A PBE tornou-se, a nível mundial, uma preocupação central em todos os setores da saúde.
O recurso a uma cultura de PBE é crucial nos contextos de prática clínica, uma vez que a translação dos resultados emergidos da investigação para a prática, conduz ao pensamento crítico, à segurança na tomada de decisão, à qualidade dos cuidados e fomenta a expansão da enfermagem enquanto ciência, aumenta a sua credibilidade e promove a sua influência nas políticas de saúde (Peixoto et al., 2017; Pina, 2020).
Contudo, apesar de haver um número crescente de investigadores e de estudos em enfermagem, a literatura sugere que a prática atual é frequentemente baseada na experiência, tradição e intuição e não na evidência, revelando que ainda há muitos enfermeiros com ausência de conhecimentos de pesquisa e habilidades de compreensão e interpretação dos resultados dos estudos (Moreno-Casbas et. al, 2011).
Os enfermeiros são reconhecidos mundialmente pelo papel proeminente na melhoria dos resultados em saúde, pelo que é imprescindível o investimento na atualização constante dos conhecimentos e um processo de formação contínua que permita acompanhar o desenvolvimento científico e tecnológico progressivo da saúde e da sociedade (WHO, 2021; Vázquez-Calatayud et al., 2021). Na verdade, a formação contínua aliada à PBE, fomenta o desenvolvimento de competências, promove a melhoria da qualidade dos cuidados, orienta a tomada de decisão, o que confere aos enfermeiros ser a força motriz para provocar mudanças efetivas nos seus contextos (Machado et al., 2021).
A existência de uma política e prática de formação contínua nas organizações de saúde fomenta o desenvolvimento profissional e a qualidade dos cuidados prestados. Segundo a Ordem dos Enfermeiros (OE, 2019) é crucial cimentar e desenvolver uma cultura de PBE, com a implementação sistemática das boas práticas relativas aos cuidados de enfermagem. Refere também, que em cada contexto de prática clínica deve ser nomeado um enfermeiro que seja responsável pela coordenação da formação contínua, o qual constitui um elemento decisivo “na promoção de sinergias na perspetiva da coordenação e otimização do local do processo de formação contínua” (p. 55).
Preconiza-se que o enfermeiro, responsável pela coordenação da formação contínua, seja prioritariamente especialista, uma vez que baseia a sua praxis clínica em evidência científica, atua como formador oportuno, gere programas formativos, favorece o desenvolvimento de habilidades e competências dos enfermeiros da equipa, sustenta a prática clínica em evidência científica, fomenta a incorporação do novo conhecimento no contexto de trabalho, interpreta, organiza e divulga resultados provenientes da evidência (Regulamento n.º 140/2019).
Dadas as competências descritas, o enfermeiro especialista, responsável pela coordenação da formação contínua, está em posição chave para promover e facilitar os cuidados de enfermagem baseados em evidências. Estes, podem desempenhar um papel fundamental na disseminação e implementação de uma cultura de PBE, em contexto de equipa. Contudo, pouco se sabe sobre o seu envolvimento na PBE (Malik et. al, 2015).
Estudos internacionais corroboram a importância de facilitadores internos, e enfatizam o seu papel para apoiar o processo de mudança cultural para cuidados de enfermagem baseados em evidência, nomeando-os como nurse educators, clinical coaches e nurse specialists (Malik et al., 2016). A nível nacional, os elementos descritos comparam-se aos enfermeiros, responsáveis pela coordenação da formação contínua, pelo que são estes enfermeiros que estão em posição central para serem os facilitadores no processo de mudança.
Mesmo a nível internacional, estudos que englobam estes facilitadores são escassos, apesar da sua posição, no seio das equipas, como membros confiáveis, conhecedores e influentes nos seus ambientes de cuidados de saúde (Malik et. al, 2016).
Em Portugal, nesta área, não há evidência de estudos efetuados que explorem as perceções individuais destes enfermeiros sobre a PBE e sobre o seu papel na translação do conhecimento aos contextos da prática.
Portanto, dada a insuficiente investigação que aborda como estes enfermeiros são promotores de um ambiente que beneficia a translação da evidência, torna-se importante compreender as suas perceções sobre a PBE, os fatores que a promovem, as barreiras, e as estratégias que utilizam na sua implementação na sua perspetiva (Malik et. al, 2016).
A PBE assenta na tomada de decisão clínica informada pela melhor evidência científica disponível, tendo em consideração o contexto de prestação dos cuidados, a preferência do cliente e o juízo clínico dos profissionais de saúde. A PBE é fundamental nas organizações de saúde porque permite a implementação das melhores práticas, porque acrescenta valor, qualidade e segurança aos cuidados de saúde.
Nos últimos anos, a investigação na área da PBE desenvolveu estudos para identificar os obstáculos e os fatores que facilitam a integração da PBE na perspetiva dos enfermeiros. A literatura identifica que algumas dessas barreiras são a falta de conhecimentos sobre a PBE, a falta de confiança e de recursos. A literatura revela que a presença de facilitadores que defendam a PBE nos contextos clínicos é uma das estratégias mais produtivas para superar as inúmeras barreiras na implementação da PBE e a manutenção da sua sustentabilidade. A nível nacional, os enfermeiros responsáveis pela coordenação da formação contínua estão numa posição privilegiada para a promoção da PBE, uma vez que podem assumir-se como facilitadores e promotores da PBE nos ambientes de práticas. Neste sentido, torna-se relevante conhecer a forma como estes elementos percecionam a PBE, assim como, a forma como a promovem nos ambientes de práticas.
Conhecer as perspetivas dos enfermeiros responsáveis pela formação em serviço de um hospital da região centro de Portugal sobre a PBE;
Conhecer as perceções dos enfermeiros responsáveis pela coordenação da formação contínua sobre o impacto da PBE nos resultados em saúde;
Conhecer as perceções dos enfermeiros responsáveis pela coordenação da formação contínua sobre os recursos necessários para a implementação da PBE;
Conhecer as perceções dos enfermeiros responsáveis pela coordenação da formação contínua sobre as estratégias a utilizar para a promoção da PBE;
Conhecer as perceções dos enfermeiros responsáveis pela coordenação da formação contínua sobre as barreiras e os facilitadores à implementação da PBE.
Consideramos que ao disponibilizar o mais recente conhecimento sobre como os enfermeiros responsáveis pela coordenação da formação contínua percecionam a PBE e a sua perceção do impacto nos resultados em saúde, possamos contribuir para tomadas de decisão em saúde mais informadas a nível individual e organizacional, para assim, também contribuir para a melhoria da qualidade e segurança dos cuidados e redução de custos em saúde. Aspiramos contribuir para a transformação dos contextos de prática clínica com a incorporação da melhor evidência disponível e evidenciar a importância do papel dos enfermeiros responsáveis pela formação contínua neste processo.
Não aplicávelApóstolo, J. (2017). Síntese da evidência no contexto da translação da ciência. Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Recuperado de https://www.researchgate.net/publication/322861762_Sintese_da_evidencia_no_ contexto_da_translacao_da_ciencia
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30/06/2023
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Care Systems, Organization, Models, and Technology