Segundo a European Entrepreneurship Competence Framework (Bacigalupo et al., 2016) que deu origem ao instrumento de avaliação de competências inovadoras/empreendedoras “Entrecomp”, o desenvolvimento destas competências nas organizações e dos cidadãos europeus é um dos principais objetivos políticos da União Europeia e dos Estados-Membros. Efetivamente, as competências inovadoras/empreendedoras foram consideradas uma das oito competências-chave necessárias para uma sociedade baseada no conhecimento.
As organizações de saúde são entidades complexas, com equipas interdisciplinares, chamadas a inovar e a implementar a mudança para melhoria da qualidade e eficiência dos serviços de saúde (Morley & Cashell, 2017). O desenvolvimento das competências inovadoras/empreendedoras dos profissionais de saúde influenciam a iniciativa, procura de oportunidades, persistência e resiliência, com riscos calculados e salvaguardando requisitos de qualidade e eficiência (Brunelli, 2022).
A enfermagem foi colocada no centro da agenda da modernização (Boore & Porter, 2011) devido à sua posição ímpar nos sistemas/serviços de saúde, sendo a profissão de maior contacto com a pessoa requerente de cuidados de saúde.
As competências inovadoras/empreendedoras dos enfermeiros são vistas como um pré-requisito para lidar com os desafios globais dos cuidados de saúde, melhorar a segurança das pessoas e alcançar a excelência nos cuidados de enfermagem (McSherry et al., 2012). Menegaz et al. (2021) referem ainda que a enfermagem empreendedora desempenha um papel fundamental na promoção da saúde e no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em especial o 3 “Saúde de Qualidade”, contribuindo para um futuro mais sustentável e saudável até 2030.
A adoção de práticas inovadoras pelos enfermeiros desempenha um papel significativo na obtenção de resultados positivos e na eficácia dos serviços de saúde, promovendo a qualidade dos cuidados de saúde (Boore & Porter, 2011). Essas práticas impulsionam a inovação pela introdução de novas técnicas/processos com impactos positivos (Ubochi et al., 2021), relacionando-se com a autonomia, independência, flexibilidade, inovação, proatividade, autoconfiança e responsabilidade dos enfermeiros (Copelli et al., 2017).
Apesar da relevância, têm sido identificadas diversas barreiras estruturais e culturais às competências inovadoras/empreendedoras nas organizações de saúde. O empreendedorismo na enfermagem não é exceção, sendo pouco explorado nacional e internacionalmente (Jakobsen et al., 2021). Existe uma clara necessidade de investigação acerca do impacto que o empreendedorismo tem na prática clínica da enfermagem (Jakobsen et al., 2021).
Concluindo, a aquisição de competências inovadoras/empreendedoras por parte dos enfermeiros torna-se essencial para o acesso a novos recursos, competências, bem como para a renovação estratégica dos sistemas/serviços de saúde, dotando-os de respostas rápidas a desafios emergentes. Assim, urge a necessidade de aferir globalmente as competências inovadoras/empreendedoras dos enfermeiros e atendendo a contextos de saúde particulares e suas políticas institucionais, em relação com a qualidade dos cuidados de enfermagem. Pretende-se identificar barreiras e facilitadores às competências inovadoras/empreendedoras nos enfermeiros em diversos contextos de saúde e sua relação com a qualidade dos cuidados de enfermagem, com claro impacto no nosso Serviço Nacional de Saúde.
As competências inovadoras/empreendedoras são cada vez mais valorizadas em todos os setores da economia, inclusive na área da saúde. Os profissionais de saúde, especialmente enfermeiros, com tais competências são capazes de identificar oportunidades e desenvolver soluções inovadoras para os desafios enfrentados na sua prática clínica, permitindo atender às necessidades emergentes nos seus contextos e melhorar a qualidade dos cuidados prestados.
Neste âmbito, o presente projeto de doutoramento visa caracterizar o perfil de competências inovadoras/empreendedoras dos enfermeiros portugueses, a sua relação com a qualidade dos cuidados de enfermagem, bem como com as políticas institucionais em diversos contextos da prática. Como principal output deste projeto pretende-se o desenvolvimento de uma policy brief para o empreendedorismo no setor da saúde, destacando especificamente a promoção de competências inovadoras/empreendedoras dos enfermeiros em estreita relação com a melhoria da qualidade dos cuidados.
1. Adaptar a versão portuguesa do questionário “EntreComp” para a população de enfermeiros a trabalhar em Portugal;
2. Caraterizar o perfil de competências inovadoras/empreendedoras de uma amostra de enfermeiros a trabalhar em Portugal e a sua perceção das atividades de enfermagem que contribuem para a qualidade dos cuidados;
3. Avaliar a estrutura da representação social do empreendedorismo em enfermagem e inovação em enfermagem, por parte de enfermeiros portugueses;
4. Analisar o impacto do perfil de competências inovadoras/ empreendedoras dos enfermeiros e a qualidade dos cuidados de enfermagem prestados (perspetiva do enfermeiro e da pessoa alvo desses cuidados);
5. Explorar barreiras e facilitadores ao desenvolvimento de competências inovadoras/ empreendedoras nos contextos de saúde selecionados e implicações na qualidade dos cuidados;
6. Elaborar uma Policy Brief com diretrizes para a promoção das competências inovadoras e empreendedoras dos enfermeiros na melhoria da qualidade dos cuidados
Este projeto de investigação doutoral visa caraterizar o perfil de competências inovadoras/empreendedoras de enfermeiros em Portugal, de modo a estabelecer oportunidades de desenvolvimento e melhoria da prática de enfermagem. O mesmo se pretende ao analisar o impacto entre o perfil de competências inovadoras/empreendedoras e a qualidade dos cuidados de Enfermagem à pessoa.
Acresce ainda referir que o estudo visa também identificar as principais barreiras e facilitadores dessas competências, fornecendo insights valiosos para orientar intervenções e políticas de promoção das competências inovadoras/empreendedoras dos enfermeiros.
As recomendações resultantes deste trabalho terão o potencial de influenciar positivamente a prática de enfermagem em Portugal, promovendo cuidados mais eficazes, eficientes, inovadores e centrados na pessoa. Esse impacto direto na qualidade dos cuidados terá benefícios significativos para as pessoas, contribuindo para uma sociedade mais saudável e resiliente, com uma força de trabalho de enfermagem mais capacitada e preparada para enfrentar os desafios do sistema de saúde contemporâneo.
Não aplicável
Bacigalupo, M., Kampylis, P., Punie, Y., & Van den Brande, G. (2016). EntreComp: The entrepreneurship competence framework. Publications Office. https://doi.org/10.2791/593884
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Brunelli, B. (2022). Perfil e avaliação de competências comportamentais empreendedoras em médicos de família e comunidade brasileiros donos de clínicas e consultório. Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, 17(44), Artigo 44. https://doi.org/10.5712/rbmfc17(44)2621
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Ubochi, N. E., Osuji, J. C., Ubochi, V. N., Ogbonnaya, N. P., Anarado, A., & Iheanacho, P. N. (2021). The drive process model of entrepreneurship: A grounded theory of nurses’ perception of entrepreneurship in nursing. International Journal of Africa Nursing Sciences, 15, 100377. https://doi.org/10.1016/j.ijans.2021.100377
15/07/2024
30/08/2027
Studies and entrepreneurial practices
Care Systems, Organization, Models, and Technology