O consumo de substâncias, incluindo o álcool, tem sido repetidamente identificado como fator de risco no que respeita aos comportamentos sexuais dos jovens, que, ao consumirem álcool, têm uma probabilidade sete vezes maior de se envolver em comportamentos sexuais de risco do que aqueles que o não consomem; e o consumo de álcool está muitas vezes associado a experiências sexuais que resultam em comportamento de risco (ex., o não uso ou o uso inconsistente do preservativo). Em relação aos não consumidores, os consumidores de álcool podem diferir consideravelmente no planeamento da intenção de adotar práticas sexuais mais seguras. Além disso, a perceção de risco, que constitui um fator contributivo da motivação para se envolverem em comportamentos preventivos, é mais baixa nos grandes consumidores de álcool, sendo certo que os indivíduos que percebem um risco mais baixo estão, consequentemente, menos motivados para o evitar (Harkabus, Harman & Puntenney, 2012).
O ato sexual que decorre quando um ou ambos os parceiros estão sob efeito de substâncias tem mais probabilidade de não ser planeado e, por isso, a probabilidade do uso do preservativo é menor. Este indicador, centrado no respondente, não nos dá uma ideia do número de relações sexuais sob efeito de substâncias, mas sim do número de pessoas que tiveram relações sexuais sob efeito delas, uma vez que no mesmo estudo podem estar em observação indivíduos que foram parceiros sexuais entre si.
Tem sido visto que o uso de substâncias está associado a uma iniciação sexual precoce. Do mesmo modo, a atividade sexual sob efeito de álcool ou outras drogas tem estado associado a uma menor probabilidade do uso do preservativo e a uma probabilidade maior de usar ou sofrer de violência sexual (Shneyderman & Schwartz, 2012).
O consumo de álcool é comum entre os estudantes universitários. Embora a maioria deles sejam consumidores ligeiros a moderados, muitos estudantes envolvem-se, ocasional ou frequentemente, em níveis problemáticos, mesmo pesados, de consumo. Mas pensa-se que tanto o consumo ligeiro a moderado como os níveis elevados de consumo diminuem a probabilidade do uso do preservativo e aumentam a probabilidade de ter múltiplos parceiros ou parceiros ocasionais (Kaly, Heesacker & Frost, 2002; Grello, Welsh & Harper, 2006).
Dados de outros estudos apontam para alguns factos curiosos a respeito de uma possível relação entre o consumo de álcool e a observância de práticas preventivas por parte dos estudantes universitários e ainda da influência de programas de intervenção no consumo de álcool sobre o uso ou não do preservativo ou no ter ou não ter sexo com múltiplos parceiros. Assim, Dermen & Thomas, reconhecendo que os seus resultados estão de algum modo em desacordo com outros estudos, verificaram no seu estudo, em estudantes universitários da área metropolitana de Buffalo, NY, que a intervenção centrada no consumo de álcool não teve efeito sobre o comportamento sexual de risco, sugerindo que o consumo de álcool é irrelevante para a tomada de decisão sobre usar ou não usar preservativo e ter ou não ter sexo com múltiplos parceiros (Dermen & Thomas, 2011).
Por seu turno, Abbey et al. observaram, num estudo em estudantes universitários, que “o mais forte preditor do uso do preservativo em estado de intoxicação [alcoólica] é o uso do preservativo no estado de sobriedade” (Abbey, Parkhill, Buck & Saenz, 2007). Em consonância com este achado, Leigh et al (2008), num estudo também com estudantes universitários, observaram que o facto de beber antes de uma relação sexual não conduzia a uma redução da probabilidade do uso do preservativo. Pelo contrário, os indivíduos mostravam-se consistentes quanto ao uso ou não uso do preservativo, independentemente do consumo e da quantidade de álcool.
Para Cooper, a evidência sugere que o consumo de álcool entre os jovens universitários está mais relacionado com ter parceiros múltiplos ou ocasionais do que, propriamente, com uma diminuição da probabilidade de usar o preservativo (Cooper, 2012). Já Neal & Fromme (2007) sugerem que o consumo de álcool pode ter um efeito agudo sobre os comportamentos sexuais de risco entre bebedores relativamente leves mas não sobre bebedores mais pesados.
Pombo & Sampaio referem que, apesar de ser habitualmente reconhecida a disparidade entre sexos no que respeita aos consumos de álcool, em que o sexo masculino evidencia maiores níveis de consumo, comparado com o sexo feminino, os mais recentes dados epidemiológicos europeus, com especial atenção para Portugal, apontam para uma aproximação de consumos entre as populações dos dois sexos. Quanto ao tipo de bebida habitualmente consumido pelos jovens universitários, os autores referem 20% vinho, 38% cerveja, 63.6% destilados (shots) e 50.4% sumos alcoolizados. Quanto ao padrão de consumo, os autores mencionam que 85.6% dos inquiridos referiram só beber à noite, 60.3% só em festas, 66.7% bebe normalmente em grupo, 32.5% só aos fins de semana e 15.9% associa o consumo de álcool a outras substâncias psicoativas. 69.7% dos inquiridos referiram antecedentes de binge drinking.
Este padrão de ligação dos jovens universitários ao consumo de álcool, que os autores consideram “frequente e normativo da adolescência”, está reconhecidamente relacionado com a ocorrência de comportamentos sexuais de risco (Pombo & Sampaio, 2010).
- Avaliar os níveis de risco relativos ao consumo de álcool e outras substâncias psicoativas (policonsumos), em diferentes contextos e ao longo do ciclo vital.
- Perceber a influência do consumo de substâncias sobre os comportamentos sexuais de risco (não uso do preservativo; parceiros múltiplos e ocasionais).
- Implementar as intervenções breves em função das necessidades identificadas e adaptados aos diferentes contextos.
- Avaliar o efeito das intervenções breves na redução do consumo nocivo de álcool e outras substâncias psicoativas.
- Perceber a influência do consumo de substâncias sobre os comportamentos sexuais de proteção.
Abbey, A., Parkhill, M. R., Buck, P. O. & Saenz, C. (2007). Condom use with a casual partner: What distinguishes college students’ use when intoxicated? Psychology of Addictive Behaviors; 21: 76-83.
Cooper, M. L. (2002). Alcohol use and risky sexual behavior among college students and youth: Evaluating the evidence. Jounal of Studies on Alcohol. Supplement nº 14: 101-117.
Dermen, K. H. & Thomas, S. N. (2011). Randomized controlled trial of brief interventions to reduce college students' drinking and risky sex. Psychol Addict Behav; 25 (4): 583-94. doi: 10.1037/a0025472.
Grello, C. M., Welsh, D. P. & Harper, M. S. (2006). No string attached: The nature of casual sex in college students. The Journal of Sex Research; 43:255-267
Harkabus, L. C., Harman, J. J. & Puntenney, J. M. (2012). Condom accessibility: The moderating effects of alcohol use and erotophobia in the information-motivation-behavioral skills model. Health Promotion Practice. Publicação online. doi: 10.1177/1524839912465420.
Kaly, P. W., Heesacker, M. & Frost, H. M. (2002). Collegiate alcohol use and high-risk sexual behavior: A literature review. Journal of College Student Development; 43: 838-850.
Leigh, B. C., Vanslyke, J. G., Hoppe, M. J., Rainey, D. T. Morrison, D. M. & Gillmore, M.R. (2008). Drinking and condom use: Results from an event-based daily diary. AIDS and Behavior; 12: 104-112 [Publimed: 17333311].
Neal, D. J. & Fromme, K. (2007). Event-level covariation of alcohol intoxication and behavioral risks during the first year of college. Journal of Consulting and Clinical Psychology; 75: 294-306. [PubMed: 20147689].
Pombo, S. & Sampaio, D. (2010). Depois da embriaguez vem a ressaca: Uma perspectiva sobre o consumo de álcool nos jovens. Acta Med. Port; 23: 973-982.
Shneyderman, Y. & Schwartz, S. J. (2012). Contextual and intrapersonal predictors of adolescent risky sexual behavior and outcomes. Health Educ. Behav. doi: 10.1177/1090198112447800.
WHO - World Health Organization (2004). National AIDS programmes – A guide to indicators for monitoring and evaluating national HIV/AIDS prevention programs for young people. Geneva
01/01/2017
01/01/2025
Well-being and Health Promotion