Nas últimas décadas, temos assistido a acentuadas alterações no padrão alimentar e no estilo de vida no mundo ocidental decorrentes de mudanças importantes como a industrialização, a urbanização e o desenvolvimento económico dos mercados globais. Nos países mais marcados por estes fenómenos, as doenças crónicas não transmissíveis – obesidade, diabetes mellitus, doença cardiovascular, hipertensão, acidente vascular cerebral e alguns tipos de cancro – tornaram-se as causas mais frequentes de morbilidade e mortalidade. O padrão alimentar das populações destes países caracteriza-se pelo consumo reduzido de fibra e cereais integrais, pelo elevado consumo de hidratos de carbono simples e refinados e ainda pela ingestão elevada de alimentos de origem animal e gorduras hidrogenadas.
Simultaneamente os indivíduos apresentam-se mais sedentários não só na atividade profissional como nas atividades domésticas e de lazer, traduzindo-se num decréscimo significativo do dispêndio energético. Acresce ainda, que o consumidor atual é normalmente um indivíduo bastante ocupado com um ritmo de vida que lhe deixa pouco tempo para se preocupar com a alimentação e que, por estas razões, demonstra um grande interesse por alimentos de conveniência e rápida preparação. Contudo, este indivíduo sedentário e atarefado reconhece na alimentação um fator determinante da saúde e está consciente de que excessos, carências e desequilíbrios influenciam a qualidade e esperança de vida.
A restauração, hotelaria e indústria alimentar encontram neste ambiente uma oportunidade de desenvolver novas ofertas e novos produtos, recorrendo a tecnologias mais inovadoras e novos ingredientes. No entanto, é necessária uma verdadeira parceria entre as instituições responsáveis pela saúde das populações e as empresas para que se caminhe para soluções convergentes, com objetivos comuns, que contribuam para ultrapassar os problemas decorrentes de uma alimentação desequilibrada como a obesidade e outras doenças crónicas.
O conceito de Dieta Mediterrânica (DM) surgiu na segunda metade do séc. XX, após os estudos desenvolvidos por uma equipa de investigadores liderados por Ancel Keys. Estes investigadores verificaram que as populações do Sul da Europa (Itália e Grécia) sofriam menos de doenças cardiovasculares e tinham maior longevidade do que as do Norte da Europa e dos Estados Unidos da América. Estas diferenças foram atribuídas ao padrão alimentar e ao estilo de vida mediterrânico.
Nutricionalmente, a alimentação mediterrânica fornece hidratos de carbono complexos, fibras alimentares, vitaminas, sais minerais e numerosos antioxidantes e é pobre em gordura saturada e açúcares. Na cultura mediterrânica os alimentos utilizados são frescos, da época, da região e produzidos de forma sustentável para o ambiente. Entre os temperos predominam o azeite, as ervas aromáticas, as especiarias, a cebola e o alho. A confeção dos alimentos é realizada através de práticas culinárias simples e frugais e as refeições são tomadas num ambiente tranquilo e em convívio. Em suma, consiste num padrão alimentar essencialmente de base vegetal, pelo consumo sazonal de produtos de origem local e por modos de confeção simples que preservam o valor nutricional dos alimentos.
A DM foi reconhecida pela UNESCO, em 2010, como Património Cultural Imaterial da Humanidade. O real significado de “Dieta”, derivado do termo grego " Diaita" integra a relação entre corpo, espírito e meio ambiente, englobando ainda a produção, comercialização, comensalidade, ritual e simbologia alimentar. Este conceito abrangente e diversificado conhecido por Dieta Mediterrânica abrange a alimentação tradicional em Portugal e adequa-se a um estilo de vida para uma alimentação sustentável. Por estas razões está atualmente a ganhar uma renovada relevância no contexto da promoção de estilos de vida saudáveis e sustentáveis.
Também a FAO reconhece esta dieta como saudável e sustentável e estas características estão de acordo com as bases da Dieta Planetária proposta pelo grupo de peritos da EAT-Lancet (2019).
A tendência de maior sensibilidade e preocupação com a alimentação saudável, especialmente com a adoção dos princípios da DM a par do potencial atrativo da gastronomia tradicional, representa uma oportunidade valiosa e promissora para o setor da hotelaria, restauração e indústria alimentar.
O Projeto Inovação, Sustentabilidade e Promoção da Dieta Mediterrânica na Indústria Alimentar, Restauração e Hotelaria (ISIProMED), COMPETE 2030- FEDER- 01458400, associado ao nº 17802, visa apoiar a transferência de conhecimento científico e tecnológico existente em princípios da Dieta Mediterrânica (DM) , que estão bem identificados e são bem conhecidos do meio académico e científico, para o setor empresarial e aproximar a comunidade científica das empresas para a criação de produtos, menus e pratos que respeitem os princípios da DM, que se adaptem à dinâmica do trabalho das empresas, respeitem os princípios ESG e que sejam do agrado dos consumidores. Inclui a criação de novos produtos e, na fase de testes de validação dos mesmos, o aumento da literacia dos consumidores para a DM facilitando a tradução destes princípios numa alimentação prática, sustentável, adaptada ao estilo de vida atual e do agrado do consumidor do séc. XXI.
Alia conhecimento científico e tecnológico das ENESII das áreas das ciências agrárias, biotecnologia, nutrição e saúde com a experiência de gestão do setor empresarial para criar produtos da DM que sejam saudáveis e sustentáveis. Este projeto é liderado pelo IPBeja, em copromoção com a Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.
O projeto ISIProMED visa apoiar a transferência de conhecimento científico e tecnológico existente relativamente aos princípios da Dieta Mediterrânica (DM) , que estão bem identificados e são bem conhecidos da comunidade académica e científica, para o setor empresarial e aproximar a comunidade científica das empresas permitindo a criação de produtos, menus e pratos que respeitem os princípios da DM, que se adaptem à dinâmica do trabalho das empresas, respeitem os princípios ESG e que sejam do agrado dos consumidores. Inclui a criação de novos produtos e em simultâneo, na fase de testes de validação destes novos produtos, o aumento da literacia dos consumidores para a DM facilitando a tradução destes princípios numa alimentação prática, sustentável, adaptada ao estilo de vida atual e do agrado do consumidor do sec. XXI.
Objetivo operacional 1: Acelerar a transferência de conhecimento científico e tecnológico focado nos princípios da Dieta Mediterrânica (DM) para as PME das regiões Centro e Alentejo;
Objetivo operacional 2: Aumentar o nível de incorporação de conhecimento científico e tecnológico associado à DM nas empresas incentivando a sua competitividade com oferta de produtos, processos, menus e pratos alinhados com os princípios da DM;
Objetivo Operacional 3: Diversificar a oferta alimentar com alimentos, menus e pratos nutricionalmente ricos e alinhados com a DM recuperando património gastronómico que foi caindo em desuso e que é valorizado por diferentes públicos;
Objetivo Operacional 4: Assegurar a produção de evidências que demonstrem a aceitação dos produtos, processos, menus e pratos alinhados com a DM e do potencial destes no mercado (validação pré-comercial).
O ISIProMed aposta numa abordagem nova e diferenciadora ao nível metodólogo/conceptual, assumindo a transferência de conhecimento científico e tecnológico sobre DM numa vertente holística em que alia a nutrição, a saúde e a sustentabilidade e os apresenta, com base em conhecimento científico criados nas ENESII e testado, como elementos com elevado potencial para o desenvolvimento de novas empresas e negócios para o setor empresarial da industria alimentar, da restauração e do turismo gastronómico.
Esta abordagem permite o enfoque numa área de especialização – a dieta mediterrânica – que, aproveitando o conhecimento disponível na comunidade científica e o potencial produtivo das fileiras alargadas da indústria alimentar, potencia o reconhecimento deste tipo de dieta como saudável e sustentável. Permite potenciar, por via do crescimento da procura de produtos, receitas, pratos e menus identificados como produzidos de acordo com os princípios da DM e da ESG , maior procura nacional e internacional destes produtos e o crescimento das exportações portuguesas para os mercados mais exigentes.
O ISIProMed assume uma metodologia de trabalho, ao nível operacional, inovadora promovendo a inovação sustentável do setor da indústria alimentar, restauração e gastronomia, através do aproveitamento das tendências da procura internacional por alimentos saudáveis, mais ecológicos e com menor pegada de carbono. A restauração, hotelaria e indústria alimentar encontram neste ambiente uma oportunidade de desenvolver novas ofertas e novos produtos, recorrendo a tecnologias mais inovadoras e novos ingredientes.
Não aplicável
Davis, C., Bryan, J., Hodgson, J., & Murphy, K. (2015). Definition of the Mediterranean Diet; a Literature Review. Nutrients, 7(11), 9139–9153. https://doi.org/10.3390/nu7115459
Di Cesare, M., Sorić, M., Bovet, P., Miranda, J. J., Bhutta, Z., Stevens, G. A., Laxmaiah, A., Kengne, A. P., & Bentham, J. (2019). The epidemiological burden of obesity in childhood: a worldwide epidemic requiring urgent action. BMC medicine, 17(1), 212. https://doi.org/10.1186/s12916-019-1449-8
Dominguez, L. J., Di Bella, G., Veronese, N., & Barbagallo, M. (2021). Impact of Mediterranean Diet on Chronic Non-Communicable Diseases and Longevity. Nutrients, 13(6), 2028. https://doi.org/10.3390/nu13062028
Estruch, R., Ros, E., Salas-Salvadó, J., Covas, M. I., Corella, D., Arós, F., Gómez-Gracia, E., Ruiz-Gutiérrez, V., Fiol, M., Lapetra, J., Lamuela-Raventos, R. M., Serra-Majem, L., Pintó, X., Basora, J., Muñoz, M. A., Sorlí, J. V., Martínez, J. A., Fitó, M., Gea, A., Hernán, M. A., ... PREDIMED Study Investigators (2018). Primary Prevention of Cardiovascular Disease with a Mediterranean Diet Supplemented with Extra-Virgin Olive Oil or Nuts. The New England journal of medicine, 378(25), e34. https://doi.org/10.1056/NEJMoa1800389
García-Fernández, E., Rico-Cabanas, L., Rosgaard, N., Estruch, R., & Bach-Faig, A. (2014). Mediterranean diet and cardiodiabesity: a review. Nutrients, 6(9), 3474–3500. https://doi.org/10.3390/nu6093474
Kiani, A. K., Medori, M. C., Bonetti, G., Aquilanti, B., Velluti, V., Matera, G., Iaconelli, A., Stuppia, L., Connelly, S. T., Herbst, K. L., & Bertelli, M. (2022). Modern vision of the Mediterranean diet. Journal of preventive medicine and hygiene, 63(2 Suppl 3), E36–E43. https://doi.org/10.15167/2421-4248/jpmh2022.63.2S3.2745
Martínez-González, M. A., Gea, A., & Ruiz-Canela, M. (2019). The Mediterranean Diet and Cardiovascular Health. Circulation research, 124(5), 779–798. https://doi.org/10.1161/CIRCRESAHA.118.313348
Naureen, Z., Bonetti, G., Medori, M. C., Aquilanti, B., Velluti, V., Matera, G., Iaconelli, A., & Bertelli, M. (2022). Foods of the Mediterranean diet: garlic and Mediterranean legumes. Journal of preventive medicine and hygiene, 63(2 Suppl 3), E12–E20. https://doi.org/10.15167/2421-4248/jpmh2022.63.2S3.2741
Real, H., Dias, R. R., & Graça, P. (2021). Mediterranean Diet conceptual model and future trends of its use in Portugal. Health promotion international, 36(2), 548–560. https://doi.org/10.1093/heapro/daaa056
Sofi, F., Martini, D., Angelino, D., Cairella, G., Campanozzi, A., Danesi, F., Dinu, M., Erba, D., Iacoviello, L., Pellegrini, N., Rossi, L., Vaccaro, S., Tagliabue, A., & Strazzullo, P. (2025). Mediterranean diet: Why a new pyramid? An updated representation of the traditional Mediterranean diet by the Italian Society of Human Nutrition (SINU). Nutrition, metabolism, and cardiovascular diseases: NMCD, 35(8), 103919. https://doi.org/10.1016/j.numecd.2025.103919
Watanabe, J. A., Nieto, J. A., Suarez-Diéguez, T., & Silva, M. (2024). Influence of culinary skills on ultraprocessed food consumption and Mediterranean diet adherence: An integrative review. Nutrition (Burbank, Los Angeles County, Calif.), 121, 112354. https://doi.org/10.1016/j.nut.2024.112354
29/08/2025
31/08/2027
DETERMINANTES E INTERVENÇÕES EM SAÚDE COMUNITÁRIA E SAÚDE PÚBLICA
Well-being and Health Promotion