O envelhecimento populacional tem levado a um aumento na prevalência das PNC com um total estimado de custos mundiais de 604.000 milhões de dólares americanos em 2010.

Declínio Cognitivo Ligeiro (DCL), reconhecido no atual DSM-5 por PNC ligeira, representa um elevado risco para a progressiva deterioração cognitiva, por ser considerado como um estado intermédio entre o envelhecimento cognitivo normal e o início de uma PNC major(APA, 2013).

A manutenção da saúde cognitiva tem uma importância fundamental na prevenção do compromisso cognitivo e no atraso da instalação do quadro demencial, da dependência e da (in)capacidade do idoso para se auto-cuidar.

Os estudos internacionais têm evidenciado que a estimulação cognitiva (EC) surge associada a um menor risco de declínio cognitivo, pelo que deverá ser iniciada o mais cedo possível. Desta forma, aumentam-se as reservas cerebrais e cognitivas diminuindo o risco e elevando-se a proteção contra a instalação de um quadro de deterioração cognitiva..

A literatura problematiza ainda a relação entre a perturbação depressiva e o risco de desenvolver prejuízos cognitivos e as PNC major, e que a estimulação cognitiva poderá conduzir a melhoria no estado depressivo e na função cognitiva. Do ponto de vista económico, diversos estudos mostram que a estimulação cognitiva é susceptível de ter uma boa relação custo-benefício.

Uma das estratégias da EC é a reminiscência. Do ponto de vista cognitivo, a reminiscência constitui uma forma de estimular e atualizar a memória da pessoa através do reconhecimento e identificação (gnosia, memoria semântica) de estímulos familiares que associa a toda a rede de recordações (memória episódica e semântica).

Recuperar acontecimentos autobiográficos, pode ser um processo espontâneo, desencadeado por sons, cheiros, imagens ou outros estímulos, ou deliberado, quando este é induzido com determinados propósitos (Pinquart & Forstmeir, 2012). Os estímulos podem ser múltiplos e de natureza consciente (intencionais) ou inconsciente (espontâneos), sendo que, como mencionam Webster, Bohlmeijer e Westerhof (2010), dentro de cada categoria existem diversos aspetos como a especificidade da memória, a valência emocional, a frequência das recordações, a distribuição temporal e a proeminência temporal que podem revelar perceções importantes sobre o conteúdo e o processo de reminiscência.

A literatura reporta também o efeito da reminiscência nas variáveis psicossociais, especificamente na promoção de melhorias ligeiras a moderadas na sintomatologia depressiva, integridade do ego, bem-estar, propósito na vida, maestria, cognição, integração social e preparação para o envelhecimento, revelando, deste modo, os efeitos positivos da reminiscência na saúde mental das pessoas mais velhas (Pinquart e Forstmeir, 2012).

 Mediante a  investigação produzida verifica-se assim que  a pessoa idosa  com PNC ligeira e major  beneficia de intervenções no contexto da estimulação para potenciar a sua capacidade cognitiva e física, controlar os sintomas comportamentais e psicológicos caracteristicamente associados a esta síndrome, e consequentemente aumentar da sua qualidade de vida e a qualidade de vida do seu cuidador(Yates, Leung, Orgeta, Spector, & Orrell, 2015; Yates, L; Orrell, M; Spector, A; Orgeta, 2015)A investigação em Portugal sobre o efeito da EC na prevenção do declínio cognitivo e estado depressivo apresenta já um desenvolvimento apreciável (Apóstolo & Cardoso, 2014) mas menos desenvolvida no controlo dos sintomas comportamentais e psicológicos, e na qualidade de vida de quem cuida e de quem é cuidado. Ainda pouco desenvolvida está também a utilização de programas de EC individuais no contexto familiar, bem como a utilização da Reminiscência enquanto estratégia de intervenção.

Os objectivos principais deste estudo são: traçar um perfil do compromisso cognitivo e das atividades de vida diária de idosos institucionalizados em lares de terceira idade (LTI),  a frequentar centros de dia (CD) ou a residirem nas suas casas; Implementar programas de EC e de reminiscência nos idosos com PNC ligeira ou major de forma a atrasar a instalação do agravamento cognitivo e aumentar a sua capacidade para o auto-cuidado e qualidade de vida, contribuindo para uma maior eficácia e redução de custos e meios envolvidos.

Deste modo, a concretização deste objectivo pressupõe a organização da investigação nas seguintes fases:

I – Caracterizar o compromisso cognitivo e a dependência nas AVDs de idosos institucionalizadas em LTI e não institucionalizados frequentando CD/ a residirem somente em suas casas.

II - Construir um programa de intervenção de  Reminiscência  em grupo, com a duração de 6 semanas, 2 sessões por semana. Cada sessão tem um tema específico desde a infância até à velhice. O programa será direcionado a pessoas com PNC major que residam em instituições de longa permanência.III – Adaptar um programa de EC individual a ser implementado a idosos com PNC major, versando um conjunto de sessões que decorrerão num período de 25 semanas, com o objetivo de trabalhar os seguintes temas/atividades: Histórias de Vida, Factos da atualidade, Objeto e Utensílios domésticos, Comida e Sabores, Uso de dinheiros, Orientação, Arte, Jogos de palavras entre outros.

IV - Avaliar o efeito da EC utilizada em grupo na cognição, AVDs, depressão e qualidade de vida nos idosos nos idosos institucionalizados em LTI e a frequentar CD;

V - Avaliar o efeito da reminiscência utilizada em grupo na cognição, , sintomas depressivos e qualidade de vida nos idosos nos idosos institucionalizados em LTI e a frequentar CD;

VI- Avaliar o efeito da EC individual na cognição, no controlo dos sintomas comportamentais e psicológicos (delírio, alucinação, agitação, depressão, ansiedade, apatia desinibição); na qualidade de vida do idoso e na qualidade de vida e estado de humor do cuidador;

VII - Criação de manuais de boas práticas profissionais e materiais informativos para familiares de idosos com PNC ligeira e major.

Os idosos são selecionados em Centros de Dia, Lares de Terceira Idade, Cuidados de saúde primários das instituições parceiras do projeto ou na comunidade.

A equipa tem uma vasta experiência na investigação na área da geriatria e da gerontologia e no estudo da cognição, participando em projectos internacionais e nacionais. Embora o estudo se circunscreva a Portugal, investigadores conceituados, que coordenam equipas internacionais nestas áreas científicas, são consultores no projecto, assegurando, por essa via, uma maior riqueza na partilha de experiências e de resultados.

Este é o um dos primeiros estudos em Portugal a caracterizar a saúde cognitiva de pessoas idosas e a construir e implementar programas sistematizados, bem como a desenvolver RCTs com EC. Os resultados esperados com o presente projecto, para além da produção científica, permitirão desenha programas de intervenção e investigar a eficácia de intervenções na saúde cognitiva em amostras de pessoas idosas portuguesas. A translação do conhecimento com impacto nas práticas de saúde, baseados nas evidências produzidas a nível nacional, e no conhecimento da nossa realidade clínica e social, comparando com resultados internacionais é outro dos impactos esperados com os resultados deste projecto (disseminação a nível científico, institucional, profissional, pedagógico e ao público em geral.

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