A incontinência urinária é um problema de saúde comum que afeta as mulheres (Haylen et al., 2010). Sendo também associado à gravidez e ao parto podendo afetar a saúde e a qualidade de vida das mulheres, no período pós-parto (Yan et al., 2022).
Segundo a definição pelo International Continence Society (ICS), a incontinência urinária no pós-parto é uma queixa de perda involuntária de urina experienciada no período pós-parto, até doze meses após o parto (Doumouchtsis, et al., 2022).
De acordo com o estudo de Moossdorff-Steinhauser et al. (2020), a prevalência de incontinência urinária autorreferida, durante a gravidez, é elevada (66,8%), aumentando por trimestre. Num estudo de Rocha, et al. (2017), a prevalência de incontinência urinária três meses após o parto foi de 34,60%.
A gravidez e o parto são, por si só, fatores de risco para a ocorrência de incontinência urinária no pós-parto (Gao et al., 2021; Donoso et al., 2020), especialmente a incontinência urinária de stress (Gao et al., 2021; Yan et al., 2022; Bonasia et al., 2023) e mulheres grávidas com perdas de urina são mais propensas a ter incontinência urinária no pós-parto (Gao et al., 2021; Leroy et al., 2016).
São descritos vários fatores de risco decorrentes do período pré-natal, gravidez, parto e puerpério associados à incontinência urinária (Donoso et al., 2020). Fatores de risco como obstipação, idade materna, obesidade, multiparidade, parto vaginal, parto instrumentado (Donoso et al., 2020; Wuytack et al., 2022; Leroy et al., 2016; Chang et al., 2021), macrossomia, analgesia epidural (Gao et al., 2021) e uma prolongada segunda fase do trabalho de parto (Yan et al., 2022).
Erroneamente, a incontinência urinária é subestimada e considerada normal após o parto, levando ao não encaminhamento da mesma pelas mulheres e à falta de intervenção dos profissionais, de forma preventiva e eficaz (Elbiss & Abu-Zidan, 2023). Vale ressaltar que, de acordo com o estudo de Elbiss e Abu-Zidan (2023), um número insignificante de mulheres recebeu informações sobre fisioterapia e exercícios musculares do assoalho pélvico. Além disso, a vigilância da puérpera limita-se à consulta pós-parto, seis semanas após o mesmo (Bonasia et al., 2023).
A incontinência urinária no pós-parto persiste três meses após o parto (Rajavuori et al., 2021) e, segundo Chang, et al. (2022) durante um ano. As lesões musculares do pavimento pélvico podem não ser imediatas e claras, levando a sintomas tardios através da acumulação de outros fatores de risco, particularmente com o avançar da idade (Cardoso et al., 2022). Portanto, uma vigilância e uma monitorização mais longas são essenciais (Bonasia et al., 2023).
A prevenção e tratamento da incontinência urinária de stress são essenciais para a qualidade de vida da mulher (Gao et al., 2021). Uma minoria de utentes procura o diagnóstico e o tratamento (Hunskaar, et al., 2005). De acordo com Moossdorff-Steinhauser et al. (2020), 40% das mulheres com incontinência urinária na gravidez pensavam que os sintomas iriam melhorar espontaneamente após o parto, desconhecendo que o risco de apresentarem incontinência urinária no pós-parto seria maior. Rocha et al. (2017), num estudo sobre incontinência urinária na gravidez e no pós-parto, acrescenta que cerca de 70% das mulheres com incontinência urinária no pós-parto não procuraram aconselhamento junto dos profissionais de saúde.
Cuidados de saúde no período pré-natal, educação para a saúde e fisioterapia são essenciais (Maroyi, et al, 2021).
A incontinência urinária no período pós-parto tem um impacto negativo na qualidade de vida relacionada à saúde da mulher. Devido à perda de urina, as mulheres sentem necessidade de alterar o seu estilo de vida, limitando, por exemplo, o seu envolvimento em atividades físicas e recreativas, bem como em atividade sexual, sendo tudo estratégias associadas a sentimentos de constrangimento e frustração (Liang, et al, 2021).
E é precisamente a opção pelo sigilo e o sentimento de vergonha que tornam muito difícil a abordagem sobre o assunto. Torna-se importante que o profissional de saúde pergunte à mulher sobre a incontinência urinária diminuindo o muro que cresce entre o problema e o seu reconhecimento e solução (Toye & Barker, 2020).
Sendo a resposta a problemas de adaptação vista como área de preocupação e de intervenção para a enfermagem (Phillips, 2002), considera-se o Modelo de Adaptação de Roy, no sentido de conferir significado ao problema para a disciplina e profissão de enfermagem.
As mulheres são afetadas pelo problema de incontinência urinária, sendo que a gravidez e o parto são, por si só, fatores de risco. A falta de orientação e intervenções preventivas deve-se ao não reconhecimento da incontinência urinária após o parto, como um problema, mas como algo normal, levando também a que um número reduzido de mulheres procure ajuda, diagnóstico ou tratamento. Um problema que pode persistir até 12 meses após o parto. A qualidade de vida relacionada com a saúde e bem-estar é afetada, com a necessidade de ajustamentos associados a sentimentos de constrangimento e frustração. O projeto de estudo associado insere-se na área de estudo da incontinência urinária no período pós-parto, integrando o objetivo - Estudar o processo de transição para a parentalidade e respostas do ajustamento materno pós-natal - do projeto estruturante de Transição para a parentalidade: respostas no processo de ajustamento, cuja relevância descrita vai de encontro ao desenvolvimento deste estudo que contribui para a importância de uma maior cobertura de cuidados no puerpério, para o processo de ajustamento da mulher a novos papéis, para o despiste de complicações e para a identificação de necessidades e medidas que contribuam para a qualidade de vida materna no período pós-natal, sendo, para isso, imperioso a compreensão da experiência vivida das mulheres com incontinência urinária no período pós-parto.
A finalidade do estudo é estudar e compreender o fenómeno de incontinência urinária no período pós-parto e gerar conhecimento sobre a experiência vivida das mulheres e como isso afeta a sua qualidade de vida, e com esse conhecimento contribuir para a melhoria da prestação de cuidados de enfermagem, através da promoção de respostas adaptativas eficazes.
Perante a questão inicial: Qual é a experiência vivida das mulheres com incontinência urinária, no período pós-parto e a sua qualidade de vida? Definem-se os objetivos específicos:
• Compreender a experiência vivida pelas mulheres com incontinência urinária, no período pós-parto, aos três meses após o parto;
• Compreender a experiência vivida pelas mulheres com incontinência urinária, no período pós-parto, aos nove meses após o parto;
• Avaliar a qualidade de vida das mulheres com incontinência urinária, no período pós-parto, até doze meses após o parto;
• Analisar a influência de fatores de natureza sociodemográfica na qualidade de vida das mulheres com incontinência urinária, no período pós-parto;
• Analisar a influência de fatores obstétricos na qualidade de vida das mulheres com incontinência urinária, no período pós-parto;
• Analisar a influência da percepção de incontinência urinária na qualidade de vida das mulheres com incontinência urinária, no período pós-parto;
• Analisar a experiência vivida e a qualidade de vida das mulheres com incontinência urinária, no período pós-parto, através da triangulação dos métodos e dados;
• Integrar o conhecimento sobre a experiência vivida e a qualidade de vida das mulheres com incontinência urinária, no período pós-parto, na promoção de respostas adaptativas pelos enfermeiros, através do Modelo de Roy.
Considera-se inovadora a intenção de compreender a experiência vivida das mulheres com incontinência urinária, no período pós-parto, numa perspetiva longitudinal e a sua qualidade de vida;
Prevê-se dar visibilidade a estas mulheres e empoderá-las para o reconhecimento do problema de incontinência urinária no período pós-parto e a necessidade de prevenção, de procura de cuidados e de tratamento;
Prevê-se o contributo para o terceiro Objetivo de Desenvolvimento Sustentável ao nível de cuidados de saúde materna e da mulher, assegurando o acesso, a informação e a educação em saúde.
O tipo de estudo não é lesivo dos direitos, nem da integridade das participantes e para a sua aceitabilidade ética irá ser solicitado parecer favorável da Comissão de Ética da UICISA:E da ESEnfC.
As participantes serão informadas da finalidade, metodologia e duração da investigação e será assegurado às participantes um pedido de consentimento de participação voluntária e esclarecida, sendo assegurada a confidencialidade das mesmas e da informação recolhida.
Não aplicável
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TRANSITION TO PARENTHOOD: ANSWERS IN THE ADJUSTMENT PROCESS
Well-being and Health Promotion