No processo de envelhecimento é notório o aumento da prevalência das Perturbações Neurocognitivas (PNC), normalmente mencionadas na prática clínica como declínio cognitivo ligeiro e demência (Apóstolo, Cardoso, Silva & Costa, 2014; Apóstolo & Cardoso, 2014). Atualmente, as intervenções de caracter não farmacológico como respostas de tratamento às síndromes supracitadas, onde se destaca a Estimulação Cognitiva Individual (ECI), adquirem relevância, devido ao crescente impacto clínico, social e económico do défice cognitivo ligeiro e da demência (Aguirre, Hoare, Spector,Woods, & Orrell, 2014; Apóstolo et al., 2014). A ECI pode ser considerada a implementação de um conjunto de atividades significativas, no decorrer de várias sessões, normalmente, em contexto social, que tem como objetivo a estimulação de vários domínios, nomeadamente a atenção, o pensamento, a linguagem, a memória, o cálculo, entre outros. (Aguirre et al., 2012; Apóstolo et al., 2014; Yates, Orrell, Spector & Orgeta, 2015). As evidências existentes atualmente suportam a eficácia desta intervenção, revelando que os programas de ECI se encontram associados a ganhos em saúde, respetivamente na cognição, humor, bem-estar, atividade funcional, qualidade de vida e competências comunicacionais (Apóstolo et al., 2014; Yates et al., 2014). No que diz respeito ao programa FD3, este apresenta resultados positivos no desempenho cognitivo em termos da orientação, cumprimento de ordens, atenção e evocação verbal imediata e discurso espontâneo por parte dos idosos com PNC (Silva et al., 2019). A prestação de cuidados às pessoas com défice cognitivo ligeiro e demência torna-se um desafio para o sistema de saúde, existindo a necessidade de implementar intervenções específicas com o objetivo de aumentar o potencial de autocuidado, a autonomia, a adaptação e readaptação aos défices e a capacitação da família e/ou rede de suporte (Alzheimer Europe, 2013; Orrell et al., 2012; Woods, Aguirre, Spector & Orrell, 2012; Yates et al., 2015). A permanência da população idosa no contexto domiciliário acarreta o aumento do isolamento social e solidão, sendo estes fatores de risco para a saúde pública, ainda que subestimados, uma vez que afetam uma proporção significativa da população, levando ao declínio cognitivo, aos sentimentos de solidão, tristeza e abandono, que até ao momento eram combatidos com as respostas sociais que se encontram suspensas devido a pandemia de SARS-COV2 (National Academies of Sciences, Engineering and medicine, 2020). Em Portugal a implementação de intervenções estruturados de ECI, com sessões individuais para a utilização em contexto domiciliário é diminuta. Neste âmbito há a necessidade que o programa FD3 seja disseminado para se fomentar boas praticas. Face às necessidades decorrentes do contexto
pandémico atual, a equipa do presente projeto propõe-se a produzir evidência nacional sobre o efeito da ECI em pessoas com défice cognitivo ligeiro e demência, no contexto domiciliário, gerido pelo cuidador informal e supervisionado por profissionais de saúde.
Este projeto obteve financiamento pelo Prémio BPI “la Caixa” – Seniores 2021 e será implementado na Santa Casa da Misericórdia de Oliveira de Azeméis (SCMOAZ). Este visa implementar um programa de estimulação cognitiva individual: Manual do Programa de Terapia Individual de Estimulação Cognitiva – Fazer a Diferença 3 (FD3 – cujos direitos de autor pertence a escola superior de enfermagem de Coimbra). Irá decorrer durante um ano e tenciona englobar cerca de 120 beneficiários diretos. Pretende-se com este projeto diminuir o impacto do isolamento social quer na estabilidade emocional e bem-estar, quer em termos de variáveis psicopatológicas na população idosa. Serão avaliados indicadores (estado de saúde geral, qualidade de vida, memória, sintomas neuropsiquiátricos/depressivos, qualidade da relação da díade
idoso/cuidador) através de instrumentos específicos, no momento zero (M0) e no momento final (M13) e realizada a análise estatística dos dados obtidos. Com a implementação do projeto espera-se que 70% dos cuidadores informais envolvidos, melhorem a sua qualidade de vida e a relação entre a díade e 50% de manutenção das capacidades cognitivas e sintomatologia depressiva/sintomas neuropsiquiátricos nos seniores com défice cognitivo ligeiro e demência integrados.
Pretende-se com este projeto minimizar os efeitos da sobrecarga do cuidador informal, através da implementação do programa FD3. Como meta a alcançar pretende-se uma adesão à intervenção de 80%, ou seja a realização de três sessões semanais durante 12 semanas pelos beneficiários diretos do programa.
Este estudo quase-experimental pode ser o mote para a instituição de boas práticas, impulsionando o desenvolvimento de estudos mais consistente no futuro. Se ganhos em saúde forem evidenciados com este projeto, poderá proporcionar a translação do conhecimento para a prática promovendo a intervenção contínua com os benefícios com
a finalidade de melhorar a cognição, a qualidade de vida, os sintomas depressivos/neuropsiquiátrico da pessoa com défice cognitivo ligeiro ou demência; a qualidade de vida do cuidador; e a qualidade da relação entre ambos.
Posteriormente, o objetivo será abranger uma maior população a nível concelhio incorporando séniores pertencentes a outras instituições através de parceira com a Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis e as demais instituições de resposta social existentes.
Como meta geral pretende-se implementar de forma geral e contínua este projeto no concelho de Oliveira de Azeméis através da instituição.
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01/01/2022
01/01/2024
Well-being and Health Promotion