A deslocação forçada tem um elevado impacto na saúde mental das crianças e jovens migrantes, requerentes de asilo ou com o estatuto de refugiadas (Teles, 2017; Oliveira et al., 2017). Além das experiências traumáticas da fuga dos países de origem e da jornada de sobrevivência entre países, vivem anos de espera em abrigos ou campos de acolhimento sem acompanhamento profissional que seria essencial para reduzir a vulnerabilidade e o risco acrescido de desenvolverem perturbações de saúde mental (Teixeira-Santos & Monteiro, 2018). Para além disso, as suas respostas ao processo de ajustamento, as estratégias de enfrentamento lidam com trauma e stress contínuo têm forte componente cultural (Monteiro & Vaz-Serra, 2011). A Organização Não-Governamental (ONG), Médecins Sans Frontières (MSF), destaca uma emergência de saúde mental vivida por menores de 18 anos nos centros da Grécia. Segundo esta ONG, uma em cada quatro crianças provocou danos físicos a si mesma, cometeu suicídio ou teve pensamentos suicidas. A presença de perturbações como mutismo, ataques de pânico, perturbações da ansiedade, explosões de agressividade e alterações na satisfação dos seus autocuidados é uma realidade crescente (MSF, 2018).
Estes jovens vivenciam transições de vida complexas e, tendo em consideração que os processos de transição da vida são o foco dos cuidados em enfermagem (Meleis, 2010), os enfermeiros tornam-se a chave para a prestação de cuidados de saúde a refugiados e migrantes (ICN, 2015). Mesmo em contextos multiculturais complexos, as respostas de saúde e bem-estar, traduzem o resultado das intervenções do enfermeiro (Abreu, 2011). No entanto, a permanência de equipas médicas, nas quais se incluem os enfermeiros, em situações de catástrofe centra-se no cuidado em situações de perigo eminente de vida. O acompanhamento das pessoas que vivem nos centros de acolhimento, às portas da Europa, acaba por ser feito por voluntário e profissionais que, na grande maioria, não possuem formação em saúde mental que lhes permita compreender e acompanhar as transições complexas que vivenciam (Burck & Hughes, 2018).
Existem alguns programas específicos de capacitação em saúde mental. Contudo, estes prendem-se com a formação de profissionais de saúde, muitas vezes direcionados para um diagnóstico específico de saúde mental e não enquadram a saúde mental de jovens. A literatura disponível revela uma grave lacuna na conceção de programas de capacitação de voluntários e profissionais, que não sejam da área de saúde, e que atuam na linha da frente. A relação que os jovens estabelecem com estes profissionais e voluntários é um dos maiores fatores de proteção em saúde mental (Teixeira-Santos & Monteiro, 2018). Desta forma, é urgente investir na capacitação em saúde mental e bem-estar de forma a que estes profissionais e voluntários.
Abreu, W. (2011). Transições e contextos multiculturais. Contributos para a anamnese e recurso aos cuidadores informais, 2ª edição. ed. 2, ISBN: 978-989-8269-13-3. Coimbra: FORMASAU
Burck, C. & Hughes, G. (2018). Challenges and impossibilities of ‘standing alongside’ in an intolerable context: Learning from refugees and volunteers in the Calais camp. Clinical Child Psychology and Psychiatry 23(2):223-237.
Craig, P., Dieppe, P., Macintyre, S., Michie, S., Nazareth, I., Petticrew, M., & Medical Research Council Guidance (2008). Developing and evaluating complex interventions: the new Medical Research Council guidance. BMJ (Clinical research ed.), 337, a1655. doi:10.1136/bmj.a1655
ICN. (2015). Nurses are key to healthcare for refugees and migrants. Press Information. Geneva: International Council of Nurses. Available: http://www.icn.ch/images/stories/documents/news/press_releases/2015_PR_24 _Refugee_Migrant_healthcare.pdf
Meleis, A. (2010). Transitions Theory: Middle Range and Situation Specific Theories in Research and Practice. New York, NY: Springer Publishing Company.
Monteiro, A., & Vaz-Serra, A. (2011). Vulnerability to Stress in Migratory Contexts: A Study with Eastern European Immigrants Residing in Portugal. Journal Of Immigrant and Minority Health, 13 (4), 690 – 696. doi: 10.1007/s10903-011- 9451-z.
MSF. (2018). MSF Pulse: Suicide attempts and self-harming among child refugees in Moria, Greece. Retrieved from https://www.doctorswithoutborders.ca/article/msf-pulse-suicide-attempts-and-self-harming-among-child-refugees-moria-greece
Oliveira, C., Peixoto, J., & Góis, P. (2017). A nova crise dos refugiados na Europa: o modelo de repulsão-atração revisitado e os desafios para as políticas migratórias. Revista Brasileira de Estudos de População, 34(1), 73-98
Teixeira-Santos, L., Monteiro, A. (2018). Mental Health of Children Resident in a Refugee Camp: An Exploratory Study in Mental Health and Psychiatric Nursing. In The 20th international research conference proceedings (pp. 1961-1963). London, United Kingdom: IRC.
Teles, P. (2017). As respostas da Europa à crise dos refugiados. JANUS, 14-15. Recuperado de http://janusonline.pt/images/anuario2017/1.3_Patr%C3%ADciaGTeles_Refugiados.pdf
United Nations (2015). Transforming our world: The 2030 agenda for sustainable development. A/RES/70/1. Recuperado de: http://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/70/1&Lang=E
Relatórios de progresso e controlo do projeto (anual): 1
01/01/2019
01/01/2023
Well-being and Health Promotion