O impacto da rede de apoio informal na transição para a parentalidade em primíparas

O puerpério define-se como um conjunto de modificações físicas e psíquicas que ocorrem na fase do pós-parto, as alterações fisiológicas que surgem durante este período são distintas e estão relacionadas com o processo de regressão associado à gravidez (Néné et al., 2016). Este é um período de recuperação física e psicológica da mãe que começa imediatamente após o nascimento e prolonga-se por 6 semanas após o parto (DGS, 2015). As puérperas necessitam de uma rede de apoio para se manterem bem física e psicologicamente, perante as marcas físicas e emocionais deixadas pelo parto, pois nesta fase sentem-se incapazes de dar resposta a atividades do dia-a-dia e do recém-nascido em simultâneo (Silva et al., 2023). O nascimento de um filho é um momento que vem mudar irreversivelmente a vida dos progenitores, o período pós-parto vem marcar uma transição para um novo ciclo da vida familiar, em que novos papeis são integrados, este momento pode ser facilitado por ajudas externas como o enfermeiro a família (Lowdermilk et al., 2002).

Meleis define transição como “a passagem de uma fase de vida, condição ou estado para outro, é um conceito multidimensional que engloba os elementos do processo, o intervalo de tempo e as perceções. O processo sugere fases e sequência, o intervalo de tempo indica um fenómeno em curso, mas limitado e a perceção tem a ver com o significado da transição para a pessoa que a experimenta". As transições podem ainda definir-se como transições de saúde/doença, situacionais, organizacionais e desenvolvimentais. Na transição para a parentalidade evidenciam-se dois tipos de transição, a transição situacional, que diz respeito as alterações dos “papeis” que os novos pais assumem na família e amigos, por exemplo passam de ser filhos para assumirem a responsabilidade se serem pais e a transição desenvolvimental que está associada ao desenvolvimento do processo familiar, isto é, por exemplo a passagem do casal (díade), para um casal com um filho (tríade) (Schumacher & Meleis, 1994).

A promoção da saúde é um dos pontos fundamentais na prática de enfermagem, assim o enfermeiro é o profissional de saúde responsável pela capacitação e empoderamento das famílias, promovendo a saúde familiar e prevenindo situações de fragilidade ou patológicas (Tralhão, et al., 2020). Portanto os enfermeiros, através dos ensinos e apoio que prestam têm a possibilidade e capacidade de compreender a importância das interações familiares na vivencia da maternidade de cada puérpera, logo poderão atempadamente perceber quais são e mobilizar recursos humanos capacitados neste período de fragilidade (Vieira & Reis, 2017).

O regresso a casa é geralmente um momento que cria alguma ansiedade e medo à maioria das puérperas, levando a que haja inseguranças, referindo a amamentação e a falta de tempo para cuidarem de si mesmas como duas das maiores preocupações. É neste regresso a casa que a rede de apoio se torna de elevada importância, onde podem colaborar na realização de atividades domésticas por exemplo, de modo a aliviar a puérpera para os cuidados ao recém-nascido e a si mesmas (Silva et al., 2023). Haslam et al., (2006), citado por Shorey et al., (2021) definiu suporte social, nesta investigação considerado apoio informal, como uma competência interpessoal que proporciona auxílio no alívio do stress parental e assistência emocional, estes autores subdividiram este apoio em apoio funcional e estrutural, sendo que o apoio funcional fragmenta-se em apoio instrumental, como por exemplo apoio nas tarefas necessárias, apoio emocional, apoio à avaliação, como por exemplo fornecer um feedback positivo e construtivo à puérpera e apoio informativo, baseado em informações fidedignas e não em crenças, o apoio estrutural inclui o apoio formal dos profissionais de saúde e o apoio informal de pessoas consideradas importantes.

A presença de familiares e amigos chegados como apoio informal pode por vezes colocar em causa aquilo em que as recém mães acreditam e foram capacitadas, quando referem crenças e mitos existentes na sociedade que podem influenciar negativamente as práticas da puérpera com o recém-nascido, como por exemplo a prática do aleitamento materno sofre influências da sociedade quando a rede de apoio lhes transmite ideias pré concebidas que as levam a desacreditar na qualidade do leite materno para o seu bebé (Silva et al., 2023).

O pós-parto é na vida da mulher um período de alterações a vários níveis. Esta assume um novo papel a desempenhar e torna-se difícil fazê-lo sozinha. Há uma nova adaptação da díade que passa a tríade e toda a família chegada sofre ajustes. É um período por vezes de vulnerabilidade para a recém mãe e esta carece de apoio informal por parte daqueles que lhe estão mais próximos, que seja a família ou amigos próximos que possam auxiliar na realização de tarefas ou mesmo no apoio psicológico a esta nova fase. A puérpera deve estar capacitada para desempenhar este novo desafio com informação fidedigna para que não seja facilmente influenciável por crenças e mitos que lhe poderão chegar. O Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica (EEESMO) desempenha um papel fundamental na capacitação destas novas mães fornecendo-lhes estratégias que promovam um ambiente propício à promoção da saúde do recém-nascido e bem-estar físico e emocional da puérpera. Metodologia: Estudo de nível I, exploratório descritivo, de natureza quantitativa. Com amostra tipo “bola de neve”, a mães de recém-nascidos de termo que tenham recebido algum tipo apoio informal no primeiro mês pós-parto e que aceitem livremente responde ao questionário que será divulgado online, composto por questões de dados sociodemográficos, questões sobre a temática elaboradas para o efeito sendo baseadas na Escala Multidimensional de Suporte Social Percebido.

Identificar a rede de apoio informal em mães primíparas;

Identificar de que forma a rede de apoio informal influenciou a transição para a parentalidade.

Este trabalho reflete uma abordagem inovadora ao integrar investigação e prática clínica em torno da rede de apoio informal na transição para a parentalidade em primíparas. A inovação está presente na valorização da comunidade como agente ativo de saúde, propondo ações que envolvem familiares e amigos com base em evidência científica. A componente ética é assegurada pelo respeito à autonomia das participantes, consentimento informado e sensibilidade aos contextos individuais das puérperas. O estudo promove ainda o envolvimento cidadão ao reconhecer e capacitar a rede de apoio como elemento central no bem-estar materno e neonatal. O enfermeiro especialista surge como facilitador dessa articulação, ao propor estratégias que valorizam a corresponsabilidade no cuidado. Este trabalho demonstra como a prática baseada na evidência, aliada à ética profissional e à inclusão da comunidade, pode gerar ganhos efetivos em saúde materna. Trata-se de um contributo relevante para uma enfermagem mais humana, participativa e transformadora.

Não aplicável

  • UICISA:E
  • Cardoso, A., Soares , A., Sousa , B., Oliveira, M., Chaves, S., & Carvalho, J. (2024). Guia Orientador de Boas Práticas - Adaptação à Parentalidade . Ordem dos Enfermeiros.

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    Diário da República, 2a série, no85. (2019). Regulamento no 391/2019: Regulamento das Competências Específicas em Enfermagem de saúde Materna e Obstétrica. Lisboa, Portugal.

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    Meleis, A. I. (2010). Transitions Theory. New York: Springer Publishing Company.

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    Informação do projeto

    • Data de Início

      03/03/2025

    • Data de conclusão

      10/07/2025

    • Projeto Estruturante

      TRANSIÇÃO PARA A PARENTALIDADE: RESPOSTAS NO PROCESSO DE AJUSTAMENTO

    • Linha Temática

      Well-being and Health Promotion

    • Target population
      • Primiparas de recém-nascidos de termo no primeiro mês pós parto
    • Palavras-chave
      • apoio informal
      • enfermeiros obstétricos
      • primíparas
      • periodo pos parto
    • Áreas prioritárias
      • Transições de saúde e autocuidado
      • Educação para a Saúde e Literacia
    • ODS da Agenda 2030 das Nações Unida
      • Garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos
      • Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
    • Equipa de Projeto
      • Ana Bela Jesus Roldão Caetano IR
      • Ana Bela Jesus Roldão Caetano
      • Teresa Maria de Campos Silva