O envelhecimento populacional tem contribuído para um aumento na prevalência das Perturbações Neurocognitivas (PNC) major habitualmente referidas na literatura como demência (American Psychiatric Association, 2013). De acordo com Prince et al. (2015), existiram, em 2015, cerca de 46,8 milhões de idosos com algum tipo de demência, estimando-se que esse valor atinja os 131,5 milhões de pessoas em 2050. Em termos económicos, prevê-se um custo total 2 triliões de dólares americanos em 2030.
As intervenções não-farmacológicas, das quais se destacam a estimulação cognitiva e a reminiscência, no contexto das PNC major, adquirem atualmente um especial destaque dado o crescente impacto clínico, social (Apóstolo & Cardoso, 2014; Apóstolo, Cardoso, Rosa, & Paúl, 2014; Spector, Woods, & Orrell, 2008) e económico (Knapp et al., 2006) que têm nas pessoas com PNC ligeira ou major e seus cuidadores, e nos sistemas de saúde.
Entende-se por estimulação cognitiva a implementação de um conjunto de atividades significativas, ao
longo de várias sessões que decorrem, normalmente, em contexto social, e que visam a estimulação de vários domínios entre os quais: a concentração, pensamento, memória, linguagem, entre outros (Aguirre, Hoare, Spector, Woods, & Orrell, 2014; Apóstolo et al., 2014; Apóstolo & Cardoso, 2014; Yuill & Hollis, 2011).
Uma das estratégias da estimulação cognitiva é a reminiscência. Do ponto de vista cognitivo, a reminiscência constitui uma forma de estimular e atualizar a memória da pessoa através do reconhecimento e identificação (gnosia, memória autobiográfica) de estímulos familiares que associa a toda a rede de recordações. Existem evidências que suportam a eficácia da estimulação cognitiva e da reminiscência em duas revisões sistemáticas da literatura (Woods, Aguirre, Spector, & Orrell, 2012) e, a nível nacional, em estudos experimentais (Apóstolo et al., 2014; Apóstolo & Cardoso, 2014).
Estas evidências revelam que estes programas estão associados a ganhos em saúde, nomeadamente na cognição, humor, bem-estar, atividade funcional, qualidade de vida e competências comunicacionais, bem como diminuem a sobrecarga do cuidador e o consumo de recursos humanos e económicos.
O investigador responsável deste projeto tem liderado o desenvolvimento de vários estudos randomizados controlados com programas de estimulação cognitiva utilizando o programa “Making a Difference” (MD) com base em “Making a Difference 1” (MD1; Spector, Thorgrimsen, Woods, & Orrell, 2006) e “Making a Difference 2” (MD2; Aguirre et al., 2012). Estes programas incluem também princípios de reminiscência.
A evidência produzida pela equipa constitui-se já como uma boa prática adotada em 20 Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI) e Centros de Dia nacionais, maioritariamente aplicada por enfermeiros. É também reconhecida como boa prática pela Parceria Europeia para o Envelhecimento Ativo e Saudável (EIP-AHA), alinhando-se com o Plano estratégico da EIP-AHA (pilar I e pilar III). De facto, os resultados sugerem que esta prática está associada a um menor risco de declínio cognitivo, pelo que deverá ser iniciada o mais cedo possível. Desta forma, aumentam-se as reservas cerebrais e cognitivas, diminuindo o risco e elevando-se a proteção contra a instalação do quadro demencial, atrasando o seu início e prevenindo a dependência e a incapacidade do idoso para se autocuidar (Apóstolo et al., 2014; Apóstolo & Cardoso, 2014).
No entanto, as referidas evidências e a adoção da boa prática têm sido circunscritas a intervenções em grupo e, sobretudo, ao contexto institucional. Portanto, falta constituir uma base de evidências sobre a eficácia da EC individual no contexto da residência do idoso, integrando o cuidador informal.
Existe alguma evidência da eficácia da estimulação cognitiva individual e da utilização da reminiscência que mostra ganhos na qualidade de vida da pessoa com demência, na qualidade de vida do seu cuidador e na qualidade da relação entre ambos (Yates, Orrell, Spector, & Orgeta, 2015). A pesquisa sugere o uso do programa de estimulação cognitiva individual “Making a Difference 3 - individual Cognitive Stimulation Therapy: A manual for carers” (MD3; Yates et al., 2015) . Este programa revela-se vantajoso na medida em que nem todas as pessoas com PNC major têm acesso à estimulação cognitiva de grupo, por dificuldades de mobilidade, inexistência desta oferta na sua área de residência ou até por questões de gosto pessoal relacionada com a participação em atividades de grupo. Adicionalmente pode ser aplicado pelo cuidador não gastando recursos do sistema de saúde.
Este projeto pretende dar resposta a objetivos específicos do projeto mais alargado “Avaliação da competência cognitiva em pessoas idosas: intervenção e capacitação para o autocuidado”, inscrito na UICISA: E e liderado pelo investigador responsável, Prof. João Apóstolo. Este projeto pode ser consultado em http://esenfc.pt/ui/?module=ui&target=outreach-projects&tipo=UI&id_projecto=106&id_linha_investigacao=2&dado_pedido=Descricao.
Aguirre, E., Spector, A., Streater, A., Hoe, J., Woods, B., & Orrell, M. (2012). Making a Difference 2: An Evidence-based Group Programme to Offer Maintenance Cognitive Stimulation Therapy (CST) to People with Dementia. London: The Journal of Dementia Care: Hawker Publications
Apóstolo, J., & Cardoso, D. (2014). Estimulação Cognitiva em Idosos - Síntese da Evidência e Intervenção. In L. Loureiro (Ed.), Literacia em Saúde Mental - Capacitar as pessoas e as Comunidades para Agir (pp. 157–183). Coimbra: Coimbra: Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (UICISA: E).
Apóstolo, J., Cardoso, D., Rosa, A., & Paúl, C. (2014). The Effect of cognitive stimulation on nursing home elders: A Randomized controlled trial. Journal of Nursing Scholarship, 46(3), 157–166. http://doi.org/10.1111/jnu.12072
Knapp, M., Thorgrimsen, L., Patel, A., Spector, A., Hallam, A., Woods, B., & Orrell, M. (2006). Cognitive stimulation therapy for people with dementia: Cost-effectiveness analysis, 188, 574–580.
Prince, M., Wimo, A., Guerchet, M., Ali, G., Wu, Y., & Prina, M. (2015). World Alzheimer Report 2015 The Global Impact of Dementia. Alzheimer’s Disease International. Retrieved from https://www.alz.co.uk/research/WorldAlzheimerReport2015.pdf
Spector, A., Thorgrimsen, L., Woods, B., Orrell, M. (2006). Making a Difference: An Evidence-based Group Programme to Offer Cognitive Stimulation Therapy (CST) to People with Dementia. London: The Journal of Dementia Care: Hawker Publications.
Spector, A., Woods, B., & Orrell, M. (2008). Cognitive stimulation for the treatment of Alzheimer ’ s disease. Expert Review of Neurotherapeutics, 8, 751–758.
Woods, B., Aguirre, E., Spector, A. E., & Orrell, M. (2012). Cognitive stimulation to improve cognitive functioning in people with dementia. The Cochrane Database of Systematic Reviews, 2(2), CD005562. http://doi.org/10.1002/14651858.CD005562.pub2
Yates, L., Orrel, M., Phoung, L., Spector, O., Woods, B., & Orgeta, V. (2015). Making a Difference 3 - Individual Cognitive Stimulation Therapy: A manual for carers. London: The Journal of Dementia Care : Hawker Publications.
Yates, L., Orrell, M., Spector, A., Orgeta, V. (2015). Service users’ involvement in the development of individual Cognitive Stimulation Therapy (iCST) for dementia: a qualitative study. BMC Geriatrics, 15(1), 1–10. http://doi.org/10.1186/s12877-015-0004-5
Yuill, N., & Hollis, V. (2011). A systematic review of cognitive stimulation therapy for older adults with mild to moderate dementia: An occupational therapy perspective. Occupational Therapy International, 18(4), 163–186. http://doi.org/10.1002/oti.315
Resultados esperados
Os resultados da RSL e do ERC poderão vir a constituir-se como uma boa prática permitindo a incorporação do conhecimento nas práticas de intervenção no contexto de pessoas com fragilidade cognitiva com os benefícios esperados. A disponibilização de programas estruturados de EC e reminiscência individual para serem usados por cuidadores na residência das pessoas constitui-se uma novidade, uma vez que até ao momento não existem programas idênticos em Portugal
Este projeto irá replicar estudos realizados internacionalmente pela equipa autora do programa de EC individual. Além dos estudos realizados pela equipa autora deste programa no Reino Unido, outros estudos estão a ser realizados com o mesmo programa e o mesmo desenho de estudo em outros países. Isto permitirá a comparação dos resultados nos vários países para ser constituído um modelo de intervenção e boa prática à escala internacional. Relativamente à escalabilidade deste projeto, após a constituição do modelo de intervenção e boa prática poderão ser replicados nos diferentes contextos familiares nacionais e internacionais.
Também a plataforma web será um meio de divulgação tecnológico, dos programas de intervenção utilizados, de fácil acesso para os enfermeiros que desenvolvem a sua atividade na comunidade e ao público-alvo.
01/01/2016
01/01/2018
Well-being and Health Promotion