Co-design para uma saúde digital equitativa

No âmbito da equidade digital identificam-se três condições necessárias para garantir o usufruto dos benefícios decorrentes da transformação digital: i) acesso a infraestruturas digitais e conetividade, ii) competências de literacia digital que permitem uso responsável/consciente de diferentes tecnologias, e iii) motivação para uso alargado destas tecnologias. A pandemia da SARS COV-2 veio acentuar a importância destas premissas, revelando desigualdades que condicionam a confiança, segurança e valor da utilização de tecnologias digitais nos serviços
essenciais, especialmente nos cuidados de saúde.
Assumindo que a saúde digital é um complemento imperativo num serviço de saúde que se queira próximo do cidadão, torna-se importante perceber a forma como a sua universalização responde às necessidades individuais de saúde/doença e como propicia uma relação terapêutica eficaz entre utente e profissional de saúde. O modelo do Cuidado Centrado na Pessoa assenta na ética de Ricoeur de ‘viver a boa vida, com e para os outros, em instituições justas e tem vindo a demonstrar-se como inovador para a sustentabilidade dos serviços de saúde, a par com a satisfação dos utentes e equidade de acesso.
Assentes nas premissas de equidade digital e pelos princípios da centralidade na pessoa, o presente estudo tem como objetivo geral avaliar a adequação de um modelo teórico de saúde digital equitativa na perspetiva de utilizadores e gestores dos serviços de saúde, bem como profissionais de saúde.

 

Assente nas premissas de equidade digital e nos princípios da centralidade na pessoa, o presente estudo tem como objetivo geral avaliar a adequação de um modelo teórico de saúde digital equitativa na perspetiva de utilizadores e gestores dos serviços de saúde, bem como dos profissionais de saúde.

Os objetivos específicos descrevem-se abaixo:

    Objetivo 1. Traduzir, adaptar culturalmente e validar três instrumentos de avaliação de cuidados centrados na pessoa para o contexto português. Objetivo 2. Compreender os significados sociais, perceções, atitudes e opiniões de utilizadores dos cuidados de saúde, profissionais de saúde e gestores de serviços de saúde relativamente à saúde digital. Objetivo 3. Compreender os significados sociais, perceções, atitudes e opiniões de utilizadores dos cuidados de saúde, profissionais de saúde e gestores de serviços de saúde relativamente aos princípios da centralidade na pessoa aplicados aos cuidados de saúde. Objetivo 4. Validar o modelo teórico para uma saúde digital equitativa.


Para responder aos objetivos anteriormente mencionados propõe-se a realização de um estudo de métodos mistos com desenho paralelo convergente, uma vez que os processos de colheita e análise de dados decorrerão interativamente e em paralelo.

A transição para uma sociedade digital, potenciada pela inovação digital e tecnológica, propicia mudanças profundas no funcionamento e organização dos diferentes serviços de saúde, podendo contribuir para a sua otimização e o melhor alinhamento com as necessidades das pessoas, contribuindo para múltiplos benefícios a nível social, económico ou cultural.
Assim, no sentido de promover a saúde digital equitativa, urge compreender as necessidades, requisitos e perspetiva dos utilizadores finais no contexto específico de prestação de cuidados em que este ocorrerá. Nomeadamente, através dos princípios da centralidade na pessoa aplicados aos cuidados de saúde, que se tornam de sobremaneira cruciais para garantir que a relação terapêutica e de ajuda não seja prejudicada uma vez mediada por tecnologia.
A saúde digital equitativa, além de considerar as condições de acesso às tecnologias digitais e as condições de uso das mesmas, intermediado pelas competências de literacia digital e pela motivação, terá necessariamente de ser alicerçada em práticas de cuidados integradas e centradas na pessoa.
Considerando estes princípios, perspetiva-se que a saúde digital equitativa se alinhe com a aposta em estratégias promotoras de saúde e bem-estar, bem como em intervenções de apoio à pessoa para a autogestão da doença crónica, assegurando práticas de cuidados integradas e centradas na pessoa.

  • Cis-ISCTE
  • Barbour, R. S. (2010). Focus groups. Qualitative methods in health research. London: Sage, 327-352. Bobrowicz-Campos, E., & Ventura, F. (2022). Centralidade na pessoa para uma saúde digital equitativa. In H. Martins, C. Camilo, Cristiane Souza, E. Cardoso, E. Bobrowicz-Campos, J. Ferreira, M. L. Lima, R. Viegas, & F. Leite (Eds.), Cadernos de Saúde Societal: Transformação

    Digital e Inclusão na Saúde (Vol. 2, pp. 39-51). ISCTE. Britten, N., Ekman, I., Naldemirci, Ö., Javinger, M., Hedman, H., & Wolf, A. (2020). Learning from the Gothenburg model of person centred health care, BMJ, 370, m2738. Plano Estratégico Nacional para a Telessaúde 2019- 2022. Published online.

    Direção Geral da Saúde (s.d.). Plano Nacional de Saúde. (2021-2030). Saúde Sustentável: de todos para todos. Direção Geral da Saúde.

    Donabedian, A. (1980). Explorations in quality assessment and monitoring: the definition of quality and approaches to
    its assessment. Ekman, I. (2022). Practising the ethics of person-centred care balancing ethical conviction and moral obligations. Nursing Philosophy, e12382.

    Ekman, I., Swedberg, K., Taft, C., Lindseth, A., Norberg, A., Brink, E., Carlsson, J., Dahlin-Ivanoff, S., Johansson, I.-L., &
    Kjellgren, K. (2011). Person-centered care—ready for prime time. European journal of cardiovascular nursing, 10(4), 248-251.

    Elo, S., Kääriäinen, M., Kanste, O., Pölkki, T., & Utriainen, K. (2014). Qualitative Content Analysis: A Focus on Trustworthiness. In: Sage Open. https://journals. sagepub. com/doi/epub/10.1177/2158244014522633.

    Governo de Portugal. (2020). Plano de Ação para a Transição Digital de Portugal. República Portuguesa: Economia e
    Transição Digital, 1-68.

    Heyer, A., Granberg, R. E., Rising, K. L., Binder, A. F., Gentsch, A. T., & Handley, N. R. (2021). Medical oncology professionals’ perceptions of telehealth video visits. JAMA network open, 4(1), e2033967-e2033967.

    Hill, M., & Hill, A. (2000). Investigação por Questionário, Ediçoes Sílabo. Lda. Lisboa.

    Kien, C., Griebler, U., Schultes, M.-T., Thaler, K. J., & Stamm, T. (2021). Psychometric testing of the German versions of three implementation outcome measures. Global Implementation Research and Applications, 1(3), 183-194.

    Neeman, E., Lyon, L., Sun, H., Conell, C. A., Reed, M., Kumar, D., Kolevska, T., Dinesh M, K., Sundaresan, T. K., & Liu, R. (2021). The future of tele-oncology: trends and disparities in telehealth and secure message utilization in the COVID-19 era. In: Wolters Kluwer Health.

    O'Neill, C., Matias, M. V., Peixoto, V. R., O'Neill, H., Aguiar, P., & Castela, E. (2022). Consulta não presencial no Serviço Nacional de Saúde Português durante a pandemia de COVID-19. Acta medica portuguesa.

    Ricoeur, P. (1992). Oneself as another. University of Chicago press.

    Santana, M. J., Manalili, K., Jolley, R. J., Zelinsky, S., Quan, H., & Lu, M. (2018). How to practice person-centred care: A conceptual framework. Health Expectations, 21(2), 429-440.

    Sharon, T. (2017). Self-tracking for health and the quantified self: Re-articulating autonomy, solidarity, and authenticity in an age of personalized healthcare. Philosophy & Technology, 30(1), 93-121.

    Spelten, E. R., Hardman, R. N., Pike, K. E., Yuen, E. Y., & Wilson, C. (2021). Best practice in the implementation of telehealth-based supportive cancer care: Using research evidence and discipline-based guidance. Patient education and counseling, 104(11), 2682-2699.

    Thorne, S. (2016). Interpretive description: Qualitative research for applied practice.

    Weiner, B. J., Lewis, C. C., Stanick, C., Powell, B. J., Dorsey, C. N., Clary, A. S., Boynton, M. H., & Halko, H. (2017).
    Psychometric assessment of three newly developed implementation outcome measures. Implementation Science, 12(1), 1-12.

    Wild, D., Grove, A., Martin, M., Eremenco, S., McElroy, S., Verjee-Lorenz, A., & Erikson, P. (2005). Principles of good practice for the translation and cultural adaptation process for patient-reported outcomes (PRO) measures: report of the
    ISPOR task force for translation and cultural adaptation. Value in health, 8(2), 94-104.

    World Health Organization. (2021). Global strategy on digital health 2020-2025.

    Zimmerman, B. S., Seidman, D., Berger, N., Cascetta, K. P., Nezolosky, M., Trlica, K., Ryncarz, A., Keeton, C., Moshier, E., & Tiersten, A. (2020). Patient perception of telehealth services for breast and gynecologic oncology care during the COVID-19 pandemic: a single center survey-based study. Journal of Breast Cancer, 23(5), 542.

    Informação do projeto

    • Data de início

      01/01/2023

    • Data de conclusão

      01/01/2025

    • Linha Temática

      Care Systems, Organization, Models, and Technology

    • Palavras-chave
      • : Saúde Digital
      • Equidade Digital
      • Cuidado Centrado na Pessoa
      • Ética
    • Equipa
      • Filipa Isabel Quaresma Santos Ventura RI
      • Elzbieta Bobrowicz-Campos
      • Rosa Carla Gomes da Silva
      • Elaine dos Santos Santana
      • Marta Matos