Os Cuidados de Saúde Informados pela Evidência são uma abordagem para a tomada de decisão clínica que considera a melhor evidência disponível em termos de viabilidade, adequação, significado e efetividade dos cuidados de saúde, tendo em conta a expertise do profissional de saúde, as preferências dos utentes, e o contexto de prestação de cuidados de saúde (International Council of Nurses, 2012; Pearson et al., 2012). A utilização desta abordagem para a tomada de decisão em saúde permite assegurar melhores resultados em saúde ao mesmo tempo que permite reduzir os custos em saúde (Melnyk et al. 2014).
Contudo, estudos têm demonstrado que existe uma lacuna entre a investigação produzida e a sua implementação na prática clínica, reportando que apenas cerca de 60% dos cuidados de saúde prestados são de acordo com a melhor evidência disponível (Braithwaite, 2018; Braithwaite et al., 2020; McGlynn et al., 2003; Runciman et al., 2012; Schuster et al., 1998).
Na tentativa de reduzir esta lacuna, tem-se apostado na área da implementação da evidência, existindo diversos modelos/quadros conceptuais que a orientam. Neste âmbito, o JBI propõe o quadro conceptual JBI-CLARITY, que operacionaliza a implementação da evidência em sete passos: (1) identificar a área problemática; (2) envolver os agentes de mudança; (3) avaliar o contexto e a disponibilidade para a mudança; (4) rever as práticas tendo em conta os critérios baseados em evidência; (5) implementar a mudança utilizando o método GRiP (Getting Research into Practice - colocando a evidência na prática); (6) reavaliar a prática; e (7) considerar a sustentabilidade (Munn et al., 2020). O passo 5 do JBI-CLARITY corresponde à fase de implementação da mudança na prática, que inclui a identificação de barreiras e facilitadores da mudança, e a definição e concretização de estratégias para facilitar a mudança na prática clínica.
As estratégias para facilitar a mudança podem ser definidas como os métodos ou técnicas usadas para promover a adoção, implementação e sustentabilidade de uma prática clínica (Powell et al., 2015). Estas estratégias podem ser utilizadas de forma isolada ou em combinação, numa lógica de estratégia multifacetada. Contudo, e apesar de existirem na literatura a descrição e definição de estratégias para promover a integração da melhor evidência na prática clínica, não há evidência clara sobre quais as estratégias de implementação mais efetivas (Grimshaw et al., 2012), sendo que se recomenda que a seleção das mesmas seja, essencialmente, orientada pelo contexto onde decorre o projeto de implementação (Munn et al., 2020). Adicionalmente, o quadro conceptual JBI-CLARITY destaca a necessidade de se planear a sustentabilidade da mudança, passo 7, o que implica a definição de estratégias, que, à semelhança das definidas para promover a mudança na prática, exigem um planeamento considerando os aspetos específicos do contexto onde decorre o projeto.
Neste sentido, considerando que a seleção das estratégias de implementação e de sustentabilidade estão em grande medida associadas ao contexto particular onde decorre o projeto e uma vez que se desconhecem estudos realizados em Portugal neste âmbito, torna-se relevante identificar as estratégias de implementação e de sustentabilidade utilizadas em projetos de implementação, orientados pelo modelo JBI-CLARITY, realizados no contexto português; e conhecer a perspetiva dos líderes dos projetos de implementação acerca da efetividade das estratégias utilizadas.
Este estudo permitirá elencar um conjunto de estratégias que têm vindo a ser utilizadas no contexto português que poderá facilitar o planeamento e consecução de projetos de implementação futuros em Portugal, bem como informar o planeamento de futuros estudos de investigação primários, nomeadamente de efetividade, acerca de estratégias de implementação da melhor evidência que concorram para o desenvolvimento da ciência da implementação.
Os Cuidados de Saúde Informados pela Evidência são uma abordagem para a tomada de decisão clínica que considera a utilização da melhor evidência disponível, o juízo profissional, as preferências dos utentes e o contexto. Contudo, existe uma lacuna entre a investigação e a prática, sendo que a implementação da evidência surge como um processo para acelerar a integração da evidência na prática. A implementação da ciência diz respeito às atividades promovidas para aumentar a utilização da evidência na prática. O modelo JBI-CLARITY surge como uma abordagem em sete passos para promover a integração da melhor evidência na prática clínica. Uma das fases propostas por este modelo é a fase de implementação da mudança na prática, que inclui a identificação de barreiras e facilitadores da mudança, e a definição e concretização de estratégias para facilitar a mudança na prática clínica. Não há evidência clara sobre quais as estratégias de implementação mais efetivas, sendo que se recomenda que a seleção das mesmas seja, essencialmente, orientada pelo contexto onde decorre o projeto de implementação.
1. Identificar as estratégias de implementação e de sustentabilidade utilizadas em projetos de implementação, orientados pelo modelo JBI-CLARITY, realizados no contexto português.
2. Conhecer a perspetiva dos líderes dos projetos de implementação acerca da efetividade das estratégias utilizadas.
Pretende-se com este estudo conhecer as estratégias facilitadoras no processo de implementação da melhor evidência disponível nos contextos clínicos. Em Portugal, desconhecem-se estudos neste âmbito, o que torna esta proposta de investigação essencial para o desenvolvimento da implementação da evidência nos contextos nacionais, contribuindo assim para cuidados de saúde mais efetivos, para mais benefícios para os utentes, para mais ganhos em saúde, para melhores resultados em saúde e para menores custos em saúde.
Serão cumpridos os princípios éticos inerentes à investigação científica. O estudo será submetido à Comissão de Ética da UICISA: E/ESEnfC para parecer. Os potenciais participantes serão informados sobre a finalidade do estudo e os procedimentos. Todo os participantes do estudo terão que providenciar consentimento informado (em formato eletrónico).
Não aplicável
Bardin, L. (2013). Análise de conteúdo (3a ed.). Lisboa, Portugal: Edições
Braithwaite, J. (2018). Changing how we think about healthcare improvement. Bmj, 361. https://doi.org/10.1136/bmj.k2014
Braithwaite, J., Glasziou, P., & Westbrook, J. (2020). The three numbers you need to know about healthcare: the 60-30-10 challenge. BMC medicine, 18, 1-8. https://doi.org/10.1186/s12916-020-01563-4
Grimshaw, J. M., Eccles, M. P., Lavis, J. N., Hill, S. J., & Squires, J. E. (2012). Knowledge translation of research findings. Implementation science, 7(1), 50. https://doi.org/10.1186/1748-5908-7-50
International Council of Nurses. (2012). Closing The Gap: From Evidence to Action. Geneva, Switzerland. Disponível em https://www.nursingworld.org/~4aff6a/globalassets/practiceandpolicy/innovation--evidence/ind-kit-2012-for-nnas.pdf
McGlynn, E. A., Asch, S. M., Adams, J., Keesey, J., Hicks, J., DeCristofaro, A., & Kerr, E. A. (2003). The quality of health care delivered to adults in the United States. The New England journal of medicine, 348(26), 2635–2645. https://doi.org/10.1056/NEJMsa022615
Melnyk, B. M., Gallagher‐Ford, L., Long, L. E., & Fineout‐Overholt, E. (2014). The establishment of evidence‐based practice competencies for practicing registered nurses and advanced practice nurses in real‐world clinical settings: Proficiencies to improve healthcare quality, reliability, patient outcomes, and costs. Worldviews on Evidence‐Based Nursing, 11(1), 5-15. https://doi.org/10.1111/wvn.12021
Munn, Z., McArthur, A., Porritt, K., Lizarondo, L., Moola, S., & Lockwood C. (2020). Evidence implementation projects using an evidence-based audit and feedback approach: the JBI Implementation Framework. In: Porritt, K., McArthur, A., Lockwood, C., Munn, Z. (Eds). JBI Handbook for Evidence Implementation. (pp. 14-29) JBI. https://doi.org/10.46658/JBIIH-19-01
Pearson, A., Jordan, Z., & Munn, Z. (2012). Translational Science and Evidence-Based Healthcare: A Clarification and Reconceptualization of How Knowledge Is Generated and Used in Healthcare. Nursing Research and Practice, 2012. https://doi.org/10.1155/2012/792519
Powell, B. J., Waltz, T. J., Chinman, M. J., Damschroder, L. J., Smith, J. L., Matthieu, M. M., Proctor, E. K., & Kirchner, J. E. (2015). A refined compilation of implementation strategies: results from the Expert Recommendations for Implementing Change (ERIC) project. Implementation science, 10(1), 1-14. https://doi.org/10.1186/s13012-015-0209-1
Runciman, W. B., Hunt, T. D., Hannaford, N. A., Hilbbert, P. D., Westbrook., J. I., .Day, R. O., Hindmarsh, D. M., McGlynn, E. A., & Braithwaite, J. (2012). CareTrack: assessing the appropriateness of health care delivery in Australia. Medical Journal of Australia, 197(2), 100-105. https://doi.org/10.5694/mja12.10510
Schuster, M. A., McGlynn, E. A., & Brook, R. H. (1998). How good is the quality of health care in the United States?. The Milbank Quarterly, 76(4), 517-563. https://doi.org/10.1111/1468-0009.00105
30/09/2024
31/01/2026
Care Systems, Organization, Models, and Technology