Mais de 300 milhões de cirurgias são realizadas anualmente no mundo (Dobson, 2020). Em Portugal, cerca de 1 milhão de cirurgias foram realizadas em 2021, com 17,2% sendo ortopédicas (INE, 2023). As artroplastias de anca, joelho e ombro, tratamentos de fim de linha frequentes, em casos de osteoartrite, são motivadas pelo desgaste articular que resulta em dor e limitação funcional. Estima-se que 528 milhões de pessoas sofram de osteoartrite sintomática globalmente, sendo uma das principais causas de incapacidade em países com maior desenvolvimento socioeconómico (Steinmetz et al., 2023). Em Portugal, a doença representou 3,7% dos anos vividos com incapacidade em 2019, com aumento de 16,7% entre 2009 e 2019 (DGS, 2021). Com o envelhecimento populacional previsto até 2050 (UN, 2019), espera-se um aumento das cirurgias ortopédicas eletivas, como nos Estados Unidos da América, onde projeções indicam crescimento de 71% nas artroplastias de anca e 85% nas de joelho até 2030 (Sloan et al., 2018).
O cuidado perioperatório e os cuidados relacionados com as artroplastias exigem cuidados centrados na pessoa, que respeitem suas particularidades, envolvam suas famílias e cuidadores e promovam a participação ativa no processo de cuidados (Arakelian et al., 2017). Contudo, são descritas lacunas na comunicação, no consentimento e orientação prévia, causando ansiedade e insatisfação de todos os envolvidos (Falagas et al., 2009; Gobbo et al., 2020). Os enfermeiros são cruciais na equipa perioperatória, estabelecendo comunicação efetiva e coordenando cuidados para preparar adequadamente as pessoas e otimizar altas hospitalares (Chellam Singh & Arulappan, 2023).
A fragmentação nos cuidados, associada à falta de coordenação entre profissionais e organizações, afeta negativamente os resultados em saúde, elevando custos e as complicações pós-operatórias (Joo, 2023). Os modelos interprofissionais colaborativos podem mitigar esses problemas, promovendo melhores resultados e maior eficiência (Vatn & Dahl, 2022). A prática baseada em evidências otimiza também os resultados clínicos, reduz custos e promove a segurança, contudo, no contexto perioperatório, sua aplicação ainda enfrenta desafios relacionados à atualização e adesão (Connor et al., 2023).
Ferramentas como as "clinical pathways" podem ajudar a mitigar as limitações descritas. Estas representam intervenções complexas para a tomada de decisões e organização de processos de cuidado para um grupo bem definido de pessoas durante um período pre-definido (Vanhaecht, K. et al., 2010). Ajudam a padronizar cuidados, alinhar decisões clínicas e melhorar resultados sem impactar negativamente os custos hospitalares (Rotter et al., 2010). Em portugal, o Plano Nacional de Saúde (2021-2030) destaca a importância da integração de cuidados e do investimento em literacia da população, apontando as "clinical pathways" ou processos/percursos assistenciais integrados como uma estratégia para aprimorar a experiência e os resultados em saúde (DGS, 2021).
A procura por cuidados de saúde relacionados a problemas musculoesqueléticos, como a osteoartrite, continua a pressionar os sistemas de saúde. O aumento da esperança de vida e as expectativas relacionadas com a sua saúde levou uma abordagem de cuidados centrada na pessoa, que respeita a individualidade e o envolvimento no processo de cuidados. Apesar do consenso de que o indivíduo deve estar no centro dos cuidados, existe ainda uma falta de participação e envolvimento deste em todo o processo perioperatório. Os cuidados perioperatórios são interprofissionais e desenvolvem-se num contínuum (pré, intra e pós-operatório). Dada a multiplicidade de cuidados a que estão sujeitos, outros desafios comprometem o alcance de melhores resultados em saúde, como a fragmentação de cuidados e a variablidade das práticas. Estando estes associados a custos mais elevados, menor qualidade dos cuidados e piores resultados, incluindo aumento da morbilidade e mortalidade pós-operatória.Para minimizar a fragmentação, diminuir a variabilidade das práticas e promover um cuidado integrado, é sugerida a implementação de modelos mais proficiientes e produtivos através da colaboração interprofissional, como a implementação de "clinical pathways" (intervenção complexa para a tomada de decisões e organização de processos de cuidados para um grupo de pessoas durante um período de tempo bem definido).
OBJETIVO GERAL
• Avaliar a efetividade de uma "clinical pathway" liderada por enfermeiros em cirurgia eletiva de artroplastia da anca, do joelho e do ombro.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Descrever as experiências e perspetivas de pessoas submetidas a cirurgia eletiva sobre os cuidados perioperatórios;
• Mapear as "clinical pathways", os indicadores e ferramentas utilizadas para avaliar as artroplastias da anca, do joelho e do ombro;
• Validar uma "clinical pathway" em cirurgia eletiva de artroplastia da anca, joelho e ombro, envolvendo um painel de doentes, enfermeiros, médicos e gestores;
• Avaliar a efetividade de uma "clinical pathway" liderada por enfermeiros em cirurgia eletiva de artroplastia da anca, do joelho e do ombro.
Criar um projeto interprofissional, liderado por enfermeiros, que sirva de âncora para melhorar os ganhos em saúde para pessoas, profissionais e instituições.
Demonstrar a efetividade de uma clinical pathway para pessoas submetidas a artroplastias da anca, joelho e ombro.
Disponibilizar uma clinical pathway em que a pessoa está no centro dos cuidados, maximizando as condições e os resultados no processo de cirurgia artroplástica.
O cidadão será envolvido em todas as tarefas da investigação, embora só esteja prevista a sua participação direta na investigação como perito na tarefa 3 - Painel de Delphi para validação da "Clinical Pathway".
Arakelian, E., Swenne, C. L., Lindberg, S., Rudolfsson, G., & von Vogelsang, A.-C. (2017). The meaning of person-centred care in the perioperative nursing context from the patient’s perspective - an integrative review. Journal of Clinical Nursing, 26(17-18), 2527–2544. https://doi:10.1111/jocn.13639.
Chellam Singh, B., & Arulappan, J. (2023). Operating Room Nurses' Understanding of Their Roles and Responsibilities for Patient Care and Safety Measures in Intraoperative Practice. SAGE open nursing, 9, 23779608231186247. https://doi.org/10.1177/23779608231186247.
Connor, L., Dean, J., McNett, M., Tydings, D. M., Shrout, A., Gorsuch, P. F., ... & Gallagher‐Ford, L. (2023). Evidence‐based practice improves patient outcomes and healthcare system return on investment: findings from a scoping review. Worldviews on Evidence‐Based Nursing, 20(1), 6-15. https://doi.org/10.1111/wvn.12621.
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Falagas, M. E., Akrivos, P. D., Alexiou, V. G., Saridakis, V., Moutos, T., Peppas, G., & Kondilis, B. K. (2009). Patients’ Perception of Quality of Pre-Operative Informed Consent in Athens, Greece: A Pilot Study. PLoS ONE, 4(11), e8073. https://doi:10.1371/journal.pone.0008073.
Gobbo, M., Saldaña, R., Rodríguez, M., Jiménez, J., García-Vega, M. I., de Pedro, J. M., & Cea-Calvo, L. (2020). Patients’ experience and needs during perioperative care: a focus group study. Patient preference and adherence, 891-902. Chicago. https://doi.org/10.2147/PPA.S252670.
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Vanhaecht, K., Panella, M., van Zelm, R., & Sermeus, W. (2010). An overview on the history and concept of care pathways as complex interventions. International Journal of Care Pathways, 14(3), 117–123. https://doi:10.1258/jicp.2010.010019.
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05/01/2025
31/07/2027
Periop Safe Care – Raciocínio clínico dos enfermeiros e segurança do doente em contexto perioperatório
Care Systems, Organization, Models, and Technology