O processo de envelhecimento demográfico que estamos a viver, associado às mudanças verificadas na estrutura e comportamentos sociais e familiares, determinará, nos próximos anos, novas necessidades em saúde, lançando enormes desafios aos sistemas de saúde no que se refere não apenas à garantia de acessibilidade e qualidade dos cuidados, como à sustentabilidade dos próprios sistemas e exigindo que, ao aumento da esperança de vida à nascença, corresponda um aumento da esperança de vida “com saúde” e sem deficiência, afirma o Programa Nacional de Saúde do Idoso (Direção Geral de Saúde [DGS], 2004).
A organização e funcionamento dos serviços de saúde não se encontram adaptados às atuais necessidades da população idosa, decorrentes das novas realidades demográficas e sociais, o que constitui um obstáculo à promoção e/ou manutenção da qualidade de vida destas pessoas e das suas famílias (DGS, 2006). No panorama da transição demográfica atual, torna-se fundamental adequar as respostas de cuidados e serviços às necessidades da população em geral, e dos idosos em particular. É neste contexto que surge a relevância do uso da avaliação multidimensional geriátrica.
A avaliação funcional multidimensional de idosos estabelece uma abordagem interdisciplinar, criando uma “imagem global” que compreende a avaliação de saúde, recursos socioeconómicos e meio envolvente da pessoa idosa, com o objetivo de desenvolver um plano de intervenção centrado na manutenção e recuperação da capacidade funcional.
Estamos pois, perante uma problemática que carece de desenvolvimento no nosso país e de grande interesse para a saúde, especialmente na área da saúde comunitária e das metodologias de intervenção.
Carecem, ainda, de resposta as perguntas:
a) Como é que os profissionais de saúde realizam a avaliação multidimensional da população idosa?
b) De que instrumentos de avaliação dispõem os profissionais de saúde para a realização da avaliação multidimensional da população idosa?
c) Como poderão os profissionais de saúde planear intervenções dirigidas à população idosa partindo da avaliação funcional e das necessidades reais, e sentidas, identificadas?
Com este projeto pretendemos contribuir para: o desenvolvimento da avaliação multidimensional da população idosa numa ótica comunitária, familiar e individual; o desenvolvimento de metodologias de avaliação eficazes, e exequíveis, em contexto comunitário; o aperfeiçoamento e validação de uma metodologia de avaliação funcional multidimensional para uso na consulta de saúde do idoso/geriatria.
Para o efeito, o projeto será desenvolvido em duas fases:
1ª Fase: Atualmente o OARS/QAFMI (Older Americans Resources and Services / Questionário de Avaliação Funcional Multidimensional para Idosos) é considerado um dos mais completos instrumentos de avaliação multidimensional desenvolvido para pessoas idosas, capaz de construir um perfil segundo a (in) capacidade funcional e identificar as necessidades reais e sentidas, quer nos serviços de saúde, quer nos serviços de apoio social (Ferreira & Rodrigues, 1999; Ferreira, Rodrigues, & Nogueira, 2006; Rodrigues, 2007, 2008, 2009, 2011; Silva, 2005). O objetivo geral deste projeto é a reconstrução do QAFMI, mantendo a sua capacidade de avaliação funcional. No entanto, há necessidade de reformulação de algumas variáveis tendo em conta a perceção de todos os investigadores que já o aplicaram como sendo o caso de Rodrigues (2007, 2011) e Silva (2005, 2012). A sua reconstrução implica um programa de avaliação multidimensional para a população idosa que possa integrar os sistemas de informação existentes na comunidade, nomeadamente nos cuidados de saúde primários, criando uma rede de avaliação de excelência, dando ao sistema nacional de saúde, importantes indicadores, resultado da avaliação multidimensional a este grupo etário.
Será desenvolvido um estudo que inclui cinco tarefas: definição das variáveis de contexto comunitário, familiar e individual associada à avaliação funcional multidimensional; caracterização, a nível dos serviços de saúde e sociais, dos procedimentos, recursos e estratégias relacionados com o tema; desenvolvimento do questionário de avaliação funcional multidimensional para idosos na comunidade (QAFMIC); validação, tendo em conta as considerações realizadas pelos investigadores e identificar/definir questões estruturantes do modelo informatizado de avaliação funcional.
2ª Fase: Na segunda fase será construído um programa informático que possa realizar a avaliação multidimensional, dando assim aos profissionais de saúde a possibilidade de
definir e implementar, em tempo útil, as suas intervenções em resposta à (in)capacidade funcional do idoso.
O passo seguinte seria a integração deste programa nos sistemas de informação em vigor nos Cuidados de Saúde Primários.

Os objetivos traçados para este trabalho são:
1. Caracterizar as variáveis de contexto comunitário, familiar e individual associada à avaliação funcional multidimensional;
2. Caracterizar os procedimentos, atitudes, recursos e estratégias relacionados com a avaliação funcional multidimensional;
3. Identificar e caracterizar as metodologias de avaliação dos profissionais de saúde para a avaliação funcional multidimensional;
4. Desenvolver e validar o questionário de avaliação funcional multidimensional para idosos na comunidade (QAFMIC);
5. Desenvolver e implementar um programa informático de avaliação funcional multidimensional nos Cuidados de Saúde Primários.