O planeamento de uma gravidez é uma decisão com um forte impacto na vida familiar. É nesta fase que ocorre a transição da etapa do casal sem filhos, para a etapa da família com filhos pequenos. A transição para a parentalidade integra a mudança de identidades pessoais e, a transformação do relacionamento do casal, que se altera em unidade familiar (Figueiredo, 2012). A díade transforma-se numa tríade e é assim necessário ocorrer uma reorganização familiar, com definição de novos papéis parentais e de uma nova redefinição de limites face ao exterior, considerando uma maior abertura às famílias de origem e à comunidade. Mesmo quando a relação conjugal é estável, o nascimento de uma criança pode causar um decréscimo na intimidade e satisfação conjugal, por exemplo ao nível das relações sexuais e do tempo e atenção mutuamente disponível entre os membros do casal. Neste sentido, com o nascimento do primeiro filho a conjugalidade pode traduzir-se num desafio para os casais (Relvas, 2006). Alguns fatores são considerados como facilitadores da transição para a parentalidade, nomeadamente: o conhecimento do casal acerca da gravidez; a partilha e cumplicidade das representações cognitivas entre o casal; e, a relação com a família de origem. Existe a necessidade da manutenção de um padrão de comunicação eficaz, em que os sentimentos possam ser claramente expressos pelos membros do casal (Figueiredo, 2012).
Por sua vez, Silva, Gavinhos, Neves e Camarneiro (2021), identificaram, no seu estudo, fatores protetores e dificultadores da conjugalidade na transição referida. Como fatores protetores verificaram: a gravidez planeada, conseguindo assim encarar esta fase de forma positiva; a comunicação conjugal, que é crucial para a satisfação do casal; a compreensão e entreajuda entre o casal, fundamentais para a harmonia conjugal; e a família alargada quando é sentida como rede de suporte e proximidade. Como fatores dificultadores para a conjugalidade foram identificados: a gestão dos momentos a sós, nomeadamente na criação desses momentos
relacionados com a falta de tempo ou privacidade; o reinício e manutenção da sexualidade, relacionado com a falta de tempo e cansaço devido às tarefas a realizar; o desempenho do papel parental, verificando-se uma sobreposição do papel parental ao conjugal, originando conflitos; a família alargada, devido a más relações familiares e à falta de limites e fronteiras; e ausência de apoio dos profissionais de saúde, defendendo que o acompanhamento profissional poderia auxiliar os casais.
Perspetiva-se desenvolver um estudo de investigação, que visa descrever a perceção de casais, na fase de transição para a parentalidade, sobre a vivência da sua conjugalidade, bem como conhecer a perceção dos mesmos sobre os recursos que influenciam a sua conjugalidade, e a adaptação à fase de transição referida.
É de todo importante descrever os processos de conjugalidade de casais em transição para a parentalidade, na perceção de quem se encontra a vivenciar os mesmos, uma vez que, existe uma escassez de estudos na área. Evidenciou-se apenas, na área de Enfermagem de Saúde Familiar, o estudo acerca dos fatores facilitadores e dificultadores da conjugalidade na transição para a parentalidade de Silva et al. (2021), referido anteriormente. Assim, devido aos resultados que o mesmo obteve, considera-se pertinente a investigação nesta temática, através de um estudo primário de forma a dar resposta aos objetivos enunciados acima.
Descrever a perceção sobre a vivência da conjugalidade de famílias em transição para a parentalidade irá permitir identificar áreas de atenção de enfermagem de saúde familiar que apresentem vulnerabilidades, sendo possível prever cuidados antecipatórios de acordo com as tarefas inerentes à etapa referida, tornando a família mais capaz para futuras transições, promovendo ganhos em saúde sensíveis aos cuidados de enfermagem.
A finalidade deste estudo é contribuir para a melhoria da qualidade dos cuidados de enfermagem na etapa de transição para a parentalidade, evidenciando a intervenção do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Familiar.
Este estudo pretende dar resposta a um dos objetivos do projeto estruturante - “Investigação e Ação em Saúde Familiar” - onde se insere, nomeadamente “Estabelecer parcerias com as redes formais e informais das comunidades visando a capacitação das famílias para a promoção da saúde”, mais especificamente:
Objetivo 1 - Descrever a perceção de casais, na fase de transição para a parentalidade, sobre a
vivência da sua conjugalidade;
Objetivo 2 - Conhecer a perceção de casais sobre os recursos que influenciam a sua
conjugalidade e, a adaptação dos mesmos a esta fase de transição..
O nascimento do primeiro filho é uma experiência complexa e muito exigente para os novos pais, representando um desafio constante, que põe à prova a díade conjugal. Exige que a relação conjugal seja redefinida, para incluir um terceiro elemento, provocando uma redefinição de papéis, podendo ocorrer dificuldades na sua conciliação. Pretende-se com este estudo descrever a perceção de casais, em transição para a parentalidade, sobre a vivência da sua conjugalidade, bem como conhecer a perceção dos mesmos acerca dos recursos que influenciam a conjugalidade, e a sua a adaptação à referida fase de transição. A temática considera-se pertinente devido às diferentes configurações familiares atuais, distintas da família tradicional e alargada, e às grandes mudanças nos papéis dos membros familiares. Os casais encontram-se desafios no assumir da responsabilidade de cuidar dos filhos quando os recursos financeiros e familiares são escassos e os contextos laborais são mais exigentes. Conhecer como as famílias vivenciam a sua conjugalidade numa fase de maior exigência física, emocional, e de alteração de papéis familiares, bem como quais os recursos que as auxiliam ou não neste processo, é um tema relevante para valorizar o trabalho e a diferença que o
Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Familiar poderá causar nas famílias em transição para a parentalidade, evidenciando a intervenção do mesmo. Considera-se também um tema de interesse pois existe uma escassez de estudos na área de enfermagem acerca do mesmo, existindo assim um défice de evidência científica que fundamente as práticas de Enfermagem de Saúde Familiar.
Conhecer a perceção acerca da vivência da conjugalidade de casais em transição para a parentalidade poderá contribuir para conhecer os sentimentos, dificuldades, alterações vivenciadas e recursos utilizados pelos cônjuges, demonstrando a necessidade de apoio nas reais dificuldades identificadas. O estudo de investigação poderá aumentar o conhecimento
quanto ao impacto que a transição para a parentalidade causa na conjugalidade de casais, permitindo ao Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Familiar agir precocemente, atuando ao nível dos cuidados antecipatórios, estabelecendo intervenções mais direcionadas para os casais nesta fase. Os referidos profissionais de saúde poderão desenvolver programas de intervenção que dotem os casais de conhecimentos e capacidades que auxiliem os mesmos
nas várias adaptações e ajustes inerentes à transição para a parentalidade, na área da conjugalidade.
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01/01/2022
01/01/2025
Investigação e Ação em Saúde Familiar
Well-being and Health Promotion