Pela natureza da questão de investigação-Como é que a mulher que interrompe voluntariamente a gravidez por método medicamentoso constrói o processo de transição para o autocuidado na regulação da sua fertilidade? Optamos pelo paradigma qualitativo construtivista. De acordo com vários autores (Guba e Lincoln, 1994; Strauss e Corbin, 1998), este tipo de paradigma é uma forma valida de obter detalhes a cerca de um fenómeno, pela objetividade do processo. Neste âmbito pretendemos adotar o método da Grounded Theory (Glaser & Strauss, 1967; Corbin & Strauss, 1990). Pensamos que pela natureza do fenómeno em análise, onde emergem “sentimentos, processos de pensamento e emoções, que são difíceis de extrair ou de descobrir por meio de métodos de pesquisa mais convencionais” (Strauss & Corbin, 2008, pág. 24), esta será a melhor abordagem a utilizar no estudo. Este método permite clarificar o significado e a intencionalidade dos atos e das relações sociais, assim como explorar, identificar e descrever aprofundadamente explicações para determinado fenómeno. Os dados serão colhidos, ordenados em categorias e comparados constantemente.
Os participantes do estudo serão mulheres a quem foi diagnosticada uma gravidez não planeada e que decidiram pela interrupção voluntária da gravidez até às 10 semanas de gestação de acordo com a Lei nº16/2007 e enfermeiros que tenham a experiência de cuidarem de mulheres que interrompem a gravidez.
O contexto inicial do desenvolvimento do estudo será na consulta externas de obstetrícia do Hospital de Faro e na Área Metropolitana de Lisboa, na consulta externa do Hospital Garcia da Horta, sendo definido posteriormente ao longo da construção do modelo teórico a necessidade de selecionar outros contextos.
Numa 1ª fase iremos dar continuidade ao processo de pesquisa já iniciado com a realização e divulgação de uma Revisão Sistemática da Literatura de acordo com as orientações preconizadas pelo Joanna Brigs Institute sobre as vivências destas mulheres durante o processo de IVG. No entanto necessitamos de aprofundar a pesquisa nacional e internacional na área da enfermagem, das midwives, Saúde sexual e reprodutiva e de documentos nacionais e internacionais com orientações nesta matéria (Documentos da Organização Mundial da Saúde, The World Bank, International Planned Parenthood Federation, Objetivos do milénio, ONU, Conselho Internacional de Midwifes, legislação portuguesa, entre outros). Numa 2ª fase iremos realizar uma pesquisa dos registos obrigatórios para a DGS. Pretendemos nesta fase realizar ainda Focus group aos enfermeiros que tenham intervenções de enfermagem no cuidar destas mulheres. Esta recolha de dados permitirá, conhecer o fenómeno da IVG na perspetiva dos enfermeiros; identificar o processo de acesso das mulheres aos seus direitos sexuais e reprodutivos, e as intervenções dos enfermeiros nas diferentes etapas do processo de IVG; Identificar as necessidades das mulheres para o autocuidado na regulação da fertilidade com segurança durante o processo de IVG na perspetiva dos enfermeiros; Caracterizar as mulheres em relação à prevalência contracetiva e ainda organizar contributos para a elaboração da entrevista às mulheres.
Numa 3ª fase e após análise sistemática e constante dos dados de acordo com os pressupostos daGrounded Theory, será construída uma entrevista semi-estruturada tendo por base também os resultados da análise dos dados resultante do focus group realizado na 2ª fase do estudo, que será efetuada às mulheres duas/três semanas após interrupção da gravidez, após consentimento das mesmas para que sejam contactadas pelo investigador. O acesso às mulheres será realizado com a ajuda dos profissionais dos diversos serviços participantes. Temos como objetivos nesta fase compreender como é que as mulheres com uma gravidez não planeada e que decidem interromper a gravidez constroem o processo de transição para o autocuidadono processo de regulação da sua fertilidade; compreender os significados que as mulheres com uma gravidez não planeada atribuem à Interrupção da gravidez por método medicamentoso; Identificar as condições que se apresentam durante o processo de uma gravidez não planeada e IVG; Identificar os recursos das mulheres com uma gravidez não planeada durante o processo IVG; Identificar os momentos críticos que vive a mulher durante estes processos e após IVG na regulação da sua fertilidade; Identificar os elementos facilitadores e dificultadores nestes processos; Identificar as terapêuticas de enfermagem que ajudam as mulheres no processo de transição saudável. Numa 4ª fase será construído um relatório final que espelhe a construção de uma teoria que sustente um programa de intervenção em Enfermagem direcionado para o autocuidado das mulheres com gravidezes não planeadas e que decidem IVG na regulação da sua fertilidade. Na 5ª fase realizaremos uma avaliação dos dados preliminares junto do orientador e com a realização de um ou dois focus groups com profissionais e especialistas científicos e das entidades competentes; A análise crítica dos resultados consolidados, será a 6º fase onde realizaremos nova verificação no terreno e recolha e atualização de informações científicas e oficiais;
Numa 7ª fase faremos a redação da Tese; Uma 8ª fase constará na disseminação dos resultados durante a realização do projeto, com apresentações em congressos nacionais e internacionais, elaboração de artigos e divulgação em Bases de Dados e outros tipo de publicação, e no final a redação de recomendações para enviar para as escolas de formação de profissionais de saúde, de unidades de saúde e entidades competentes pelas gestão dos serviços, para as ordens profissionais, colégios de especialidade e criação de módulo de formação para profissionais a trabalhar nesta área. Por fim, a publicação da tese em livro.
A gravidez não planeada é um problema a nível global na área da saúde sexual e reprodutivo das mulheres, que afeta não só a mulher mas também o homem, o casal a família e a sociedade. Apesar de ter havido um aumento substancial do uso de contracetivos e de algumas políticas de saúde onde o acesso aos métodos contracetivos é facilitado, contínua em Portugal e no mundo a acontecer gravidezes não planeadas e não desejadas. Vários são os fatores que contribuem para as gravidezes não planeadas como a não utilização de métodos contracetivos, a não eficácia do contracetivo, não frequência das consultas de planeamento familiar, violência sexual, problemas económicos e/ou sociais, crenças religiosas, fatores este, determinante para a ocorrência de uma interrupção voluntaria da gravidez (Pedrosa et al 2000; Francisco et al, 2007).
A transição da mulher para o estado de não grávida, em casos de gravidezes não desejadas e não planeadas, requer uma autorresponsabilização pela saúde sexual e reprodutiva nomeadamente pelo controle da sua fertilidade. Só com um conhecimento mais profundo das necessidades das mulheres relativamente ao autocuidado na regulação da fertilidade nos permitirão cuidados de enfermagem que melhorem a sua saúde sexual e reprodutivas.
Este estudo tem como finalidadecontribuir para a melhoria da qualidade dos cuidados em Enfermagem através do aprofundamento do conhecimentosque nos permita construir uma teoria que sustente um programa de intervenção direcionado para o Autocuidado das mulheres na regulação da fertilidade quando confrontadas com uma gravidez não planeada e que decidem pela interrupção voluntaria da gravidez. Dando resposta à finalidade do estudo temos como objetivo geral compreender como é que a mulher com uma gravidez não planeada e que decide interromper a gravidez por método medicamentoso constrói o processo de transição para o autocuidado na regulação da sua fertilidade. Os cuidados a prestar em Saúde Reprodutiva constituem um conjunto diversificado de serviços, técnicas e métodos que contribuem para a saúde e o bem-estar reprodutivos através da prevenção e resolução de problemas, dando respostas adequadas às necessidades específicas em função do género, ao longo do ciclo de vida dos indivíduos (DGS, 2010).
Resultados esperados
Pretendemos contribuir para a melhoria da qualidade dos cuidados em Enfermagem através do aprofundamento do conhecimentosque nos permita construir uma teoria que sustente um programa de intervenção direcionado para o Autocuidado das mulheres na regulação da fertilidade quando confrontadas com uma gravidez não planeada e que decidem pela interrupção voluntaria da gravidez.
01/01/2010
01/01/2014
Well-being and Health Promotion