A inovação e o empreendedorismo, embora frequentemente associados ao desenvolvimento econômico e tecnológico, possuem profundas raízes históricas e sociais, refletindo significados entrelaçados que evoluíram ao longo dos séculos (Kuratko & Covin, 2024; Leite, Audretsch & Leite, 2024). Seu significado transcende a esfera comercial, englobando comportamentos, habilidades, princípios e processos evidentes nas práticas sociais. Assim, o empreendedorismo não se limita a uma dimensão económica mas estende-se à influência e ser influenciado por relações sociais, culturais e institucionais. Como campo de pesquisa, o empreendedorismo tem crescido em complexidade, integrando várias disciplinas e consolidando uma relevância multidimensional no século XIX e além (Landström & Lohrke, 2010). Esse crescimento levou os estudiosos a abordarem o empreendedorismo e a inovação de múltiplas perspectivas, enfatizando tudo, desde características comportamentais até estratégias geradoras de valor (Schumpeter, 1985; Drucker, 1985; Welter, Baker, & Wirsching, 2019; Parreira et al, 2018). O conceito de inovação, por sua vez, encontrou ressonância no início do século XX, quando se consolidou como um processo sistemático e essencial para o desenvolvimento econômico, abrangendo não apenas produtos, mas também processos, mercados e estruturas organizacionais (Schumpeter, 1985). Desde então, a inovação passou a ser entendida como crítica para a competitividade em inúmeros setores econômicos-uma visão impulsionada pela globalização e pelos avanços tecnológicos das últimas décadas (Leite, Audretsch & Leite, 2024). Embora inovação e empreendedorismo sejam frequentemente tratados como categorias complementares, nossa perspectiva sociológica propõe uma análise dos significados da inovação como produção social, observando como ela reconfigura os limites éticos e morais do empreendedorismo. A interação semântica entre inovação e empreendedorismo é complexa, e o campo científico ainda não alcançou consenso sobre suas definições. O trabalho de Drucker em “Inovação e Empreendedorismo” enfatiza a inovação como um impulsionador intrínseco do empreendedorismo, essencial para implementar novas ideias (Drucker, 1985). Enquanto isso, a perspectiva de Christensen em “O Dilema do Inovador” enfatiza a inovação como um conjunto de princípios estratégicos necessários para introduzir produtos e serviços que respondam às demandas emergentes (Christensen, 2003). Estes trabalhos refletem as diversas formas pelas quais a inovação e o empreendedorismo interligam-se e reforçam-se mutuamente na teoria e na prática. No entanto, o uso desses termos no discurso social reflete disputas de significado. Para alguns, a "inovação" implica um escopo que inclui o próprio conceito de empreendedorismo, enquanto para outros, o empreendedorismo assume uma posição mais central, ligada à história das instituições e aos padrões trabalhistas capitalistas (Landström et al., 2012). Com a evolução do capitalismo industrial, o termo "empreendedorismo" passou a captar transformações nas dinâmicas sociais e econômicas, por vezes criticadas como portadoras de uma ideologia neoliberal que desloca as responsabilidades coletivas para os indivíduos (Carmo et al., 2021). Feitas as considerações iniciais sobre inovação e empreendedorismo, vale ponderar sobre o que aqui se chamam de “competências empreendedoras” Essa expressão é amplamente usada em estudos sobre empreendedorismo e educação empreendedora (Zampier & Takahashi, 2011), e, embora não seja atribuída exclusivamente a um único autor, aqui destacam-se dois pesquisadores influentes que ajudaram a consolidar a ideia. Para pensar as “competências empreendedoras” a partir de um ponto de vista que dialogue com a proposta da presente pesquisa, cumpre destacar os trabalhos de Peter Drucker e David McClelland. O anteriormente mencionado Peter Drucker, um dos pioneiros na área de Administração, contribuiu significativamente para o entendimento do empreendedorismo, e sustentava que o empreendedorismo era uma prática e poderia ser aprendido (Drucker, 1985). A relação destas reflexões com o ensino em Enfermagem se faz mister quando observa-se as possíveis contribuições que a investigação e aprendizagem voltadas para o empreendedorismo podem trazer, seja em termos de compreensão das competências empreendedoras (Parreira et al, 2018), seja em termos de análise das intenções e motivações vinculadas às ações empreendedoras (Mónico et al, 2021).
Introdução: A capacidade para inovar e empreender constitui a essência de uma prática criativa, geradora de repercussões positivas para o indivíduo e para a sociedade, sendo por isso importante formar os estudantes de Ensino Superior, oferecendo formação aprimorada nos temas da inovação e empreendedorismo. A adoção de comportamentos inovadores e a aquisição de competências empreendedoras por parte dos profissionais de saúde, são determinantes para o acesso a novos recursos e renovação estratégica dos sistemas/serviços de saúde, dotando-os de respostas rápidas a desafios emergentes com desenvolvimento de novas competências, gerando melhoria na prestação de cuidados de saúde e com repercussões econômicas para as organizações. Objetivo: A presente proposta consiste em analisar o perfil de competências empreendedoras de estudantes de graduação em Enfermagem de uma universidade brasileira. Métodos: Propõe-se a adaptação cultural e linguística dos instrumentos “HEInnovate”, “EntreComp” e “PsyCap”, utilizando uma amostra não probabilística de conveniência com estudantes de cursos de Graduação em Enfermagem. Resultados esperados: Espera-se, com este estudo, analisar competências de Inovação e Empreendedorismo que fomentem o aprimoramento das práticas de ensino em prol do empoderamento de jovens e adultos como agentes econômicos, sociais e políticos.
Objetivo Geral
Analisar o perfil de competências de Inovação e Empreendedorismo de estudantes de Graduação em Enfermagem brasileiros.
Objetivos Específicos
Efetuar a validação cultural e linguística dos instrumentos “EntreComp”, “HEInnovate” e “PSycap”;
Conhecer o perfil dos estudantes de graduação de Enfermagem, em termos de competências de Inovação e Empreendedorismo, com especial atenção às iniciativas de ensino e extensão universitárias;
Propor uma unidade curricular sobre Inovação e Empreendedorismo para estudantes do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ), baseada nos perfis obtidos;
Elaborar material orientativo para a concepção de um observatório na área do Empreendedorismo em Enfermagem.
Considerando que a Inovação e o Empreendedorismo, juntamente com a Internacionalização, são pilares essenciais na agenda global de desenvolvimento social, a aplicação das ferramentas “HEInnovate”, “EntreComp” e “PsyCap” neste estudo permitirá a realização de estudos de adaptação cultural e linguística dos referidos instrumentos, conhecer o perfil dos estudantes de modo a qualificar o currículo de formação em nível de graduação, além de perspectivar a promoção de uma integração estratégica para estimular a participação de pesquisadoras brasileiras em redes de pesquisa internacionais, consolidando expertises compartilhadas em Empreendedorismo e Inovação.
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01/01/2025
10/01/2026
Estudos e Práticas Empreendedoras
Care Systems, Organization, Models, and Technology