Os Cuidados de Saúde Informados pela Evidência são uma abordagem para a tomada de decisão clínica que considera a melhor evidência disponível em termos de viabilidade, adequação, significado e efetividade dos cuidados de saúde, tendo em conta a expertise do profissional de saúde, as preferências dos utentes, e o contexto de prestação de cuidados de saúde (International Council of Nurses, 2012; Jordan et al., 2019). A utilização desta abordagem para a tomada de decisão em saúde permite assegurar melhores resultados em saúde ao mesmo tempo que permite reduzir os custos em saúde (Melnyk et al. 2014).
Contudo, estudos têm demonstrado que existe uma lacuna entre a investigação produzida e a sua implementação na prática clínica, reportando que apenas cerca de 60% dos cuidados de saúde prestados são de acordo com a melhor evidência disponível (Braithwaite, 2018; Braithwaite et al., 2020; McGlynn et al., 2003; Runciman et al., 2012; Schuster et al., 1998).
Na tentativa de reduzir esta lacuna, tem-se apostado na área da implementação da evidência, existindo diversos modelos/quadros conceptuais que a orientam. A Implementação da Evidência é uma das fases do Modelo dos Cuidados de Saúde Baseados na Evidência proposto pelo JBI e pode considerar-se como um conjunto de atividades intencionais e facilitadoras, que informa a tomada de decisão e origina uma melhoria sustentada na qualidade dos cuidados de saúde e na segurança da pessoa (Jordan et al., 2019).
O JBI propõe uma abordagem à implementação, que considera três pilares: a análise do contexto, a facilitação para a mudança, e a avaliação do processo e resultados e que se operacionaliza em sete passos: (1) identificar a área problemática; (2) envolver os agentes de mudança; (3) avaliar o contexto e a disponibilidade para a mudança; (4) rever as práticas tendo em conta os critérios baseados em evidência; (5) implementar a mudança utilizando o método GRiP (Getting Research into Practice - colocando a evidência na prática); (6) reavaliar a prática; e (7) considerar a sustentabilidade (Munn et al., 2020).
A efetividade dos projetos de implementação está associada a uma forte liderança de equipas; ao apoio organizacional; à existência de recursos humanos e financeiros; de uma cultura positiva de PBE, e ao envolvimento dos elementos das equipas em todas as fases do processo (McNett et al., 2022; Khoddam et al., 2023). A título de exemplo, no estudo de Khoddam et al. (2023), cujo objetivo era discutir as perceções e experiências de enfermeiros na criação e implementação de evidências e as mudanças ocorridas no contexto e na prática na gestão da dor de neonatos hospitalizados, concluíram que, apesar de diversas barreiras, a participação dos elementos das equipas nas várias fases de desenvolvimento, implementação e avaliação eram a chave para o sucesso e para a mudança na prática. Similarmente, o estudo de Mcnett et al. (2022) examinou as barreiras e facilitadores da implementação da PBE em mentores especializados em PBE, e concluiu que o envolvimento dos stakeholders era visto tanto como facilitador, na sua presença, ou como barreira, na sua ausência.
A experiência das pessoas envolvidas em projetos de implementação da evidência pode ser um elemento relevante para o sucesso dos mesmos. Assim, deve ser monitorizada e compreendida de modo a facilitar a definição de estratégias de futuros projetos, nomeadamente relacionadas com as estratégias de envolvimento dos elementos das equipas. No contexto português, têm sido desenvolvidos projetos de implementação da evidência de acordo com a metodologia do JBI, como é o caso do projeto desenvolvido por Marques & Neves (2023) cuja área de melhoria foi a gestão da doença crónica; o estudo de Coutinho et al. (2022) cujo foco de interesse foi a prevenção de eventos adversos com a administração de medicação, e o projeto desenvolvido por Fernandes et al. (2022), que se focou na melhoria das práticas associadas aos cuidados na entubação nasogástrica.
Contudo, não foram identificados estudos que permitam conhecer a forma como os elementos das equipas percecionam este processo. Neste sentido, torna-se premente explorar as perspetivas e opiniões de elementos das equipas envolvidos em projetos de implementação da evidência, de acordo com o modelo JBI, em contextos clínicos portugueses, sobre o processo de implementação.
A prática de Cuidados de Saúde Informados pela Evidência (CSIPE) é central para a tomada de decisão clínica, integrando a melhor evidência disponível, a expertise profissional, as preferências dos utentes e o contexto assistencial. Esta abordagem tem demonstrado melhorar resultados em saúde e reduzir custos; contudo, apenas cerca de 60% dos cuidados são prestados de acordo com a evidência atual. Para reduzir esta lacuna, a Implementação da Evidência assume-se como uma fase essencial do modelo JBI, sustentada em sete passos que incluem a identificação da área problemática, o envolvimento de agentes de mudança, a avaliação do contexto, a implementação pelo método GRiP e a sustentabilidade. A efetividade dos projetos depende de fatores como liderança, cultura institucional, recursos e envolvimento das equipas. Estudos internacionais destacam que a participação ativa dos profissionais em todas as fases é determinante para o sucesso. Em Portugal, têm sido desenvolvidos projetos de implementação segundo a metodologia JBI em áreas diversas, como gestão da doença crónica, prevenção de eventos adversos e cuidados associados a entubação. Contudo, não existem estudos que explorem as perceções dos profissionais envolvidos. Assim, torna-se pertinente analisar as suas experiências e opiniões sobre o processo de implementação da evidência, identificando facilitadores e barreiras que orientem estratégias para futuros projetos em contextos clí
Objetivos do Estudo:
• Explorar as perspetivas e opiniões de elementos das equipas multidisciplinares envolvidos em projetos de implementação da evidência, de acordo com o modelo JBI, em contextos clínicos portugueses, sobre o processo de implementação.
Questões de investigação
• Quais as opiniões/perspetivas dos profissionais de saúde envolvidos em projetos de implementação da evidência com base no modelo JBI sobre o processo de implementação e o seu envolvimento nesse processo?
• Quais foram os principais facilitadores e barreiras percebidos pelos profissionais de saúde relativamente ao seu envolvimento durante o processo de implementação da evidência com base no modelo JBI?
• Como percecionam os profissionais de saúde a aplicabilidade e utilidade da abordagem JBI à implementação da evidência no seu contexto clínico?
• Qual é o impacto percecionado da implementação da evidência, segundo a abordagem JBI, na qualidade dos cuidados de saúde prestados?
• Que sugestões e recomendações apresentam os profissionais de saúde para melhorar futuros processos de implementação da evidência com base na abordagem JBI?
Explora de forma inédita em Portugal as perceções dos profissionais de saúde na implementação da Prática Baseada em Evidência.
Produz conhecimento aplicado que pode orientar formações, políticas institucionais e melhorias organizacionais.
Valoriza os profissionais e aumenta a confiança da comunidade nos serviços de saúde.
Reforça o papel da academia como promotora de mudança social e de qualidade nos cuidados.
Não aplicável1. Braun, V., & Clarke, V. (2006). Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, 3(2), 77–101. https://doi.org/10.1191/1478088706qp063oa
2. Braithwaite, J. (2018). Changing how we think about healthcare improvement. BMJ, 361, k2014. https://doi.org/10.1136/bmj.k2014
3. Braithwaite, J., Glasziou, P., & Westbrook, J. (2020). The three numbers you need to know about healthcare: The 60-30-10 challenge. BMC Medicine, 18(1), 102. https://doi.org/10.1186/s12916-020-01563-4
4. Coutinho, V. R. D., de Oliveira Santos, C. M., Rodrigues, C. I., Santos, C. I. G., Apóstolo, J. L. A., Cardoso, D. F. B., ... & Klugar, M. (2022). Administration of chemotherapy in patients admitted to a haematology service: A best practice implementation project. JBI Evidence Implementation, 20(S1), S88–S97. https://doi.org/10.1097/XEB.0000000000000347
5. Fernandes, A. M., Henriques, P., Lourenço, A. R., Mateus, F., Santos, J., Marques, D., ... & Klugarová, J. (2022). Nasogastric tube care and flushing in a Portuguese general medicine ward: A best practice implementation project. JBI Evidence Implementation, 20(S1), S76–S87. https://doi.org/10.1097/XEB.0000000000000328
6. Grimshaw, J. M., Eccles, M. P., Lavis, J. N., Hill, S. J., & Squires, J. E. (2012). Knowledge translation of research findings. Implementation Science, 7(1), 50. https://doi.org/10.1186/1748-5908-7-50
7. International Council of Nurses. (2012). Closing the gap: From evidence to action. Geneva, Switzerland. https://www.nursingworld.org/~4aff6a/globalassets/practiceandpolicy/innovation--evidence/ind-kit-2012-for-nnas.pdf
8. Jordan, Z., Lockwood, C., Munn, Z., & Aromataris, E. (2019). The updated Joanna Briggs Institute model of evidence-based healthcare. JBI Evidence Implementation, 17(1), 58–71. https://doi.org/10.1097/XEB.0000000000000200
9. Khoddam, H., Modanloo, M., Mehrdad, N., Heydari, F., & Talebi, R. (2023). Nurses' experience of integrating evidence‐based changes into their practice: A qualitative study. Nursing Open. https://doi.org/10.1002/nop2.1898
10. McGlynn, E. A., Asch, S. M., Adams, J., Keesey, J., Hicks, J., DeCristofaro, A., & Kerr, E. A. (2003). The quality of health care delivered to adults in the United States. The New England Journal of Medicine, 348(26), 2635–2645. https://doi.org/10.1056/NEJMsa022615
11. McNett, M., Tucker, S., Zadvinskis, I., Tolles, D., Thomas, B., Gorsuch, P., & Gallagher-Ford, L. (2022). A qualitative force field analysis of facilitators and barriers to evidence-based practice in healthcare using an implementation framework. Global Implementation Research and Applications, 2(3), 195–208. https://doi.org/10.1007/s43477-022-00051-6
12. Melnyk, B. M., Gallagher‐Ford, L., Long, L. E., & Fineout‐Overholt, E. (2014). The establishment of evidence‐based practice competencies for practicing registered nurses and advanced practice nurses in real‐world clinical settings: Proficiencies to improve healthcare quality, reliability, patient outcomes, and costs. Worldviews on Evidence‐Based Nursing, 11(1), 5–15. https://doi.org/10.1111/wvn.12021
13. Munn, Z., McArthur, A., Porritt, K., Lizarondo, L., Moola, S., & Lockwood, C. (2020). Evidence implementation projects using an evidence-based audit and feedback approach: The JBI Implementation Framework. In K. Porritt, A. McArthur, C. Lockwood, & Z. Munn (Eds.), JBI handbook for evidence implementation (pp. 14–29). JBI. https://doi.org/10.46658/JBIIH-19-01
14. Neves, T. M. A., & Marques, A. M. (2022). Self-management plan of chronic disease among inpatients admitted to a Portuguese endocrinology unit: A best practice implementation project. JBI Evidence Implementation. https://doi.org/10.1097/XEB.0000000000000320
15. Runciman, W. B., Hunt, T. D., Hannaford, N. A., Hilbbert, P. D., Westbrook, J. I., Day, R. O., Hindmarsh, D. M., McGlynn, E. A., & Braithwaite, J. (2012). CareTrack: Assessing the appropriateness of health care delivery in Australia. Medical Journal of Australia, 197(2), 100–105. https://doi.org/10.5694/mja12.10510
16. Schuster, M. A., McGlynn, E. A., & Brook, R. H. (1998). How good is the quality of health care in the United States? The Milbank Quarterly, 76(4), 517–563. https://doi.org/10.1111/1468-0009.00105
15/09/2025
15/12/2026
Cuidados de saúde informados pela evidência para a transformação dos contextos de prestação de cuidados de saúde
Care Systems, Organization, Models, and Technology