CONFIANÇA PARENTAL EM PRIMÍPARAS NOS PRIMEIROS DOIS MESES DE VIDA DO FILHO

A transição para a parentalidade é um período importante de desenvolvimento e reorganização, que inclui desafios práticos e psicológicos para os novos pais: o ter de agir e compreender de acordo com as necessidades do bebé e modificar as rotinas diárias, de modo a conseguirem lidar com as novas tarefas e responsabilidades (Tognasso et al., 2022). Esta transição começa durante a gravidez e termina quando os pais sentem conforto e confiança no desempenho dos seus papeis parentais (Lowdermilk & Perry, 2008).Pode ser um evento altamente desafiador (Carvalho, 2020) e stressante pois envolve a transição de uma realidade bem conhecida para outra caracterizada por novos objetivos, responsabilidades, comportamentos, e um novo conceito de si próprios (Tralhão et al., 2020).Para as mães primíparas as transformações são imensas, pois para além das mudanças físicas, psicológicas, emocionais e de reorganização social no pós-parto, estas mães são confrontadas pela primeira vez com as exigências dos cuidados ao bebé e são aquelas que se sentem mais stressadas, com menor autoeficácia (Carvalho, 2020) e mais inseguras quando confrontadas com a nova responsabilidade de cuidar um recém-nascido (Kristensen et al., 2018).Vários são os estudos que confirmam que ‘a transição para a maternidade é uma preocupação primordial para as mães primíparas, especialmente na necessidade de desenvolver competências adequadas e confiança nos cuidados ao bebé’ (Carvalho, 2020, p. 2).A confiança parental é um aspeto fundamental na adaptação ao papel de mãe, influenciando a qualidade dos cuidados e o vínculo com o bebé.Para Zahr (1993), o sentimento de confiança materna corresponde à avaliação que a mulher faz acerca da sua capacidade para prestar cuidados e compreender o seu bebé (Zahr, 1993) e pode ser descrita como um nível de tarefa da autoeficácia materna que afeta o momento em que a mãe responde às necessidades primárias do filho (como no momento de amamentação, banho, conforto e adormecer) (Tognasso et al., 2022). Não é apenas uma questão de perceção de competência, correspondendo também à vertente afetiva do processo de concretização do papel parental, ou seja, aos sentimentos subjetivos sobre as aptidões, que impactam a forma como as mães respondem às necessidades primárias do filho. Este sentimento é essencial para uma adaptação saudável ao papel parental, sendo influenciado por, entre outras, características maternas (como a idade, a paridade, a escolaridade e o apoio social percebido) e do bebé (como o temperamento e a existência de problemas médicos) (Zahr, 1991, 1993).Dada a importância da confiança parental para a adaptação ao papel de mãe, estudos mostram que as mães primíparas frequentemente relatam níveis mais baixos de confiança (Kristensen et al., 2018; Faria, 2016) em comparação com mães multíparas: no estudo de Kristensen et al. (2018) os autores verificaram que cerca de 25% das mães primíparas experienciam baixa confiança parental aos 2 meses pós-parto; e no estudo de Faria (2016), a autora verificou que as multíparas demonstraram maior confiança global nos cuidados ao recém-nascido do que as primíparas.Adicionalmente, níveis baixos de confiança parental no período pós-natal precoce podem influenciar negativamente a experiência de maternidade e a capacidade de cuidar adequadamente do bebé (Tognasso et al., 2022).A baixa confiança parental pode ter impactos negativos significativos, afetando não apenas a relação precoce mãe-bebé, mas também a saúde futura e bem-estar do bebé (como problemas no vínculo e no desenvolvimento emocional) e a saúde mental da mãe (Kuo et al., 2009; Kristensen et al., 2018; Carvalho, 2020).a investigação em Portugal sobre os efeitos da educação pré-natal na confiança parental da mãe nos cuidados ao bebé é escassa, nomeadamente dos Programas de Preparação para o Parto e Parentalidade que, segundo a Direção Geral de Saúde (DGS) (2015), constituem um recurso importante enquanto oportunidade de aquisição de conhecimentos e reflexão conjunta sobre atitudes e comportamentos e que têm como objetivos ‘desenvolver a confiança e promover competências na grávida/casal/família para a vivência da gravidez, parto e transição para a parentalidade, incentivando o desenvolvimento de capacidades interativas e precoces da relação mãe/pai/filho’ (DGS, 2015, p. 63).

Introdução: A transição para a parentalidade representa um período complexo de adaptações biológicas, psicológicas e sociais, especialmente para mães primíparas, que enfrentam desafios de competência e confiança no cuidado ao bebé. A confiança parental é crucial para o bem-estar materno e o desenvolvimento saudável do bebé, impactando diretamente a qualidade dos cuidados e a adaptação ao novo papel.

Metodologia: Estudo de nível I, exploratório-descritivo, de natureza quantitativa, com amostra tipo não probabilística, intencional e amostra tipo ‘bola de neve’ de mães primíparas de recém-nascidos de termo nos primeiros dois meses de vida do filho, que aceitem participar no estudo e que preencham o questionário composto por cinco partes: dados sociodemográficos da participante, dados relativos à vigilância da gravidez, dados relativos ao parto, dados relativos ao bebé e Escala de Confiança Parental Karitane, validada para a população portuguesa.

Objetivo: - Avaliar a confiança parental em primíparas nos primeiros dois meses de vida do filho.

Resultados Esperados: Após a análise dos dados recolhidos pretende-se verificar o nível de confiança parental de mães primíparas nos dois meses pós-parto. Pretende-se fornecer uma base para melhorar as práticas de apoio à parentalidade e intervenções futuras para o fortalecimento da confiança parental entre mães primíparas.

Avaliar a confiança parental em primíparas nos primeiros dois meses de vida do filho.

Os investigadores estão convictos que os resultados à posteriori vão contribuir para uma consciencialização dos Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica, permitindo que desenvolvam práticas de apoio à parentalidade, com intervenções que permitam aumentar os níveis da confiança parental entre mães primíparas, como medidas educativas específicas e direcionadas a estas mães.

Não aplicável

  • UICISA: E - Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem Comprovativo
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    Zahr, L. (1991). The relationship between maternal confidence and mother-infant behaviors in premature infants. Research in Nursing & Health, 14(4), pp. 279-286. doi:https://

    Informação do projeto

    • Data de Início

      18/12/2024

    • Data de conclusão

      31/05/2026

    • Projeto Estruturante

      TRANSIÇÃO PARA A PARENTALIDADE: RESPOSTAS NO PROCESSO DE AJUSTAMENTO

    • Linha Temática

      Well-being and Health Promotion

    • Target population
      • Mães primíparas de recém-nascidos de termo, nos primeiros dois meses de vida do filho
    • Palavras-chave
      • Primiparas
      • Enfermeiros Obstetras
      • Confiança
      • estudo qualitativo
    • Áreas prioritárias
      • Transições de saúde e autocuidado
    • ODS da Agenda 2030 das Nações Unida
      • Garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos
      • Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
    • Equipa de Projeto
      • Claudia Patricia da Costa Brás IR
      • Ana Bela Jesus Roldão Caetano
      • Ana Rita Miraldo Martins