A simulação em saúde é um modo emergente de aprendizagem usado há quase vinte anos no treino médico e de enfermagem, assim como no treino inicial e contínuo.
A simulação teve um verdadeiro boom quando se identificou a sua utilidade na melhoria da qualidade e segurança dos cuidados. Vários estudos comprovaram que os fatores humanos foram a causa recorrente de acidentes iatrogénicos e a simulação, além da possibilidade de permitir aprender procedimentos e atos de cuidado, permite ainda aprender e / ou reaprender a trabalhar em equipe, concentrando-se em competências não técnicas.
Para atender aos requisitos europeus e ministeriais, as competências trabalhadas em simulação são o julgamento clínico, os atos técnicos, mas também qualquer forma de comunicação.A simulação é baseada no princípio de que "a primeira vez" de um aluno nunca pode ser feita no doente. Tem como objetivo preencher a lacuna entre conhecimento e know-how, corrigir erros e repetir gestos num ambiente realista e tranquilizador.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que as escolas de enfermagem tenham laboratórios de simulação. Da mesma forma, o serviço público federal de saúde belga apresentou o principal objetivo de melhorar a qualidade do atendimento e a segurança do doente. De fato, de acordo com a OMS (2018), uma em cada 300 pessoas tem uma possibilidade de se prejudicar durante a assistência médica: o uso inseguro de um medicamento, o diagnóstico tardio ou impreciso e certos eventos adversos são as principais causas, envolvendo alta taxa de mortalidade e custos significativos para os sistemas de saúde.
A colocação de futuros profissionais em situações complexas, em que o trabalho multidisciplinar depende da eficácia do trabalho em equipe, não é abordado no treino inicial. No entanto, duas observações podem ser feitas:
- Os assistentes médicos, apesar de sua experiência em campo, carecem de competências de gestão de equipe em situações complexas e / ou urgentes;
- Alunos de enfermagem podem ou não estar envolvidos numa situação de crise no local de treino prático. Portanto, isso sugere que, um aprendiz multidisciplinar de competências não técnicas levará a um trabalho em equipe eficaz. Isso, sem dúvida, ajudará a reduzir erros nos doentes.
De acordo com Oxelmark (2017) e Flin (2008), os cenários de simulação podem ser usados para melhorar as competências não técnicas - principalmente a comunicação - e a qualidade do trabalho em equipe. O projeto é destinado a alunos de treino médico e enfermeiros, bem como instrutores em simulação.
O SimuCarePro-CRM (Gestão de Recursos em situações de visa criar ferramentas para treino médico e enfermeiros, a fim de treinar, em simulação de alta fidelidade ou com pacientes simulados, as competências não técnicas necessárias para o trabalho em equipe, especialmente em emergências. Para isso, o projeto centra-se no estudo de CRM por meio da criação de cenários de simulação validados por peritos num contexto multidisciplinar. Este projeto também tem como objetivo desenvolver ferramentas para auxiliar na análise da sessão de simulação, no debriefing (que segue o cenário e que visa explorar os vários raciocínios para facilitar a transferência da aprendizagem para a prática real), mas também ferramentas para avaliar o debriefing em relação ao seu desempenho no contexto da aprendizagem de habilidades de CRM.
O projeto integra o uso de uma plataforma de aprendizagem on-line para a preparação de sessões de simulação. Isso responde à observação recente de que o ensino num ambiente digital é benéfico para o aluno. A reforma de Bolonha trouxe mudanças na aprendizagem no ensino superior e insistiu no uso de dispositivos "híbridos" chamados TICs, que articulam as fases de treinamento na sala de aula e à distância (fora da classe).
Com base na experiência de simulação em saúde, e nas ferramentas desenvolvidas no âmbito do SimuCarePro, os parceiros visam promover a complementaridade de experiências e a multidisciplinaridade. A dimensão europeia do projeto é essencial através da experiência dos parceiros, bem como da multidisciplinaridade que ele traz. O intercâmbio de práticas atuais nos vários países enriquecerá as discussões. Através desta colaboração, o projeto contribuirá para o desenvolvimento da coerência europeia no treino de competências de CRM.

Resultados esperados:

Os resultados serão focados em diferentes aspetos:

Em termos de processo: a parceria entre as universidades e as Hautes Écoles du paramedical, trabalhará na aprendizagem de competências técnicas e não técnicas (baseadas em evidências em Medicina e Enfermagem), enquanto se trabalha no julgamento e métodos clínicos com simulação. A colaboração entre as diferentes instituições de treino em saúde e o desenvolvimento de uma colaboração interprofissional para testar os cenários com base no estudo dos conceitos de CRM permitirão a aprendizagem de diferentes componentes com uma gestão de equipe em situação de crise. Esta aprendizagem será baseada nos cenários criados no primeiro projeto de pesquisa europeu SimuCarePro, bem como nos temas de trabalho do mundo médico dos alunos já ativos. Graças à dinâmica de partilha já estabelecida no primeiro projeto, as atividades de simulação permitirão trabalhar as competências aprendidas de maneira teórica e a prática em cada uma das instituições.
A qualidade do treino para aprendizes médicos e enfermeiros será aprimorada graças à colaboração interprofissional e multidisciplinar. De facto, os alunos terão a oportunidade de trabalhar na gestão de equipes antes da graduação e, assim, serão reconhecidos como futuros colegas competentes em gestão de situações de crises, cujo objetivo é melhorar a qualidade do atendimento e segurança do doente.
Em termos de produção o único resultado do projeto será uma plataforma de treino comum dedicada ao estudo dos conceitos de CRM e será diretamente vinculada ao site do SimuCarePro. Isso permitirá que qualquer instrutor de simulação descubra e aprenda atividades de simulação focadas em competências não técnicas. Essas atividades serão apoiadas em bases teóricas e levarão à formalização de cenários cujo principal objetivo será a multidisciplinaridade, aspeto que se pretende presente no contexto da formação.
Assim, pretende-se que os seguintes resultados estejam disponíveis nesta plataforma: o acesso teórico aos diferentes componentes do CRM que permitirão uma boa compreensão e apropriação dos termos utilizados no mundo profissional; um acesso digital prático e interativo que permitirá aprender conceitos teóricos relacionados ao CRM da mesma forma que o treino on-line; o acesso dedicado a cenários cujos objetivos educacionais serão específicos para cada conceito de CRM. Ainda, acesso às grelhas de avaliação necessárias para a validação de cenários; acesso a questionários de satisfação sobre o valor agregado da aprendizagem multidisciplinar na formação.