As respostas humanas às transições, constituem o foco de atenção da enfermagem de família, tendo como objetivo central a capacitação da família para a adaptação aos processos de mudança. Neste sentido, o Enfermeiro de Família (EF), desempenha um papel importante na avaliação e intervenção com a família, constituindo esta o seu foco de cuidados, dando relevo às dinâmicas internas e externas da família, nos processos de transição e contextos de intervenção. O EF deve ser capaz de antecipar as necessidades da família e apoiá-la no decorrer destas mudanças (Silva et al., 2021).
A transição para a parentalidade apresenta-se como uma das maiores mudanças que podem ocorrer no sistema familiar, uma vez que o nascimento do primeiro filho é a primeira experiência de parentalidade vivida pelo casal, podendo gerar mudanças positivas ou negativas nas relações conjugais (Duarte & Zordan, 2016).
Quando existem fatores de stress, a transição para a parentalidade pode envolver mudanças negativas na relação entre os elementos do casal, tanto ao nível da satisfação conjugal como da interação sexual (Carvalho et al, 2023).
A adaptação ao novo elemento, juntamente com as novas rotinas familiares, a redefinição de papéis familiares e o desenvolvimento de novas tarefas representa um desafio importante, que influencia a relação conjugal, na medida em que o foco de atenção se centra, agora, no cuidado ao bebé, retirando evidência à relação e intimidade do casal. Por outro lado, a forma como um casal vive a sexualidade no período pós-parto é distinta, entre homem e mulher, sendo-lhe atribuído um significado diferente, em função das alterações físicas, emocionais e/ou psicológicas observadas neste período, que acontecem de forma diferente em cada um dos elementos do casal. A sexualidade, nomeadamente o retorno da atividade sexual, representa um ponto desafiador da relação conjugal, sendo capaz de unir alguns casais, ou por outro lado afastar ainda mais os cônjuges (Carvalho et al, 2023).
Pela análise de estudos já realizados, é evidente que a diminuição dos níveis de satisfação conjugal e sexual se relaciona diretamente com a dificuldade sentida pelos cônjuges em conciliar o papel parental, com a sua relação de casal, sendo responsável também pela diminuição da proximidade entre os cônjuges, afetando a comunicação, mas também a expressão de sentimentos e emoções.
O Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Familiar interage com as famílias a partir de um método organizado, dinâmico e sistematizado de pensamento crítico, onde o foco dos cuidados são as dinâmicas internas da família e as suas relações, a estrutura da família e o seu funcionamento, assim como o relacionamento dos diferentes subsistemas com o todo familiar e com o meio envolvente, que geram mudanças nos processos intrafamiliares e na interação da família com o seu meio ambiente (OE, 2015). Nesta medida, considera-se que a figura do EEESF configura o profissional privilegiado nesta abordagem à família em transição para a parentalidade, desempenhando um papel essencial na identificação das necessidades da família, possíveis situações de risco ou complexidades de cada sistema e respetivos subsistemas, contribuindo significativamente para a promoção e proteção da saúde e prevenção da doença, na família e respetivos membros.
Segundo Figueiredo (2012), os cuidados de enfermagem à família centram-se na interação entre enfermeiro e família, implicando o estabelecimento de um processo interpessoal, significativo e terapêutico. Têm por finalidade a capacitação da família a partir da maximização do seu potencial de saúde, ajudando-a a ser proativa na consecução do seu projeto de saúde.
Neste sentido, dotado de excelência profissional, o EEESF é capaz de reconhecer e valorizar a capacidade da família para decidir sobre o seu próprio projeto de saúde, respeitando as competências familiares em diferentes contextos evolutivos. Por outro lado, é o profissional capaz de fomentar a empatia, como ferramenta essencial no estabelecimento de uma comunicação eficaz com a família (OE, 2015).
A transição para a parentalidade representa uma das maiores mudanças que podem ocorrer no sistema familiar, principalmente com o nascimento do primeiro filho. Quando existem fatores de stress, esta transição pode representar mudanças negativas na relação do casal, tanto ao nível da satisfação conjugal como da interação sexual. Assim, a diminuição da satisfação conjugal está diretamente relacionada com a dificuldade em conciliar o papel parental, com a relação de casal, representando uma diminuição da proximidade entre os cônjuges, da comunicação e expressão de sentimentos.
Trata-se de um estudo qualitativo descritivo, com os seguintes objetivos: descrever a percepção dos cônjuges sobre as alterações na dinâmica da conjugalidade, após o nascimento do primeiro filho; identificar os recursos e estratégias utilizadas na adaptação a estas alterações e conhecer a percepção dos cônjuges sobre a importância do Enfermeiro de Família nesta fase do ciclo vital da família. Os participantes serão todos os cônjuges a vivenciar a parentalidade, cujo primeiro filho tenha idade igual ou inferior a 12 meses, inscritos na USF em questão.
Para recolha de dados será utilizada a entrevista semiestruturada, audiogravada mediante autorização dos participantes. As entrevistas serão realizadas de forma presencial a ambos os cônjuges individualmente, sendo depois transcritas integralmente e analisadas pelo método proposto por Bardin (2018).
Qualquer que seja a natureza e âmbito da investigação, esta deve ter na sua génese objetivos concretos e bem definidos, capaz de contribuírem, ao longo do processo, para alcançar o resultado esperado, deixando visível quais as intenções do investigador com a obtenção desses mesmos resultados (Baptista & Sousa, 2011).
Neste seguimento, definem-se os seguintes objetivos para a presente investigação:
- Descrever a perceção dos cônjuges, sobre as alterações na dinâmica da conjugalidade, após o nascimento do primeiro filho;
- Identificar os recursos e estratégias utilizadas pelos cônjuges para se adaptarem às alterações ocorridas na conjugalidade com o nascimento do 1º filho;
- Conhecer a perceção dos cônjuges, sobre a importância do Enfermeiro de Família na dinâmica da conjugalidade, após o nascimento do primeiro filho.
A presente investigação representa uma mais-valia inovadora para a Unidade de Saúde Familiar onde decorre o estudo, uma vez que sendo o primeiro estudo neste âmbito irá proporcionar um conhecimento aprofundado sobre a percepção dos cônjuges, relativamente às alteração ocorridas na sua conjugalidade, na fase de ciclo vital em questão e sobre os recursos e estratégias para adaptação a essas alterações.
Permitirá também conhecer a percepção dos cônjuges sobre o papel do Enfermeiro de família, na dinâmica da conjugalidade, nesta fase do ciclo vital da família, esperando-se uma melhoria na qualidade dos cuidados prestados, no âmbito da enfermagem de saúde familiar, com impacto na saúde das famílias.
Não se procedeu ao envolvimento do cidadão na equipa de investigação.
Carvalho, J. (2010). Adaptação à parentalidade: Um desafio para novos pais: Estudo do stresse parental em pais primíparos. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educaçãoda Universidade de Coimbra.
Carvalho JM, Caetano AB, Almeida C. (2023). A vivência da relação conjugal durante atransição para a parentalidade na voz das primíparas. Revista de Enfermagem e Atenção à Saúde, 12(3).
Coutinho, C. P. (2021). Metodologias de investigação em ciências sociais e humanas: teoria e prática (2a). Edições Almedina, S. A.
Baptista, C., & Sousa, M. (2011). Como Fazer Investigação, Dissertações, Tese e Relatórios Segundo Bolonha. Pactor.
Bardin, L. (2018). Análise de conteúdo. Edição revista e atualizada. Edições 70, Limitada.
Fortin, M. F. (2009). Fundamentos e etapas do processo de investigação (Lusodidacta (ed.)).
Regulamento n.o 679 de 27 de abril de 2016. Diário da República n.o 679/2016. Jornal Oficial da União Europeia. Lisboa, Portugal. Recuperado de https://www.sg.pcm.gov.pt/media/38093/rgpd_regulamento.pdf
Silva, M., Gavinhos, M., Neves, V., & Camarneiro, A. (2021). Fatores protetores e dificultadores da conjugalidade na transição para a parentalidade. Pensar Enfermagem, 25 (2), 20-32.
Streubert, H. & Carpenter, D. (2013). Investigação qualitativa em enfermagem: avançando o imperativo humanista (5a edição). Lisboa: Lusodidata.
01/11/2024
31/12/2026
Investigação e Ação em Saúde Familiar
Well-being and Health Promotion