O percurso profissional no Serviço de Medicina Interna A, na Unidade Local de Saúde Coimbra/ Polo Hospitais da Universidade de Coimbra (MED A/ULSC/Polo HUC), permite-nos adquirir uma perspetiva construtiva e reflexiva do nosso desempenho, e ao mesmo tempo identificar áreas e processos críticos a melhorar na equipa nos ambientes da prática clínica, considerando-os como objeto de estudo da enfermagem. O Serviço de Medicina Interna A tem uma lotação de 28 camas, distribuídas por 14 quartos, dos quais 6 são individuais, o que permite uma gestão de internamento de utentes com necessidade de diversos tipos de isolamento e género. No Serviço referido, pudemos apurar que tem uma média de 10,40 dias de internamento, uma Taxa de Ocupação de 93,75%, uma Taxa de resolução do autocuidado de 8,09%, uma taxa de episódios com evolução positiva nos autocuidados de 38,21% e uma Taxa de episódios com evolução negativa nos autocuidados: 8,37%. (dashboard Enfermagem)
A grande maioria dos utentes de um serviço de medicina interna são portadores de patologias associadas, têm elevada faixa etária e com um elevado grau de dependência nos seus autocuidados. Estes doentes apresentam, em maioria, um elevado índice de gravidade e complexidade da sua situação clínica, o que exige uma diferenciação de cuidados na resposta a uma prática clínica centrada no utente e na sua capacitação, no papel do prestador e na utilização dos sistemas de informação.
A equipa de Enfermagem é constituída por 34 enfermeiros, sendo destes, um enfermeiro gestor, quatro enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação; dois enfermeiros especialistas em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, dois enfermeiros especialistas em Enfermagem Médico-cirúrgica e um enfermeiro especialista em enfermagem de Saúde Comunitária. A mudança das práticas deve ser um desígnio organizacional e a sua sustentabilidade um imperativo para que se prolongue para além do projeto de melhoria contínua. Práticas clínicas e cuidados de acordo com a mais recente evidência são indicador de qualidade e segurança nos cuidados. A polivalência de atividades que decorrem do exercício profissional, exige que a qualidade de cuidados, seja um ponto estratégico para planear e desenvolver projetos que valorizem e garantam a saúde individual dos doentes, e dos procedimentos realizados pelos profissionais de saúde. Assim, este projeto visa essencialmente a implementação de um programa de qualidade em saúde, baseado na prática profissional de acordo com a melhor evidência, na perspetiva da melhoria contínua do desempenho profissional, na higiene oral da pessoa adulta internada na medicina interna, promovendo a procura incessante de melhores práticas, e o envolvimento de todos os profissionais do Serviço de Medicina Interna A, no desenvolvimento de procedimentos da prática clínica segura e de cuidados de enfermagem dirigidos à prevenção de infeção e complicações.
Segundo Braithwaite et al. (2020) 60% das intervenções clínicas e cuidados estão de acordo com diretrizes baseadas em evidência ou consenso, 30% são de alguma forma desperdício ou de baixo valor e 10% são prejudiciais. O contexto da medicina interna integra esta avaliação. Apesar das orientações clínicas publicadas (ex: sumários de evidência JBI e normas da DGS), identificam-se lacunas entre estas e a prática corrente. Perante a perceção de que os critérios da melhor prática, nem sempre são cumpridos, e muito menos de forma integrada surge a necessidade deste projeto de implementação da evidência disponível por forma a capacitar os profissionais para melhorar a qualidade dos cuidados relacionados com a prevenção de complicações associadas à higiene oral, definindo para o desenvolvimento deste projeto a seguinte questão de investigação: Qual a melhor prática baseada na evidência, relacionada com a Higiene Oral, na pessoa adulta internada em contexto de medicina interna. Assim a implementação de um programa da melhoria contínua na medicina interna, visa pôr em ação um processo contínuo de atividades planeadas, baseado na revisão de procedimentos, e processos e no estabelecimento de metas, com o objetivo de melhorar a qualidade efetiva dos cuidados de saúde, na prossecução da qualidade, na medida em que o comportamento e desempenho funcional dos profissionais, está diretamente relacionado com a qualidade do serviço prestado. E de acordo com Regulamento da Competência em Gestão (OE, 76/2018), o enfermeiro gestor, deve garantir a prática profissional.
A higiene oral reduz os eventos adversos e promove a qualidade de vida dos adultos. No entanto, embora os enfermeiros reconheçam os seus benefícios, existem áreas de melhoria na implementação das melhores recomendações baseadas na evidência. O objetivo deste projeto é a promoção do cumprimento das recomendações baseadas na evidência Promoção da higiene oral em pessoas internadas num serviço de medicina interna: projeto de implementação de evidência. Este projeto seguirá a abordagem da Implementação de Evidências do JBI. Serão utilizados o JBI Practical Application of Clinical Evidence System (JBI PACES) e a ferramenta de auditoria e feedback Getting Research into Practice (GRiP). O processo de implementação será dividido em três fases: (i) estabelecer uma equipa de projeto e realizar a auditoria de baseline; (ii) fornecer feedback à equipa, identificar barreiras à implementação das melhores práticas e implementar estratégias utilizando o GRIP, e (iii) realizar uma auditoria de follow-up para avaliar os resultados e planear a sustentabilidade. Assim, a implementação bem-sucedida das recomendações baseadas em evidências sobre higiene oral em pessoas internadas em Medicina Interna, reduzirá os eventos adversos relacionados com os cuidados orais e poderá melhorar a qualidade dos cuidados das pessoas.
- Avaliar o contexto (readiness) através da utilização do instrumento “Prontidão Organizacional para a Implementação da Mudança”
- Identificar as melhores práticas baseadas na evidência da Higiene Oral, na pessoa adulta em contexto de medicina interna;
- Avaliar conformidades com as melhores práticas relacionadas com de acordo com as práticas recomendadas pela JBI e DGS (Programa Nacional Promoção de Saúde Oral)
- Promover a consciencialização e o conhecimento, da equipa, sobre as melhores práticas a desenvolver no serviço de medicina interna, de acordo com as normas descritas;
- Incrementar a conformidade da PBE relacionada com a Higiene Oral, na pessoa adulta em contexto de medicina interna e capacitar os profissionais para a adoção continuada e sustentada da mesma.
- Avaliar impacto da implementação e desenvolver programa de sustentabilidade;
Este projeto de implementação contribuirá para a promoção da higiene oral em pessoas internadas num serviço de medicina interna: projeto de implementação de evidência. A implementação de melhores práticas neste âmbito permite promover a qualidade dos cuidados de enfermagem a adultos internados em contextos de medicina, aumentar a segurança para a pessoa cuidada e prevenir eventos adversos e complicações associadas à falta de higiene oral. A utilização da abordagem do JBI para a implementação de evidência contribuirá para além da melhoria das práticas dos enfermeiros, a sustentabilidade do projeto no futuro.
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