Promoting Safe Practices in the Preparation and Administration of Intravenous Therapy in Pediatrics: Effectiveness of a Multimodal Intervention Strategy

A segurança do doente constitui um princípio essencial da qualidade dos cuidados de saúde, reconhecido como direito fundamental e prioridade global (WHO, 2021, 2024). Em enfermagem, garantir cuidados de qualidade é imperativo ético, legal e profissional, sendo cada enfermeiro responsável pelos atos que pratica e pelas decisões que toma, mesmo quando delega. Assim, deve identificar e minimizar riscos, adotar práticas seguras e implementar estratégias de prevenção de erros clínicos (OE, 2019). Em pediatria, esta exigência é ainda mais relevante, dado o impacto dos cuidados no bem-estar da criança, na experiência familiar e nos resultados sensíveis à enfermagem (D’Errico et al., 2022).

A terapêutica medicamentosa é uma das áreas de maior risco, responsável por near misses e eventos adversos em cerca de 1 em cada 10 doentes hospitalizados (WHO, 2021, 2023b). As crianças apresentam vulnerabilidade acrescida devido ao cálculo complexo de doses (muitas vezes ajustadas ao peso), utilização de fármacos off-label, escassez de formulações pediátricas e menor margem de segurança farmacológica (WHO, 2023a). Estima-se que 14 a 31% dos erros em pediatria resultem em dano ou morte (D’Errico et al., 2022). Até 70% dos erros estão ligados à administração de fármacos (Marufu et al., 2022), sendo o risco pediátrico até três vezes superior ao dos adultos. A administração endovenosa é a mais crítica, com prevalência de erros até 67,5% em unidades neonatais (Basil et al., 2022).

Neste contexto, a preparação e administração endovenosa de fármacos em pediatria constitui área nuclear da prática de enfermagem, pela especificidade dos medicamentos, cálculo exigente das doses e variabilidade da resposta farmacológica (D’Errico et al., 2022). Este quadro exige atuação pautada pela autonomia, responsabilidade, qualidade, segurança, formação contínua e compromisso ético-profissional (OE, 2015, 2019). O objetivo é assegurar cuidados seguros, eficazes e centrados na criança e na família.

Em Portugal, a evidência nesta área é ainda escassa, maioritariamente descritiva. Em 2009, Alves identificou que 20% dos enfermeiros pediátricos percecionavam erros frequentes na administração, 15% na preparação e 30% na monitorização. Mais recentemente, Albuquerque & Ferreira (2022) verificaram que, embora a maioria percecione os erros como raros, 6,7% referiram ocorrência ocasional na administração, 13,3% na preparação e 11,1% na monitorização. Destacaram ainda barreiras à notificação, como medo de represálias (70,8%) e receio de julgamento (33,3%).Face a estes dados, é urgente desenvolver estratégias de intervenção baseadas na melhor evidência, alinhadas com o Plano Nacional para a Segurança dos Doentes 2021–2026. Internacionalmente, a OMS tem investido em estratégias multimodais, que conjugam formação, auditoria, feedback e reflexão sobre a cultura de segurança. Estas abordagens, ao integrar múltiplos componentes, favorecem a mudança de comportamentos profissionais e promovem melhorias sustentáveis (WHO, 2009).

Deste enquadramento emerge a questão de investigação: Qual a efetividade de uma estratégia de intervenção multimodal na adesão a práticas seguras de preparação e administração de terapêutica endovenosa por enfermeiros em contexto pediátrico hospitalar?

O modelo de segurança da pessoa de Affonso et al. (2003) fornece base conceptual para compreender a segurança da medicação pediátrica, articulando tecnologia, fatores humanos, cultura organizacional e processos de cuidado. Complementarmente, o Nurse Role Effectiveness Model (Irvine et al., 1998) permite analisar como fatores estruturais e processuais influenciam diretamente os resultados sensíveis à enfermagem, como a ocorrência de erros ou quase-erros.

Este projeto alinha-se com o Plano Global para a Segurança do Doente 2021–2030 (WHO, 2021), que defende práticas clínicas seguras, fortalecimento da cultura de segurança, capacitação profissional e sistemas de monitorização de eventos adversos. Contribui ainda para o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3 da Agenda 2030 da ONU, em particular a meta 3.2 (redução da mortalidade infantil evitável) e a meta 3.8 (acesso universal a cuidados de qualidade).

A segurança clínica é, para os enfermeiros, um imperativo ético e não apenas regulamentar. Apesar dos progressos neste âmbito, evidência internacional sugere taxas relevantes de quase-eventos e eventos adversos, sobretudo em populações vulneráveis como a pediátrica. Nesta, a preparação e administração de terapêutica endovenosa é uma das principais causas de erro clínico, uma área de intervenção relevante para a Enfermagem. A promoção de práticas seguras exige estratégias abrangentes, baseadas na melhor evidência científica. Neste contexto, pretende-se avaliar a efetividade de uma Estratégia de Intervenção Multimodal (EIM) na promoção de práticas seguras de preparação e administração de terapêutica endovenosa por enfermeiros de uma unidade pediátrica hospitalar. O estudo assenta nos modelos teóricos de Affonso et al. (2003), Irvine et al. (1998) e no Consolidated Framework for Implementation Research (Damschroder et al., 2009), e desenvolve-se em quatro fases: (1) scoping review de intervenções lideradas por enfermeiros na segurança da terapêutica pediátrica; (2) estudo observacional das práticas da equipa; (3) estudo Delphi modificado para validar a EIM codesenvolvida com utilizadores; (4) implementação da EIM em contexto clínico e análise comparativa de práticas. Pretende-se uma EIM promotora de práticas seguras, transferível para outras unidades pediátricas, em consonância com o Plano Global da OMS (2021–2030) e Agenda 2030.

Objetivo geral: Avaliar a efetividade de uma estratégia de intervenção multimodal na adesão a práticas seguras de preparação e administração de terapêutica medicamentosa endovenosa por enfermeiros num serviço de pediatria hospitalar.

Objetivos Específicos (OEsp):

1. Mapear intervenções promovidas ou coordenadas por enfermeiros que visam práticas seguras de preparação e administração de terapêutica medicamentosa endovenosa em contexto pediátrico;

2. Avaliar as práticas de preparação e administração de terapêutica medicamentosa endovenosa da equipa de enfermagem de um serviço pediátrico hospitalar e relacioná-las com as suas experiências em situações de erro na prática clínica;

3. Validar uma estratégia de intervenção multimodal, codesenvolvida com os seus utilizadores finais, promotora de práticas seguras de preparação e administração de terapêutica medicamentosa endovenosa;

4. Avaliar as práticas de preparação e administração de terapêutica medicamentosa endovenosa da equipa de enfermagem de um serviço pediátrico hospitalar após a implementação da estratégia de intervenção multimodal codesenvolvida.

O carácter inovador deste projeto assenta na conceção, desenvolvimento e validação, em contexto pediátrico hospitalar, de uma estratégia de intervenção multimodal (EIM) codesenhada com Enfermeiros, os seus utilizadores finais, integrando evidência científica atualizada, práticas clínicas observadas e parecer de peritos internacionais, com vista ao reforço da capacitação profissional. A articulação de diferentes métodos de investigação (e.g., revisão sistemática, observação em contexto clínico, painel Delphi modificado) permitirá produzir conhecimento sólido e contextualizado, num domínio em que a investigação nacional permanece limitada e essencialmente descritiva.

O impacte para a sociedade e para o cidadão traduzir-se-á na redução de erros de medicação e na prevenção de eventos adversos em crianças, promovendo maior confiança das famílias nos serviços de saúde e garantindo cuidados mais seguros, eficazes e humanizados. Ao fortalecer a cultura de segurança e capacitar os enfermeiros para práticas baseadas na melhor evidência, o projeto contribuirá para a qualidade e sustentabilidade do sistema de saúde, em consonância com o Plano Nacional para a Segurança do Doente 2021–2026, o Plano Global da OMS 2021–2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030. Com potencial de transferibilidade para outras unidades pediátricas nacionais, esta investigação reforça a cidadania em saúde e a proteção de grupos particularmente vulneráveis.

O projeto privilegia abordagens colaborativas e de coprodução no envolvimento do cidadão, entendendo os enfermeiros da equipa de enfermagem do contexto em estudo como participantes centrais e coinvestigadores. Na vertente colaborativa, estes profissionais serão envolvidos de forma ativa em diferentes etapas, como na análise crítica de materiais de estudo ou participação em workshops de discussão sobre práticas seguras de preparação e administração de terapêutica endovenosa. Esta participação reforça a pertinência da metodologia adotada, assegurando a adequação da intervenção ao contexto pediátrico hospitalar e aumentando a aceitabilidade das propostas de mudança.

No plano da coprodução, os enfermeiros assumirão um papel ativo como cocriadores da Estratégia de Intervenção Multimodal (EIM), participando, em igualdade de decisão, no desenho, validação e implementação da mesma. Serão decisores em momentos-chave da investigação, designadamente na definição de prioridades, no codesenho dos bundles clínicos e na discussão dos resultados. Paralelamente, a inclusão de peritos internacionais, enquanto parceiros estratégicos, assegurará a incorporação da melhor evidência disponível e o alinhamento com práticas de referência a nível global.

Este modelo de envolvimento não apenas potencia a qualidade e relevância da investigação, como reforça a apropriação dos resultados pela equipa clínica e a sua sustentabilidade a longo prazo, promovendo impacte efetivo nos cuidados pediátricos e contribuindo para a consolidação de uma cultura de segurança partilhada.

  • Sigma Theta Tau International - Capítulo Phi Xi
  • Associação Portuguesa de Acessos Vasculares (APoAVa)
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    Albuquerque, D. R., & Ferreira, P. (2022). Perceção dos enfermeiros acerca do erro terapêutico nos serviços de pediatria.

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    Basil, J. H., Premakumar, C. M., Ali, A. M., Tahir, N. A. M., & Shah, N. M. (2022). Prevalence, causes and severity of medication administration errors in the Neonatal Intensive Care Unit: a systematic review and meta-analysis. Drug Safety, 45(12), 1457–1476. https://doi.org/10.1007/s40264-022-01236-6

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    Informação do projeto

    • Data de Início

      01/10/2024

    • Data de conclusão

      30/06/2028

    • Projeto Estruturante

      Periop Safe Care – Raciocínio clínico dos enfermeiros e segurança do doente em contexto perioperatório

    • Linha Temática

      Care Systems, Organization, Models, and Technology

    • Target population
      • Enfermeiros em serviço de pediatria hospitalar
    • Palavras-chave
      • Enfermagem Pediátrica
      • Administração Intravenosa
      • Segurança do Paciente
      • Ciência da Implementação
      • Prática Clínica Baseada em Evidências
    • Áreas prioritárias
      • Segurança do doente e efetividade dos cuidados
      • Formação e desenvolvimento dos profissionais de saúde
    • ODS da Agenda 2030 das Nações Unida
      • Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
    • Equipa de Projeto
      • Diana Rosa Soares da Costa Albuquerque IR
      • Márcia Noélia Pestana dos Santos
      • Paulo Jorge dos Santos Costa