A indisponibilidade de medicamentos representa um desafio crítico para os sistemas de saúde em todo o mundo, afetando diretamente as taxas de recuperação dos utentes e aumentando os custos de saúde. A indisponibilidade de medicamentos essenciais pode levar a atrasos no tratamento, erros de medicação, eventos adversos, tempos de recuperação prolongados e, em casos extremos, morte [1]. Esta situação resulta em frustração e ansiedade entre utentes e profissionais de saúde, além de comprometer a eficácia dos tratamentos disponíveis [1].
Concretamente, no Serviço de Urgência do polo Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) da Unidade Local de Saúde de Coimbra (ULSC), os técnicos auxiliares de saúde são solicitados em média 40 vezes por dia para se deslocarem à farmácia para aprovisionamento de medicamentos indisponíveis nos stocks dos diversos sectores do serviço. Essas deslocações consomem, em média, 30 minutos cada, ou sejam esses profissionais são sequestrados da sua atividade de apoio à prestação de cuidados de saúde, cerca de 20 horas todos os dias, num contexto onde já são escassos e alvo de múltiplas solicitações, que, não sendo executadas em tempo útil, tornam o serviço ineficiente, com impacto no trabalho de todos os outros profissionais e na demora do doente no serviço (ex. atraso na realização de meios complementares de diagnóstico).
Para mitigar esses desafios, a implementação de robôs de distribuição de fármacos tem mostrado resultados promissores. Estudos indicam que estes robôs podem reduzir significativamente os erros humanos nos processos de dispensa de medicamentos [2] e aumentar a eficiência ao absorver as cargas de trabalho crescentes [3]. Além disso, a robótica farmacêutica tem sido associada a uma maior precisão na disponibilização, com taxas de erro substancialmente diminuídas quando comparadas aos processos manuais [4]. Embora os robôs ainda exijam supervisão humana devido a possíveis erros mecânicos [2], o impacto geral na melhoria do fluxo de trabalho, redução de erros e aprimoramento dos resultados dos utentes é significativo.
Os robôs de distribuição de fármacos não apenas melhoram a precisão e eficiência dos processos de dispensa, mas também desempenham um papel crucial na melhoria dos resultados dos utentes e na redução dos custos de saúde. Estes dispositivos tecnológicos reforçam a adesão à medicação, agilizam o fluxo de trabalho dos farmacêuticos e reduzem os erros humanos no preenchimento de prescrições, resultando em melhor atendimento e segurança ao utente [5]. Além disso, a utilização de robótica em ambientes farmacêuticos têm demonstrado aumentar a precisão e os padrões de qualidade nos processos de entrega de medicamentos, contribuindo para a melhoria global dos sistemas de saúde [6].
Por fim, salvaguardar o fornecimento de medicamentos e atender às necessidades dos utentes em termos de quantidade, qualidade, custo e acessibilidade é uma prioridade estratégica de qualquer sistema de saúde eficiente [7]. Os produtos farmacêuticos representam uma parte significativa dos custos no sector da saúde devido aos seus elevados preços e aos requisitos rigorosos de armazenamento e controlo [8]. A cadeia de abastecimento farmacêutico enfrenta muitas ameaças que não apenas deterioram recursos valiosos, mas também interrompem a disponibilidade de medicamentos, exacerbando o problema da escassez [9]. Portanto, a adoção de tecnologias como a robótica farmacêutica é essencial para melhorar a resiliência e eficiência dos sistemas de saúde.
Ao longo dos últimos anos, tem havido uma crescente adoção, por parte dos hospitais, de robôs móveis em tarefas logísticas, tais como o transporte de materiais sujos, refeições e medicação. Contudo, estes robôs são, maioritariamente, soluções multifuncionais (ver Tabela 1.2), concebidas para executar um conjunto amplo de
tarefas, não estando, assim, preparados para transportar medicamentos sensíveis, os quais necessitam de serem conservados em condições controladas (e.g., temperatura e humidade) para garantir a sua eficácia.
Assim, este projecto, denominado por PharmaRobot, visa transformar a distribuição de medicamentos urgentes através de um sistema logístico multi-robô, com o objetivo estratégico de promover a sustentabilidade e eficiência dos recursos no setor da saúde, digitalizando e automatizando os processos de transporte e distribuição de medicamentos.
A disponibilidade imediata de medicamentos urgentes é crucial para o sucesso do tratamento de pacientes em situações críticas, não apenas salvando vidas, mas também reduzindo o sofrimento associado. A indisponibilidade de medicamentos no ponto de prestação de cuidados é um problema recorrente nos serviços hospitalares, comprometendo tanto a qualidade quanto a eficiência operacional desses serviços. No Serviço de Urgência dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), por exemplo, estima-se que profissionais de saúde dedicam até 20 horas diárias ao aprovisionamento de medicamentos urgentes indisponíveis.
O projeto PharmaRobot propõe a implementação de um sistema logístico de distribuição de medicamentos nos locais de administração fora das rotas de rotina baseado em robôs móveis autónomos. O objetivo é reduzir o tempo de espera, garantir a disponibilidade oportuna de medicamentos e libertar os técnicos auxiliares de saúde para outras tarefas mais relevantes. A inovação proposta abrange a criação de um sistema multi-robô, onde múltiplos robôs poderão operar em simultâneo para maximizar a eficiência e a rapidez na distribuição de medicamentos, respondendo a múltiplos pedidos simultaneamente.
Este robô será responsável por armazenar, transportar e entregar medicamentos, utilizando um sistema de navegação autónoma e adaptação contínua ao ambiente hospitalar, além de um sistema otimizado de gestão de pedidos.
- Desenvolver um robô logístico para a distribuição de fármacos urgentes, de forma a que o robô seja eficiente na execução das tarefas e se adapte continuamente aos cenários.
Dados recentes assinalam um crescimento de 14% nos últimos cinco anos do consumo de medicamentos, prevendo-se um aumento adicional de 12% até 2028, atingindo valores anuais de 3,8 biliões. Os gastos globais com medicamentos assinalam um crescimento de 35% nos últimos cinco anos, prevendo-se um aumento em 38% até 2028[1]. Tal situação deve-se a um conjunto de fatores, ligados ao envelhecimento da população mundial, ao aumento da esperança média de vida, ao aumento do número de doenças crónicas, à melhoria do acesso aos cuidados de saúde, ao aumento da utilização de cuidados de saúde e , ao aumento das soluções farmacológicas e ao custo da inovação [2,3,4].
Neste enquadramento surge a necessidade de novas abordagens inovadoras para a gestão dos medicamentos no sentido da melhoria da eficiência do serviço, da segurança do paciente e da otimização dos recursos humanos, transformando esses mesmos desafios em oportunidades [1,5]. De acordo com um relatório recente da Grand View Research, o tamanho do mercado global de robôs farmacêuticos deverá atingir US$ 357,9 milhões até 2030 denotando baixos custos operacionais, maior saúde e segurança, redução do tempo de inatividade, razões que motivam a implementação de robótica nos contextos hospitalares [6] em sistemas de condução autónoma para entrega de medicamentos hospitalares [7].
O envolvimento será assim numa vertente consultiva, através de painéis consultivos de cidadãos, numa abordagem interativa e sistemática com o intuito de obter opiniões. Serão ainda incluídos numa fase complementar os end-users na atividade 1 e 5.
[1] Abhishek, Bakare., Aditya, Bhargav. (2023). An assessment of the factors contributingto the unavailability of drugs at outpatient pharmacy of tertiary care hospital: anobservational study. F1000Research.
[2] Asmaa, R, Alahmari., Khawlah, K, Alrabghi., Ibrahim, M., Dighriri. (2022). An Overviewof the Current State and Perspectives of Pharmacy Robot and Medication DispensingTechnology. Cureus. 2022.
[3] Jane, M., Hogan., Jane, M., Hogan., Gary, Grant., Fiona, Kelly., Jennie, R., O’Hare.(2021). A time in motion study of impact of robotics on medication supply in anAustralian hospital pharmacy. Journal of pharmacy practice and research.
[4] Frank, Chen., Kelli, Ringressy., Kimberly, Andrews., Katharina, Corder. (2020). Impactof Decentralized Automated Dispensing Robotics Machine on Patient MedicationCompliance in an Institutional Ward at the Sam Rayburn Memorial Veterans Center.Journal of health informatics.
[5] Shaylee, Vekaria., Glenn, Boardman., Kenneth, Tam., Janice, Kho., Barry, Jenkins.,Matthew, Rawlins. (2021). Implementation of robotics in the Australian hospitalpharmacy dispensary: adding to the evidence. Journal of pharmacy practice andresearch.
[6] Digil, Biji, George., Rajesh, Kannan, Megalingam. (2022). Autonomous PharmaceuticalDispensing Robot.
[7] Abdollahiasl, A., Nikfar, S., Kebriaeezadeh, A., Dinarvand, R., Abdollahi, M.,Jaberidoost, M., & Cheraghali, A. M. (2015). Pharmaceutical supply chain risk assessmentin Iran using analytic hierarchy process (AHP) and simple additive weighting (SAW)methods. Journal of Pharmaceutical Health Services Research, 5(1), 57-69.
[8] Kelle, P., Woosley, J., & Schneider, H. (2012). Pharmaceutical supply chain specificsand inventory solutions for a hospital case. Operations Research for Health Care, 1(2),54-63.
[9]Jaberidoost, M., Nikfar, S., Abdollahiasl, A., & Dinarvand, R. (2013). Pharmaceuticalsupply chain risks: a systematic review. Daru : journal of Faculty of Pharmacy, TehranUniversity of Medical Sciences.
01/03/2025
28/02/2028
Inovação em Tecnologias dos Cuidados de Saúde: Estudo e desenvolvimento de soluções inovadoras
Care Systems, Organization, Models, and Technology