organization, Models, and Technology