A menstruação é um processo biológico que as mulheres vivenciam desde a puberdade até a menopausa. Compreender a higiene menstrual e gerenciá-la adequadamente é um desafio para muitas meninas e mulheres em todo o mundo. A falta de acesso a produtos de saúde menstrual seguros e higiénicos afeta a saúde, a segurança, a educação e a aceitação social de meninas e mulheres. Assim, é essencial criar consciência sobre a gestão da higiene menstrual, a fim de garantir que todas as meninas e mulheres em todo o mundo tenham acesso a produtos de higiene menstrual de qualidade. A Quarta Conferência Mundial sobre as Mulheres decorrida em Pequim, em 1995, foi um marco importante na promoção dos direitos e empoderamento das mulheres, mas só em 2015, com a elaboração dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), é que a igualdade de género e o empoderamento das mulheres foi o tema central. No objetivo 5 dos ODS (Igualdade de Género) será onde poderemos enquadrar a gestão da higiene menstrual, ainda assim, este tema não é descrito inequivocamente, uma vez que as desigualdades de género são comuns a vários objetivos (Barge, 2018). É do senso comum que mulheres em todo o mundo são ainda privadas de produtos básicos de higiene e mais especificamente produtos de higiene menstrual, permanecendo este assunto grosseiramente incompreendido e amplamente estigmatizado, dando origem a tabus que aumentam a complexidade e a vergonha. Em todo o mundo raparigas e mulheres são afastadas do seu quotidiano, impedidas de realizar tarefas como cozinhar, lavar o cabelo ou até mesmo de tocar em outras pessoas, ou ver-se ao espelho (House, Mahon e Cavill, 2012). A falta de acesso a pensos higiénicos e tampões muitas vezes contribui para sentimentos de medo, vergonha, incerteza e a ausência de informação sobre a higiene menstrual. É por isso necessário quebrar tabus em torno da menstruação e dos produtos de higiene menstrual para promover a educação em saúde e igualdade de género. Mas, compreendemos também, que, com o avançar dos tempos, precisamos cada vez mais de preservar o ambiente e, a longo prazo, os produtos de higiene descartáveis causam danos enormes a nível ambiental, uma vez que são maioritariamente compostos e/ou envolvidos em plástico de difícil degradação e com a sua inutilização indevida dá-se a formação de microplásticos nos oceanos (Peberdy, Jones & Green, 2019). Ainda que atualmente os produtos de higiene menstrual descartáveis mais utilizados sejam os pensos higiénicos e os tampões, já existem no mercado alternativas mais sustentáveis, reutilizáveis e ecológicas, nomeadamente cuecas e pensos higiénicos reutilizáveis e os copos menstruais. De acordo com Gallo et al. (2020), os primeiros modelos de copos menstruais surgiram nos Estados Unidos em 1867 e eram designados por “bolsas catameniais”. Uma mulher, “em 1937, Leona Chalmers, patenteou o primeiro protótipo comercial que inicialmente não foi bem recebido, no entanto, ressurgiu na década de 80” (p. 164). Os copos menstruais são uma solução segura para gerir a higiene menstrual, sendo opções reutilizáveis, económicas e ecológicas que oferecem uma série de benefícios em relação às opções tradicionais, como tampões ou pensos higiénicos. Assim, e décadas depois, será altura para nos interrogarmos sobre o aparente uso reduzido dos copos menstruais pelas mulheres comparativamente com outros métodos, pois poderá ser percetível que esta alternativa não é do conhecimento geral e poderá levar algum tempo a chegar a todas as mulheres. Contudo a adoção deste método poderá estar condicionada por vários fatores e estes estarem aliados à estigmatização da menstruação (Duarte, 2021, p. 6-7).menstrual descartáveis causam danos enormes a nível ambiental, uma vez que são maioritariamente compostos e/ou envolvidos em plástico de difícil degradação e com a sua inutilização indevida dá-se a formação de microplásticos nos oceanos (Peberdy, Jones & Green, 2019). Ainda que atualmente os produtos de higiene menstrual descartáveis mais utilizados sejam os pensos higiénicos e os tampões, já existem no mercado alternativas mais sustentáveis, reutilizáveis e ecológicas, nomeadamente cuecas e pensos higiénicos reutilizáveis e os copos menstruais.
Enquadramento: A menstruação é ainda um tema envolto em estigmas, tabus e desinformação, afetando a forma como muitas mulheres experienciam e gerem a sua saúde e higiene menstrual. O copo menstrual surge como uma alternativa ecológica, económica e segura, mas a sua utilização permanece limitada. O enfermeiro especialista em enfermagem de saúde materna e obstétrica (EEESMO) tem um papel central na promoção da literacia em saúde e no empoderamento feminino, sendo crucial compreender a realidade do uso do copo menstrual para assim poder intervir nesta área. O presente estudo tem como objetivos: Descrever quais os métodos de higiene menstrual utilizados pelas mulheres portuguesas; Descrever o uso do copo menstrual pelas mulheres portuguesas; Identificar os motivos que levam à não adesão ao copo menstrual pelas mulheres portuguesas; Descrever as vantagens e desvantagens do uso do copo menstrual identificadas pelas mulheres portuguesas; Identificar as fontes de informação relacionadas com o uso do copo menstrual. Metodologia: Estudo de natureza quantitativa, descritiva e exploratória. A recolha de dados foi realizada através de um questionário online aplicado a mulheres em idade fértil. A amostra foi constituída por participantes que aceitaram voluntariamente responder ao inquérito.
Descrever quais os métodos de higiene menstrual utilizados pelas mulheres portuguesas;
Descrever o uso do copo menstrual pelas mulheres portuguesas;
Identificar os motivos que levam à não adesão ao copo menstrual pelas mulheres portuguesas;
Descrever as vantagens e desvantagens do uso do copo menstrual identificadas pelas mulheres portuguesas;
Identificar as fontes de informação relacionadas com o uso do copo menstrual.
O presente estudo destaca-se pela sua natureza inovadora ao explorar a utilização do copo menstrual como uma alternativa sustentável e económica aos produtos menstruais tradicionais. A inovação reside não só no foco num produto ecológico e ainda pouco disseminado, mas também na valorização da literacia em saúde e do empoderamento feminino. Do ponto de vista ético, o estudo respeitou rigorosamente os princípios de confidencialidade, voluntariedade e consentimento informado, assegurando a dignidade e autonomia das participantes. O envolvimento cidadão é evidente na forma como se promoveu a participação ativa das mulheres enquanto agentes de mudança, escutando as suas experiências, dúvidas e resistências. Este trabalho reforça o papel do enfermeiro especialista como educador e defensor da equidade, incentivando a tomada de decisões conscientes e informadas sobre a própria saúde menstrual.
Não aplicável
Barge, I. (2018). Gestão da Higiene Menstrual – Percepções sobre Direitos Sexuais e Reprodutivos (Dissertação de Mestrado). Universidade de Lisboa, Instituto Superior de Economia e Gestão, Portugal
Duarte, J. (2021). Processo de adoção do copo menstrual e riscos percecionados. (Dissertação de Mestrado). Universidade de Lisboa, Instituto Superior de Economia e Gestão, Portugal.
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Fortin, M-F., Brisson, D. P. & Coutu-Wakulczyk, G. (2003). Noções de ética em investigação. In M-F. Fortin, O processo de investigação da concepção à realização (Cap. 9, pp. 114-130). Loures: Lusociência
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Peberdy, E., Jones, A., & Green, D. (2019). A study into public awareness of the environmental impact of menstrual products and product choice. Sustainability, 11(2), 473. Recuperado de https://doi.org/10.3390/su11020473
03/02/2025
01/05/2025
Género, saúde e desenvolvimento
Well-being and Health Promotion