Num ambiente de cuidados críticos, a prestação de cuidados de enfermagem à pessoa em situação crítica é frequentemente associada à técnica e agilidade dos procedimentos executados, enquadrados numa dinâmica de ação e intervenção complexas, associados a iminente risco de vida, que gera ansiedade na pessoa, na sua família e também nos profissionais que desempenham as suas funções (Benner et al., 2011). Este ambiente complexo, orientado para a melhor prestação de cuidados, implica em simultâneo um aumento dos níveis sonoros, associados à complexidade tecnológica e às dinâmicas dos cuidados em si (Marcelo & Santiago, 2022).
As Guidelines for Community Noise referem que o nível do ruído em ambiente hospitalar não deve exceder os 35/40 dB durante o período diurno e os 30 dB no período noturno (Berglund et al., 1999; AEA, 2020 conforme citado por Andrade, 2023).
Os vários ruídos existentes no ambiente de cuidados intensivos, pioram em diversas vertentes a saúde da pessoa internada (Peacock et al, 2020; Silva et al., 2012 conforme citado por Andrade, 2023). Além disso, o contacto frequente com o ruído pode incrementar, nos enfermeiros, a diminuição da capacidade de concentração e consequentemente diminuição da produtividade, interferência com a capacidade de ouvir os alarmes, fadiga, irritabilidade, aumento de níveis de stress e constituir um obstáculo à comunicação, o que pode acarretar o aumento da probabilidade de cometer erros geradores de eventos adversos. Enfermeiros que exercem a sua atividade profissional em turnos rotativos e em ambientes ruidosos reportaram exaustão, burnout, depressão e irritabilidade (Mazer, 2012 conforme citado por Silva, 2020; Pedrosa, 2021).
Dado que as funções dos enfermeiros envolvem atividades que implicam concentração e atenção constante para a não existência de erros, a preocupação incide na eventualidade de ocorrência do erro na execução da atividade profissional, assim como, na diminuição da qualidade dos cuidados quando expostos ao ruído.
Assim sendo, a escolha desta temática recai sobre o meu interesse pessoal e possível contributo, para a prática de enfermagem em contexto de cuidados intensivos e, essencialmente, para a pessoa em situação crítica, por forma a serem prestados cuidados com maior qualidade e segurança.
Enquadramento: A prestação de cuidados de enfermagem em ambientes de cuidados críticos envolve técnicas complexas, que criam uma dinâmica geradora de ansiedade nos profissionais. O ambiente hospitalar, caracterizado por elevados níveis de ruído, pode impactar negativamente na saúde dos doentes e na concentração dos enfermeiros, levando a um aumento do stress e risco de eventos adversos.
Objetivos: Avaliar a perceção dos enfermeiros de uma unidade de cuidados intensivos sobre eventos adversos da prática de enfermagem; caracterizar a sensibilidade individual ao ruído e relacioná-la com a ocorrência de tais eventos.
Metodologia: Estudo exploratório, descritivo-correlacional e transversal de natureza quantitativa. Amostra de conveniência composta por enfermeiros prestadores de cuidados assistenciais num serviço de cuidados intensivos de um hospital da região centro. A colheita de dados será realizada através da aplicação de um instrumento composto por duas partes: características sociodemográficas e profissionais dos participantes e pela escala “Eventos Adversos Associados às Práticas de Enfermagem” e pelo “Questionário de Sensibilidade Individual ao Ruído”.
Resultados Esperados: É esperado compreender em que medida a sensibilidade individual dos enfermeiros ao ruído pode influenciar a sua perceção sobre eventos adversos e assim contribuir para a melhoria da qualidade dos cuidados prestados à pessoa em situação crítica.
- Avaliar a perceção dos enfermeiros de uma unidade de cuidados intensivos de um hospital da região centro sobre a ocorrência de eventos adversos associados à prática de enfermagem.
- Caracterizar a sensibilidade individual ao ruído dos enfermeiros que exercem a sua atividade profissional numa unidade de cuidados intensivos de um hospital da região centro.
- Relacionar a sensibilidade individual ao ruído com a ocorrência de eventos adversos associados à prática de enfermagem numa unidade de cuidados intensivos de um hospital da região centro.
A escolha desta temática provém do interesse pessoal da investigadora principal e do possível contributo, para a prática de enfermagem em contexto de cuidados intensivos à pessoa em situação crítica, por forma a serem prestados cuidados com maior qualidade e segurança.
Não está previsto o envolvimento do cidadão na equipa de investigação.
Andrade, S. (2023). Gestão do ruído em ambiente de cuidados críticos [Relatório de estágio]. Escola Superior de Enfermagem de Lisboa.
Benner, P., Kyriakidis, P.H. & Stannard, D. (2011). Clinical Wisdom and Interventions in Acute and Critical Care. New York: Springer Publishing Company. https://doi.org/10.1891/9780826105745.
Castilho, A., Parreira, P. (2012). Eventos Adversos Associados às Práticas de Enfermagem
Marcelo, I. J. & Santiago, M.D. (2022). O ruído no contexto dos cuidados intensivos: contributo para a segurança e qualidade dos cuidados - estudo descritivo. Servir, 2(02), e25906. https://doi.org/10.48492/servir0202.25906.
Pedrosa, M. (2021). Impacto do ruído na qualidade de vida e motivação dos enfermeiros do serviço de urgência [Dissertação de Mestrado]. Universidade do Minho – Escola de Economia e Gestão.
Silva, S. (2020). Gestão de alarme clínicos na segurança do doente critico: perspetiva do enfermeiro numa unidade de cuidados intensivos cardíacos [Dissertação de mestrado]. Escola Superior de Enfermagem do Minho
Weinstein. (1978). Questionário de Sensibilidade Individual ao Ruído.
16/09/2024
30/05/2025
Care Systems, Organization, Models, and Technology