Estima-se que 70-90% das pessoas que recorrem aos serviços de saúde necessitam de, pelo menos, um cateter venoso periférico para cumprimento do plano terapêutico estabelecido (Alexandrou et al., 2018; Helm, Klausner, Klemperer, Flint & Huang, 2015). Porém, este procedimento não é isento de riscos, sendo necessários cuidados específicos durante a inserção e manutenção do cateter (Ho & Cheung, 2012).
Em Portugal, identificam-se na literatura taxas significativas de complicações associadas ao cateterismo venoso periférico como a obstrução intraluminal (72,7%), remoção acidental (65,5%), colonização bacteriana local (62,7%), infiltração (59,7%), flebite (43,2%) e extravasamento (20,9%)(Braga, 2017; Nobre & Martins, 2018; Salgueiro-Oliveira, Parreira, & Veiga, 2012; Santos, 2014). Complementarmente, nos hospitais portugueses, o cateter venoso periférico representa um dos fatores de risco extrínseco mais representativos para a incidência de infeções da corrente sanguínea, verificando-se que, na sua presença, a sua prevalência aumenta de 8,3% para 11,7% (Pina, Paiva, Nogueira, & Silva, 2013). Estes resultados traduzem-se na prestação de cuidados suboptimais, que comprometem a segurança e bem-estar da pessoa, com impacte negativo na sua condição clínica e custos económicos avultados para as organizações de saúde (Takashima, Ray-Barruel, Ullman, Keogh & Rickard, 2017).
Este fenómeno torna-se ainda mais relevante em unidades de oncologia, na medida em que pessoa com doença oncológica apresenta um risco acrescido de ocorrência de complicações locais e sistémicas associadas ao cateterismo venoso periférico, motivada pelo comprometimento da sua condição clínica e/ou necessidade de administração de ciclos de tratamento antineoplásico e terapêutica (neo)adjuvante por via endovenosa (Bertoglio et al., 2017; Gallieni, Pittiruti, & Biffi, 2008; Pagnutti et al., 2016).
Neste desiderato, a abordagem tradicional à cateterização venosa periférica é considerada reativa e ineficaz, resultando no esgotamento dos acessos venosos periféricos antes da consideração de outros métodos e opções de acesso vascular (Moureau et al., 2012). Esta realidade afigura-se como de capital importância para a Enfermagem sendo que, na maioria dos contextos internacionais, são os enfermeiros os profissionais responsáveis pelos cuidados prestados à pessoa com necessidade de cateterização venosa periférica, desde da inserção à remoção do cateter (Alexandrou et al., 2018).
Estudos contemporâneos têm ressaltado a eficácia da implementação de estratégias multimodais na uniformização e alinhamento de práticas profissionais às recomendações de boas-práticas internacionais, com impacte nas taxas de incidência/prevalência de complicações associadas e semivida do cateter (Blanco-Mavillard et al., 2018). Todavia, são parcos os esforços desenvolvidos neste âmbito, até à data, no que respeita à implementação e avaliação de estratégias multimodais em unidades de oncologia (Takashima et al., 2015).
Em Portugal, a implementação de intervenções multimodais no âmbito do cateterismo venoso periférica é recente, sendo que a maioria dos estudos desenvolvidos compreende a implementação de intervenções isoladas, na sua maioria formativas, sem avaliação da sua eficácia na uniformização das práticas profissionais ou diminuição de complicações associadas. À semelhança da realidade internacional, neste âmbito temático, não são conhecidos estudos de intervenção desenvolvidos em unidades de oncologia nacionais.
Alexandrou, E., Ray-Barruel, G., Carr, P., Frost, S., Inwood, S., & Higgins, N. et al. (2018). Use of Short Peripheral Intravenous Catheters: Characteristics, Management, and Outcomes Worldwide. Journal Of Hospital Medicine, 13(5). doi: 10.12788/jhm.3039 Bertoglio, S., van Boxtel, T., Goossens, G., Dougherty, L., Furtwangler, R., & Lennan, E. et al. (2017). Improving outcomes of short peripheral vascular access in oncology and chemotherapy administration. The Journal Of Vascular Access, 18(2), 89-96. doi: 10.5301/jva.5000668
Blanco-Mavillard, I., Bennasar-Veny, M., De Pedro-Gómez, J., Moya-Suarez, A., Parra-Garcia, G., & Rodríguez-Calero, M. et al. (2018). Implementation of a knowledge mobilization model to prevent peripheral venous catheter-related adverse events: PREBACP study—a multicenter cluster-randomized trial protocol. Implementation Science, 13(1), 100. doi: 10.1186/s13012-018-0792-z
Braga, L. (2017). Práticas de enfermagem e a segurança do doente no processo de punção de vasos e na administração da terapêutica endovenosa (Tese de Doutoramento em Enfermagem). Universidade de Lisboa. Gallieni, M., Pittiruti, M., & Biffi, R. (2008). Vascular Access in Oncology Patients. CA: A Cancer Journal For Clinicians, 58(6), 323-346. doi: 10.3322/ca.2008.0015
Helm, R., Klausner, J., Klemperer, J., Flint, L., & Huang, E. (2015). Accepted but Unacceptable. Journal Of Infusion Nursing, 38(3), 189-203. http://dx.doi.org/10.1097/nan.0000000000000100
Ho, K., & Cheung, D. (2012). Guidelines on timing in replacing peripheral intravenous catheters. Journal Of Clinical Nursing, 21(11-12), 1499-1506. http://dx.doi.org/10.1111/j.1365-2702.2011.03974.x
Moureau, N., Trick, N., Nifong, T., Perry, C., Kelley, C., & Carrico, R. et al. (2012). Vessel Health and Preservation (Part 1): A New Evidence-Based Approach to Vascular Access Selection and Management. The Journal Of Vascular Access, 13(3), 351-356. http://dx.doi.org/10.5301/jva.5000042 Nobre, A., & Martins, M. (2018). Prevalence of peripheral intravenous catheter-related phlebitis: associated factors. Revista De Enfermagem Referência, 4(16), 127-138. doi: 10.12707/riv17058 Pagnutti, L., Bin, A., Donato, R., Di Lena, G., Fabbro, C., & Fornasiero, L. et al. (2016). Difficult intravenous access tool in patients receiving peripheral chemotherapy: A pilot-validation study. European Journal Of Oncology Nursing, 20, 58-63. doi: 10.1016/j.ejon.2015.06.008
Pina, E., Paiva, J., Nogueira, P., & Silva, M. (2013). Prevalência de infeção adquirida no hospital e do uso de antimicrobianos nos hospitais portugueses – inquérito 2012 (pp. 3-19). Lisboa: Direção-Geral da Saúde. Recuperado de https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/inquerito-de-prevalencia-de-infecao-adquirida-no-hospital-e-uso-de-antimicrobianos-nos-hospitais-portugueses-inquerito-2012-jpg.aspx
Salgueiro-Oliveira, A., Parreira, P., & Veiga, P. (2012). Incidence of phlebitis in patients with peripheral intravenous catheters: The influence of some risk factors. Australian Journal Of Advanced Nursing, 30(2), 32-39.
Santos, D. (2014). Cuidados de Enfermagem no Cateterismo Venoso Periférico: Impacte no Perfil Microbiológico (Mestrado em Enfermagem). Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Takashima, M., Ray-Barruel, G., Keogh, S., & Rickard, C. (2015). Randomised controlled trials in peripheral vascular access catheters: a scoping review. Vascular Access, 1(2), 10-37. Recuperado de http://s3-ap-southeast-2.amazonaws.com/wh1.thewebconsole.com/wh/4798/images/Takashima-2015.pdf
Takashima, M., Ray-Barruel, G., Ullman, A., Keogh, S., & Rickard, C. (2017). Randomized controlled trials in central vascular access devices: A scoping review. PLOS ONE, 12(3),
01/01/2019
01/01/2024
Care Systems, Organization, Models, and Technology