NEW PATHS FOR NURSING AS A PROFESSIONAL PROJECT: PROFESSIONAL TRAJECTORIES AND PRIVATE ITINERARIES

A enfermagem encontra-se em rápida mudança, que se traduz, não só na preocupação em definir a sua teoria, os campos de investigação e as representações sociais, numa perspectiva crítica, como também nos caminhos que percorreu e deseja percorrer em termos de consolidação da profissão como um projecto profissional. O crescimento verificado, após a Revolução do 25 de Abril, permitiu a passagem de cerca 15.000 enfermeiros em 1974 para 56.000 em Dezembro de 2008. Anualmente, tem-se verificado um crescimento de mais de 2.000 enfermeiros, antevendo-se a continuação de um ritmo acelerado, gerador de previsível atrofiamento profissional.

Estas alterações, a par das modificações verificadas na estrutura social das populações e o desenvolvimento das ofertas de serviço no mercado aberto, vêm perspectivar novas necessidades profissionais, ainda que ancoradas em novos perfis profissionais e contendo grandes desafios organizacionais e sócio-profissionais. Acresce que o desenvolvimento de novas configurações profissionais, resultantes das competências diversificadas que começaram a assumir, em grande oposição à linearidade de funções desempenhadas ao longo do século passado, altera profundamente, quer as representações sociais dos cidadãos em relação à enfermagem, quer dentro do próprio corpo profissional, reconfigurando as ideologias profissionais dominantes. Sabendo-se como as estratégias profissionais são alteradas pelas ideologias, podemos estar perante um período de grandes encruzilhadas profissionais, numa combinação de trajectórias profissionais e percursos privados, que vai muito mais além da linearidade de percursos sócioprofissionais anteriores.

Assim, e de modo a compreender os desafios com que a profissão se depara no presente, projectando-os no futuro, há que analisar o seu percurso passado através da contextualização das suas dinâmicas profissionais. Só por este caminho poderemos chegar ao objectivo principal deste projecto: a caracterização sócio-profissional da enfermagem num contexto de mudança. Esta caracterização desenvolver-se-á a três níveis complementares, que permitirão adquirir uma visão global e profunda da profissão, face aos crescentes desafios que se colocam.

Em primeiro lugar, a definição do perfil sociográfico da enfermagem, procurando analisar o seu percurso pessoal, as formações profissionais, as trajectórias e as estratégias profissionais (p.ex., desenvolvimento da carreira). Em segundo lugar, procuraremos analisar as ideologias e representações profissionais dominantes (auto-representação sobre o seu papel na sociedade), caracterizando-as, em resultado do confronto que se fará com temas preponderantes para o seu desempenho profissional e que são, simultaneamente, fulcrais na sociedade contemporânea, como sejam os directamente (a eutanásia, a interrupção voluntária da gravidez, etc.) ou indirectamente (a pobreza, a violência doméstica, etc.) relacionados com a área da saúde num contexto mais alargado. Por fim, e face aos grandes constrangimentos actuais, a nível profissional que, segundo indícios públicos, têm gerado grandes perturbações pessoais, procuraremos indagar sobre o modo como vem sendo organizada e conciliada, pelos profissionais de enfermagem, a actividade profissional e a vida privada (a organização dos serviços, a(s) chefia(s) e os colegas, a família, o lazer e a comunidade). Teremos, ainda, uma preocupação transversal de inquirir sobre os principais desafios que se colocam à profissão.

A estratégia metodológica adoptada inclui técnicas quantitativas e qualitativas, com especial realce para a realização de um inquérito à totalidade da profissão, com o contributo da Ordem dos Enfermeiros (parceira deste projecto). Complementarmente, mas igualmente de importância crucial, será feita um estudo sócio-histórico e política da profissão, assente na análise: a) da evolução do quadro legal de requisitos e exigências formativas, competências, carreiras e percursos profissionais; b) da evolução do Serviço Nacional de Saúde; c) das estruturas associativo-sindicais e da Ordem dos Enfermeiros; d) do contexto internacional, e respectiva assimilação nacional, das directivas e recomendações provenientes das organizações internacionais com competências, em particular, na área da saúde (OMS, UE, etc.).

O projecto é desenvolvido por uma equipa de investigadores (incluindo enfermeiros), dando continuidade a projectos anteriormente desenvolvidos de forma parcelar. Os resultados esperados, para além dos meramente científicos, serão um valioso contributo para a actual discussão pública sobre as alterações ao nível da formação de enfermagem, da carreira e competências profissionais. O conhecimento das representações sociais e mecanismos de articulação identificados de conciliação entre actividade profissional e vida privada, são elementos fundamentais para o planeamento estratégico de uma gestão de recursos humanos, que se quer eficiente e capaz de antever os efeitos das novas exigências profissionais.

 

  • Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
  • Direção-Geral da Saúde (DGS)
  • Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem
  • Universidade do Minho
  • Ordem dos Enfermeiros
  • Abreu, Wilson. (2001). Identidade, Formação e Trabalho. Coimbra: Formasau.

    Amendoeira, José. (2006). Uma Biografia Partilhada da Enfermagem. Coimbra: Formasau.

    Aryee, S., Srinivas, E. S. & Tan, H. H. (2005). Rhythms of life: Antecedents and outcomes of work-family balance in employed parents. Journal of Applied Psychology, 90 (1), 132-146.

    Blomgren, M. (2003). Ordering a profession: Swedish nurses encounter new public management reforms. Financial Accountability and Management, 19, 45-71.

    Borrego, A; Mundina, J & Freire, I. (2008). Metodologias colaborativas, educação na e para a responsabilidade na formação em enfermagem. Revista de Ciências da Educação, 7, 63-73.
     
    Cabral, M.Villaverde (coord.). 2002. Saúde e doença em Portugal. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais.

    Carapinheiro, G., & Noémia L. (1997), “Recursos e condições de trabalho dos enfermeiros portugueses: estudo sociográfico de âmbito nacional”, Lisboa: Sindicato dos Enfermeiros Portugueses.

    Carreira, H. Medina. 1996. “A saúde” In As Políticas Sociais em Portugal. Lisboa: Gradiva, 115-146

    Ciampone, M. H. & Chiesa A. (1999). Principios gerais para a abordagem de varáveis qualitativas e o emprego da metodologia de grupos focais. In: Antunes, M et al. (Org.). Série Didática: Enfermagem no SUS - A classificação Internacional das práticas de enfermagem em saúde coletiva - CIPES. Brasilia: Fundacao kellog e Associacao Brasileira de Enfermagem, 3, 306-324.
     
    D’Espiney Luísa (2008). “Enfermagem: de velhos percursos a novos caminhos”, Sisifo – Revista de Ciências de Educação, 6, Maio/Agosto, 7-20.

    Elzinga, A. (1990). The knowledge aspect of professionalization: the case of science-based nursing education in Sweden. In R. Torstendahl & M. Burrage (Eds.), The formation of professions. Knowledge, state and strategy (pp. 151-173). London: Sage.

    Gaio, Gina (2008). “Género, carreiras e a relação entre o trabalho e a família: uma perspectiva de gestão”, e-cadernos ces, 1, 97-120. Acedido em [02Novembro 2009], http://www.ces.uc.pt/e-cadernos.

    Gottlieb, B., Kelloway, E. K. & Barham, E. (1998). Flexible working arrangements: Managing the work- family balance. Chichester: John Wiley & Sons.

    Guerreiro, M,Dores (2008). Transições na Relação Trabalho-família: Estratégias, Redes e Identidades. CIES-ISCTE. Lisboa – Relatório final

    Lopes, Noémia (2001). A Recomposição Profissional da Enfermagem: estudo sociológico em contexto hospitalar. Coimbra: Quarteto.

    Luk, D. & Shaffer, M. (2005). Work and family domain stressors and support: Withinand cross-domain influences on work-family conflict. Journal of Occupational and Organizational Psychology, 78, 489-508.

    Luz, D. (2005). Do fazer ao ser: representação social do enfermeiro para o aluno de enfermagem. Lisboa: Universidade Aberta. Tese de Doutoramento.

    OE – Ordem dos Enfermeiros (2003). Competências do enfermeiro de cuidados gerais. Conselho de Enfermagem.

    OE – Ordem dos Enfermeiros (2008). Enfermagem em Portugal. Ordem dos Enfermeiros 10 anos.

    Peres, A & Ciampone, M. H. (2006). Gerência e competências gerais do enfermeiro. Texto & Contexto, 15, 492-499.

    Ribeiro, L.(1995). Cuidar e tratar: Formação em enfermagem e desenvolvimento sóciomoral. Lisboa: Educa e Sindicato dos Enfermeiros Portugueses.

    Rodrigues, M. Lourdes; Carapinheiro, Graça. 1998. “Profissões, protagonismos e estratégias” In Viegas, José M. L.; Costa, António F. (orgs.). Portugal, que modernidade?, Lisboa: CIES/Celta Editora, 147-164.

    Santana, Paula. (2005). Geografias da Saúde e do Desenvolvimento. Coimbra: Almedina.

    Santos, Boaventura (1992). “O Estado, a sociedade e as políticas de saúde em Portugal 1974-1988” In O Estado e a sociedade em Portugal (1974-1988), Porto: Afrontamento, 212-257 (2ª ed.).

    Simões, Joaquim; Amâncio, Lígia. (2004). “ Género e Enfermagem. Um estudo sobre a minoria masculina”, Sociologia, Problemas e Práticas, 44, 71-81.

    Simões, Jorge. (2004). Retrato político da saúde. Coimbra: Almedina.

    Voydanoff, P. (2002). Linkages between the work-family interface and work, family, and individual outcomes: An integrative model. Journal of Family Issues, 23 (1), 138-164.

    Wigens, L. (1997). The conflict between 'new nursing' and 'scientific management' as perceived by surgical nurses. Journal of Advanced Nursing, 25(6), 1116-1122.

     

    Informação do projeto

    • Data de início
    • Data de conclusão

      Em desenvolvimento

    • Linha Temática

      Care Systems, Organization, Models, and Technology

    • Project Team
      • Maria Manuela Frederico Ferreira RI
      • Fernando António Neto Teixeira Sousa