Soluções inovadoras no gerenciamento sustentável dos resíduos plásticos reciclados do tratamento do Diabetes: uma proposta de economia circular

Na análise da relação associada entre o desperdício e a tecnologia do tratamento relacionada ao Diabetes Mellitus, nota-se que o produto real para o gerenciamento da doença pode ser composto por apenas 10% dos materiais envolvidos, enquanto os outros 90% consistem em embalagens que se tornarão resíduos.

Trata-se de uma problemática em que, à medida que a população mundial se expande, impacta no aumento da geração de resíduos. Segundo o relatório What a Waste 2.0 do Banco Mundial, último publicado referente a temática em pauta, são produzidas 2,01 bilhões de toneladas de resíduos sólidos no mundo anualmente, e pelo menos 33% desse material possui gestão ambiental inadequada.

As mudanças dos resíduos sólidos nas últimas décadas são evidentes, tanto na evolução de sua composição, quanto na complexidade tecnológica de gerenciamento que amenizam impactos ao meio ambiente, porém aumentam o custo do gerenciamento dos resíduos.

No tratamento do diabetes, a tecnologia aumenta gradativamente, os medicamentos e dispositivos usados para os injetáveis, e os dispositivos e materiais usados para realizar a monitorização da glicose constituem importante fonte geradora de resíduos perfurocortantes, biológicos e químicos nos serviços de saúde e na residência de indivíduos com diabetes.

A prática dos descartes de seringas e agulhas no domicílio quase triplicou entre os anos de 2001 a 2011, resultando em maiores riscos de exposição aos trabalhadores que realizam a separação do lixo. Neste contexto, a produção desses resíduos aumenta gradativamente, o que torna intrigante a necessidade da adequação das políticas públicas de saúde.

Um marco para o tratamento do diabetes ocorreu em 2017 em que o Sistema Único de Saúde incorpora a dispensação de canetas descartáveis preenchidas com insulinas , análogos de insulinas rápida e prolongada em canetas descartáveis e agulha curta para canetas (BRASIL, 2017). A partir da divulgação da Nota Técnica Nº 169/2022, em que o Ministério da Saúde estabeleceu a ampliação da faixa etária de pacientes com diabetes tipo 1 e 2 que poderão ter acesso gratuito à caneta de insulina disponibilizada pelo SUS (BRASIL, 2022a). E, a partir dessa nota, 70% dos pacientes com indicação de insulina humana passaram a ter acesso à caneta e, em 2023, a previsão é de atender 100% das pessoas que precisam do medicamento.

A partir dessa mudança no tratamento do diabetes, uma das preocupações é o aumento do volume dos resíduos gerados pelo uso dessa tecnologia. Nessa vertente, as mesmas propriedades que colocaram os plásticos em dos mais importantes patamares globais, foram também as mesmas responsáveis por convertê-lo em uma das mais graves problemáticas ambientais da atualidade.

Ao considerar a problemática com a destinação final de resíduos sólidos, em especial os plásticos, observa-se que está vertente transita com os resíduos sólidos de serviços de saúde para o tratamento domiciliar do diabetes. No entanto, presume-se que o tratamento da insulinoterapia no Brasil, seja realizado em sua maioria, com o uso as canetas de insulina, considerando a praticidade e o acesso gratuito pelo Sistema Único de Saúde. A preocupação com o meio ambiente e o gerenciamento de resíduos sólidos tem se tornado uma preocupação global e a implementação do processo de economia circular, deixou de ser tendência e passou a ser metas em políticas globais. Nesta vertente, estimulam-se iniciativas que apontem evidências científicas sobre melhorias no processo de gerenciamento de resíduos sólidos tanto de serviços de saúde quanto domésticos, referentes ao tratamento do diabetes a fim de contribuir para o desenvolvimento no ciclo da economia circular.

A inter-relação entre desperdício e tecnologia de tratamento do Diabetes Mellitus revela que, apenas 10% dos materiais empregados no manejo da doença são efetivamente utilizados, enquanto 90% se constituem resíduos sólidos urbanos, oriundos de embalagens. Nesse contexto, esse estudo pragmático denominado “Caneta SUStentável” investiga a viabilidade da reciclagem dos materiais plásticos das canetas de insulina, em unidades de saúde de São Paulo, Brasil. A coleta de dados, realizada entre fevereiro e abril de 2024, abrangeu o descarte de seringas, agulhas e canetas de insulina, utilizando um dispositivo específico para a correta destinação desses itens. Os dados mostraram que foram distribuídas 39.898 canetas de insulinas e 164.297 agulhas para canetas, obtivemos o retorno de 23.992 (60%) canetas. Em média foram evitados 464,400 kg de emissão de CO2 na atmosfera. Os nossos achados reforçam a importância de ações e estratégias para o reaproveitamento do plástico na logística reversa e na sustentabilidade, em uma proposta de economia circular. Dessa forma, pretende-se conhecer a realidade de Portugal que poderá fornecer subsídios para elaborar estratégias diante da necessidade de uma abordagem holística que inclua educação ambiental e conscientização do consumidor.

Conhecer a realidade de Portugal afim de fornecer subsídios para elaborar estratégias diante da necessidade de uma abordagem holística que inclua educação ambiental e conscientização do consumidor.

Avançar na temática da economia circular, a partir da tecnologia de polímeros plásticos derivados de canetas de insulina utilizadas em domicilio e através do processo de inovação em saúde desenvolver tecnologias sustentáveis para auxiliar o consumidor a gerenciar os resíduos de saúde com segurança.

O avanço contínuo das tecnologias e insumos associados ao gerenciamento do Diabetes Mellitus (DM) trouxe benefícios significativos para a vida das pessoas que convivem com essa condição. No entanto, esse progresso também gerou um aumento na produção de resíduos plásticos, acarretando implicações ambientais adversas. Diante desse cenário, é imperativo reconhecer a importância da sustentabilidade ambiental no desenvolvimento e uso dessas tecnologias. Os dispositivos descartáveis e de uso único, como agulhas, seringas, lancetas e frascos de insulina, têm facilitado o cotidiano dos indivíduos com DM, proporcionando comodidade e eficiência no manuseio dos insumos.

Atualmente, existem dois tipos de canetas de insulina: reutilizáveis e descartáveis. As canetas descartáveis, em particular, são amplamente utilizadas e fornecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, apresentando eficácia em resposta clínica, maior comodidade, precisão na dosagem e segurança na administração da medicação (Caneta da Saúde, 2023). Entretanto, um dos maiores desafios enfrentados nesse contexto é o gerenciamento dos resíduos gerados por esses dispositivos.

A crescente quantidade de lixo plástico resulta em impactos ambientais que não podem ser ignorados. Portanto, a busca por soluções que promovam a preservação ambiental e a reutilização de materiais recicláveis torna-se essencial. Nesse sentido, o Projeto "Caneta SUStentável" pode vir a contribuir com o processo de melhoria no gerenciamento de resíduos de serviços de saúde no domicílio, estimular a economia circular em planos governamentais e industriais e estimular ideias de inovação em saúde.

Ao longo do primeiro mês da fase de implementação do protocolo da pesquisa no Brasil foram realizadas reuniões quinzenais com o grupo de pesquisa, com a finalidade de organizar e definir o orçamento dos materiais necessários para a coleta de dados. Também foram realizadas visitas nas unidades de saúde das cidades de Ribeirão Preto e Franca, para apresentação da proposta de projeto aos

responsáveis técnicos das unidades, além do reconhecimento territorial. Posteriormente foram realizados encontros com representantes das Secretarias Municipais de Saúde de cada município para apresentação do projeto, e definição do dispositivo adequado para a realização da pesquisa nas unidades de saúde.

  • Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; ; Faculdade de Economia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo Universidad Autonoma de Madrid; Universidade de Nueva Leon do México.
  • Secretaria da Saúde da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto; Casa do diabético do Município de Franca, SP, Brasil.
  • Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico de Pesquisa - CNPq - Brasil.
  • BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC No 222, de 28 de Março de 2018, que Regulamenta as Boas Práticas de Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde e dá outras providências. 2018. Disponível em: http://antigo.anvisa.gov.br/documents/10181/3427425/%282%29RDC_222_2018_.pdf/679fc9a2-21ca-450f-a6cd-6a6c1cb7bd0b. Acesso em 5 de set. 2022.

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    Informação do projeto

    • Data de Início

      12/11/2024

    • Data de conclusão

      28/04/2025

    • Projeto Estruturante

      Inovação em Tecnologias dos Cuidados de Saúde: Estudo e desenvolvimento de soluções inovadoras

    • Linha Temática

      Care Systems, Organization, Models, and Technology

    • Target population
      • Pessoas com Diabetes
    • Palavras-chave
      • Waste Management
      • Diabetes Mellitus
      • Sustainable Development
      • Economics
      • Health Policy
      • Entrepreneurship
    • Áreas prioritárias
      • Inovação em Tecnologia dos cuidados de enfermagem
    • ODS da Agenda 2030 das Nações Unida
      • Promover o crescimento económico inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho digno para todos
      • Adotar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos
      • Conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável
      • Garantir padrões de consumo e de produção sustentáveis
      • Reforçar os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável
      • Proteger, restaurar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, travar e reverter a degradação dos solos e travar a perda de biodiversidade
    • Equipa de Projeto
      • Luis Fernando Costa Pereira IR
      • Pedro Miguel Santos Dinis Parreira