Adaptação à reforma e satisfação com a vida conjugal: Estudo descritivo numa população rural

Em Portugal, no triénio 2021-2023, a esperança de vida à nascença foi estimada em 81,17 anos, sendo 78,37 anos para os homens e 83,67 anos para as mulheres, representando um aumento relativamente ao triénio anterior. A esperança de vida aos 65 anos, no período 2021-2023, foi estimada em 19,75 anos para o total da população. Aos 65 anos, os homens podiam esperar viver 18,00 anos e as mulheres 21,11 anos (INE, 2024). Porém, este aumento da longevidade não tem sido acompanhado pelo desejado aumento dos anos de vida saudáveis aos 65 anos (Direção Geral da Saúde, 2022).

O envelhecimento do indivíduo reflete-se tanto nas mudanças fisiológicas, como nos papéis sociais e identidade pessoal (Fonseca, 2004; Santos, 2018).

É através da otimização das oportunidades em saúde, com o objetivo de proporcionar uma maior qualidade de vida à medida que se envelhece, que o envelhecimento ativo se constitui enquanto processo. Também o equilíbrio entre os seus objetivos de vida, a capacidade de gerir recursos, e a forma como se relaciona com o ambiente físico e social, tem um papel fulcral no processo de envelhecimento (Ferreira, 2008; Fonseca, 2004; Santos, 2018). Para alguns indivíduos, a reforma pode significar mais tempo livre para dedicar a alguma tarefa que até então não tinha sido possível realizar, mas para outros poderá traduzir-se numa mudança drástica no rendimento ou até perda de status familiar e status social (Amaro, 2014). A reforma pode concretizar-se não como um planeado e desejado espaço de libertação, mas implicando um sentimento de fim de vida produtiva, redutor dos contatos sociais. Sem preparação para usufruir desse novo espaço, esta fase pode transformar-se num período de depressão por incapacidade ou falta de condições para atingir os seus objetivos, ou mesmo, incapacidade de definir novos objetivos (Loureiro et al., 2015).

Na grande maioria das vezes, os efeitos desta transição são sentidos pelos casais, tendo um forte impacto sobre a conjugalidade.

A conjugalidade refere-se à díade conjugal e constitui um espaço de apoio ao desenvolvimento familiar. Esta sofre transformações ao longo da vida do casal, muitas vezes decorrentes da forma como se adapta às transições dos seus membros (Figueiredo, 2012).

Segundo Loureiro et al. (2015), os casais a vivenciar a transição para a reforma assumem formas muito díspares de adaptação, constituindo esta mudança ou fonte prazerosa ou fonte de insatisfação. Alguns conflitos podem surgir com o consequente tempo em comum aumentado, com os membros do casal a sentirem o outro como um intruso naquele que anteriormente era um espaço de ação seu. A constatação das construções individuais de cada um dos cônjuges, sejam diferentes interesses, diferentes rotinas, diferentes relações pessoais, podem também ser geradoras de dificuldades na readaptação do casal. Os autores reportam ainda que relacionamentos que antes da reforma eram já difíceis, sofrem nesta fase uma agudização. No entanto, alguns casais sentem a passagem à reforma como uma oportunidade de passarem mais tempo juntos e disfrutarem da sua conjugalidade, certamente consequência do investimento que terão realizado na sua relação.

A mobilização de recursos conjugais poderá, então, ser fundamental na adaptação a esta nova dinâmica conduzida pela entrada na reforma, sendo o cônjuge percecionado como uma relevante fonte de apoio. Um casal funcional, com história de uma boa dinâmica conjugal, terá maior facilidade em adaptar-se à reforma, quer no que diz respeito às mudanças positivas quer às negativas (Loureiro et al., 2015).

Esta transição pode, segundo Meleis (2015), condicionar, positiva ou negativamente a saúde física e mental dos indivíduos e suas famílias, obrigando a um esforço de adaptação. Neste sentido, a transição para a reforma revela-se de grande importância para a enfermagem pois a sua intervenção, nesta fase do ciclo vital, poderá contribuir para a promoção de um processo de envelhecimento ativo e saudável. Quando bem preparada e aceite com realismo, pode surgir flexivelmente enquadrada num novo projeto de vida. A sua antecipação e o reinvestimento das capacidades pessoais em áreas alternativas (Relvas, 2000), bem como o investimento na dinâmica conjugal, podem constituir uma forma facilitadora de adaptação à mudança. O enfermeiro especialista em enfermagem de saúde familiar poderá certamente desempenhar um importante papel neste quadro de adaptação com a sua intervenção na promoção e preservação do estado de saúde

A transição para a reforma pode implicar um sentimento de fim de vida produtiva, redutor dos contatos sociais. Sem preparação, esta fase pode transformar-se num período de depressão por incapacidade ou falta de condições para atingir os seus objetivos, ou mesmo, incapacidade de definir novos objetivos (Loureiro et al., 2015). Os efeitos desta transição são sentidos em famílias na meia-idade e famílias idosas, sendo sobretudo constituídas por casais, tendo assim um forte impacto sobre a conjugalidade. Um casal funcional terá maior facilidade em adaptar-se à reforma. A mobilização de recursos conjugais poderá, então, ser fundamental na adaptação à nova dinâmica sendo o cônjuge percecionado como uma relevante fonte de apoio (Loureiro et al., 2015).Estudo descritivo e correlacional, transversal e de abordagem qualitativa. numa amostra de casais inscritas numa USF. Será aplicado questionário com variáveis de caracterização sociodemográfica a Escala de Posicionamento face à Adaptação à Reforma EPFAR (Loureiro et al., 2015) e a Escala de Avaliação da Satisfação em Áreas da Vida Conjugal EASAVIC (Narciso & Costa, 1996).Objetivos: Analisar a adaptação à reforma em cônjuges; Conhecer a satisfação com a vida conjugal de cônjuges após a reforma; Identificar a relação entre a adaptação à reforma e a satisfação com a vida conjugal. O enfermeiro de família constitui importante recurso para a adaptação à reforma nesta fase do ciclo de vida.

Este estudo pretende responder ao objetivo do projeto estruturante, “Investigação e Ação em Saúde Familiar”, concretamente: Estabelecer parcerias com as redes formais e informais das comunidades visando a capacitação das famílias para a promoção da saúde.

Específicamente, os objetivos são: Analisar a adaptação à reforma de indivíduos casados ou em união de facto; Conhecer a satisfação com a vida conjugal de indivíduos casados ou em união de facto após a reforma; Identificar a relação entre a adaptação à reforma e a satisfação com a vida conjugal.

A partir dos resultados obtidos na investigação desenvolvida, pretende-se construir um projeto de melhoria contínua da qualidade nas práticas clínicas com casais em adaptação à reforma.

Não aplicável

  • ULS Coimbra
  • ESENFC
  • Amaro, F. (2014). Sociologia da Família. Pactor

    Direcção-Geral da Saúde. (2022). Plano nacional de saúde 2021-2030: Saúde sustentável de todos para todos.

    Ferreira, M. N. (2008). Transição à Reforma, Qualidade de Vida e Envelhecimento. Revista Transdisciplinar de Gerontologia, 1(2), 30 – 34. https://www.researchgate.net/publication/299400569_A_sexualidade_na_terceira_idade_olhar_mudar_e_agir?enrichId=rgreq-744adfdc5b58c97142727d4dc5a43fec-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI5OTQwMDU2OTtBUzozNDMxOTc1NDU5NzU4MDhAMTQ1ODgzNjA3OTI4NQ%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf

    Figueiredo, M. H. (2012). Modelo Dinâmico de Avaliação e Intervenção Familiar: Uma abordagem colaborativa em Enfermagem de Família. Lusociência

    Fonseca, A. (2004). Uma Abordagem Psicológica da “Passagem à Reforma” – Desenvolvimento, Envelhecimento, Transição e Adaptação [Tese de Doutoramento, Universidade do Porto]. Repositório Aberto da Universidade do Porto. https://hdl.handle.net/10216/9776

    Fonseca, R. C. T. & Carvalho, A. L. N. (2016). O Papel da Empatia e da Comunicação Assertiva na Satisfação Conjugal em Casamentos de Longa Duração Polêm!ca, 16 (2), 40-58. https://doi.org/10.12957/polemica.2016.22901

    Hanson, S. M. H. (2005). Enfermagem de Cuidados de Saúde à Família – Teoria, Prática e Investigação. Lusociência.

    Instituto Nacional de Estatística (2024). -Tábuas de Mortalidade para Portugal 2021-2023 https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=646028580&DESTAQUESmodo=2

    Loureiro, H. (2011). Cuidar na “Entrada na Reforma”: uma intervenção conducente à promoção da saúde de indivíduos e de famílias. [Tese de Doutoramento, Universidade de Aveiro]. Repositório Institucional da Universidade de Aveiro. https://ria.ua.pt/bitstream/10773/4159/1/tese.pdf

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    https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/22062/1/Constru%C3%A7%C3%A3o%20de%20um%20programa...%20REATIVA.pdf

    Meleis, A. (2015). Transition to Retirement: A Life Cycle Transition. In Meleis, A.; Ângelo, M.; Loureiro, H.; Camarneiro, A.; Silva, M.; Pedreiro, A.; Mendes, A.; Fonseca, A.; Rodrigues, R.; Carvalho, M.; Fernandes, A. & Veríssimo, M., Transição para a Reforma: Um programa a implementar em Cuidados de Saúde Primários (pp.9–15). Helena Loureiro.https://www.researchgate.net/publication/283667090_Transicao_para_a_Reforma_Um_programa_a_implementar_em_Cuidados_de_Saude_Primarios

    Narciso, I. & Costa, M. E. (1996). Amores perfeitos mas não satisfeitos. Cadernos de Consulta Psicológica, 12: pp.115-130. https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/15550/2/83473.pdf

    Norgren, B. P. N., Souza, R. M., Kaslow, F., Hammerschmidt, Helga & Shlomo, A. S. (2004). Satisfação conjugal em casamentos de longa duração:uma construção possível. Estudos de Psicologia, 9(3), 575-584. https://doi.org/10.1590/S1413-294X2004000300020

    Pires, A. R. A. (2011). Coping Diádico e Satisfação Conjugal: Um Estudo em Casais Portugueses[Tese de Mestrado, Universidade de Lisboa, Faculdade de Psicologia] Repositório da Universidade de Lisboa. https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/4326/1/ulfpie039538_tm.pdf

    Relvas, A. P. (2000). O Ciclo Vital da Família – Perspectiva Sistémica (2a ed.). Edições Afrontamento

    Santos, A. F. (2018). A Transição da Vida Ativa para a Reforma. [Tese de Mestrado, Universidade de Lisboa] Repositório Aberto da Universidade de Lisboa. http://hdl.handle.net/10400.5/16705

    Scorsolini-Comin, F. & Santos, M. A. (2010). Satisfação Conjugal: Revisão Integrativa da Literatura Científica Nacional. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26 (3), 525-531. https://doi.org/10.1590/S0102-37722010000300015

    Informação do projeto

    • Data de Início

      11/10/2024

    • Data de conclusão

      31/12/2025

    • Projeto Estruturante

      Investigação e Ação em Saúde Familiar

    • Linha Temática

      Well-being and Health Promotion

    • Target population
      • Casais inscritos numa USF de região rural pertencente à ULS Coimbra
    • Palavras-chave
      • Enfermagem Familiar
      • Reforma
      • Conjugalidade
      • Envelhecimento ativo
      • Cuidados de Saúde primários
      • Enfermagem Comunitária
    • Áreas prioritárias
      • Formação e desenvolvimento dos profissionais de saúde
      • Transições de saúde e autocuidado
      • Envelhecimento ativo
      • Educação para a Saúde e Literacia
    • ODS da Agenda 2030 das Nações Unida
      • Erradicar a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares
      • Garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos
      • Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
      • Tornar as cidades e comunidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis
      • Reduzir as desigualdades no interior dos países e entre países
      • Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas a todos os níveis
    • Equipa de Projeto
      • Joana Catarina Marques dos Santos IR
      • Rosabela da Conceição Simões Mendes Monteiro
      • Margarida Alexandra Nunes Carramanho Gomes Martins Moreira Silva
      • Ana Paula Forte Camarneiro