A transição para a parentalidade é uma experiência transformadora, stressante e, por vezes, mal-adaptada para uma grande maioria dos pais, que muda o autoconceito, papéis sociais e rotinas diárias (Doss et al., 2009; Saxbe et al., 2018 citado por Bogdan et al., 2022). O nascimento de um filho, principalmente se for o primeiro, gera um período de instabilidade que potencia comportamentos promotores da transição para a parentalidade (Martins et al., 2017).
A transição para a parentalidade tem sido entendida como uma transição de desenvolvimento ou situacional (Canaval et al., 2007; Meleis, 2007 citados por Carvalho, 2020). Esta transição ocorre à medida que cada mulher se concebe como mãe e cada homem se concebe como pai, superando em conjunto as tarefas desenvolvimentais e transformando-as em competências educativas e cuidativas tendo como foco o bem-estar da criança (Canavarro, 2001; Figueiredo, 2001; Mendes, 2007; Stern & Stern, 2000 citados por Carvalho, 2020).
O conceito de paternidade é socialmente atribuído ao homem pelo reconhecimento da sua masculinidade no que concerne às suas funções face à reprodução, mas também pelo assumir das funções de chefe de família, ou seja, de um novo núcleo social (Garcia, 2000 citado por Mendes, 2007). Até ao final do século dezanove, ser pai era sinónimo de ser educador e disciplinador, dentro dos parâmetros de carácter repressivo, sendo, consequentemente, reduzida a interação pai e filho (Gouveia et al., 1991 citado por Mendes, 2007). Atualmente, os homens desejam praticar uma paternidade mais envolvida e cuidadora, considerando a aprendizagem de novas habilidades para o cuidar do novo ser um importante domínio para a prática da parentalidade (Eskandari et al., 2019).
Após o nascimento do bebé, o processo de construção do papel paterno revela-se um processo difícil e complexo, principalmente para os pais de primeira viagem (Mendes, 2007). Neste processo de tornar- se pai, são necessárias numerosas adaptações nas atividades sociais e pessoais. Durante a primeira semana pós-parto, os pais de primeira viagem enfrentam inúmeros desafios e necessidades até então desconhecidas tais como frustração, por não serem mais envolvidos nos cuidados ao recém-nascido, desinformação sobre cuidados ao recém-nascido e como desempenhar o seu papel parental, dificuldade em equilibrar o emprego com a nova vida familiar e falta de apoio pelos profissionais de saúde (Shorey et al., 2019).
O nascimento do primeiro filho é um evento alegre e emocional, mas desafiante com efeitos sobretudo negativos na conjugalidade, gerando inúmeras transformações na vida conjugal, dado o casal passar a exercer não só funções de marido e mulher, mas também de pai e mãe exigindo a redefinição da identidade de cada membro do casal (Hidalgo & Menéndez, 2003 citados por Duarte & Zordan 2016; Kuille et al., 2021; Leite, 2018).
Este impacto vivenciado pelo casal promove alterações na estabilidade do sistema familiar o que implica que este faça adaptações para alcançar um novo equilíbrio, no qual passa a ser incluído um novo membro da família e, por conseguinte, um novo subsistema, o parental (Macedo, 2020). O ajustamento da mulher e do homem ao seu novo papel começa imediatamente após o parto, sendo um longo percurso de aprendizagem em relação a si próprios, em relação ao bebé e na relação conjugal (Mendes, 2007).
A qualidade da relação do casal depende do que é definido entre ambos os elementos e engloba interações positivas nomeadamente o sentimento de apoio, afeto e interesses conjuntos e interações negativas nomeadamente irritabilidade e discussões (Figueiredo et al., 2008 citados por Canário & Figueiredo, 2016).
A insatisfação com a relação conjugal pode estar relacionada com a diminuição do tempo e das atividades de lazer do casal e o aumento dos conflitos relacionados com o novo recém-nascido, o que resulta numa diminuição das interações positivas e sentimentos de amor entre o casal (Belsky & Pensky, 1998 citados por Shorey et al., 2019).
A chegada do primeiro filho, diminui a privacidade do casal e a intimidade sexual uma vez que há excesso de preocupações relacionadas com o recém-nascido (Bradt & Jack, 2001 citados por Duarte & Zordan, 2016). Contudo, o retorno da atividade sexual entre o casal, continua a ser um assunto importante na vida de ambos, devendo ser foco de atenção do enfermeiro (Bobak et al., 2009 citados por Faria, 2021).
A qualidade da relação conjugal após o nascimento de uma criança tem ainda implic
A transição para a parentalidade é uma experiência transformadora particularmente para os pais quando o são pela primeira vez, dado a consequente complexificação do núcleo familiar, redefinição de papéis e projetos de vida. O nascimento do primeiro filho é um acontecimento vivenciado por sentimentos de grande alegria, podendo também ser marcado por declínios significativos na relação entre o casal e na satisfação com a mesma que pode conduzir a conflitos relacionados com o papel de pai.Objetivo: Conhecer a perceção dos pais (figura paterna) sob o modo como a sua integração ao papel parental influenciou a vivência da conjugalidade. Metodologia: Estudo nível I exploratório-descritivo de natureza qualitativa. Os dados serão recolhidos através do “Focus Group”, uma ferramenta de investigação que assume a forma de uma discussão estruturada. Amostragem não probabilística, por conveniência em “bola de neve”. constituída por pais pela primeira vez de filhos com menos de 6 meses de vida.Resultados esperados: Pensamos que o nascimento do primeiro filho implicará uma reorganização na dinâmica do casal, concretamente para a figura paterna, com o surgimento de novas responsabilidades inerentes ao papel de pai. Esta responsabilidade parental poderá ter um impacto negativo ou positivo na relação conjugal, dependendo da perspetiva do casal e das adaptações que são necessárias realizar
Conhecer a perceção dos pais (figura paterna) sob como a sua adaptação ao papel parental influenciou a vivência da conjugalidade.
Os investigadores acreditam que os resultados deste estudo contribuirão para uma maior consciencialização dos Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica sobre as práticas relacionadas com o apoio à parentalidade. Considera-se que o nascimento do primeiro filho provoca uma reorganização na dinâmica do casal, especialmente para a figura paterna, com o surgimento de novas responsabilidades associadas ao papel de pai. Essa nova responsabilidade pode influenciar a relação conjugal de forma positiva ou negativa, dependendo da perceção do casal e da sua capacidade de adaptação às mudanças exigidas.
Não aplicávelBarbour, R. S. (2018). Doing Focus Groups (2th ed.). SAGE Publications Ltd.
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30/04/2024
30/11/2026
TRANSIÇÃO PARA A PARENTALIDADE: RESPOSTAS NO PROCESSO DE AJUSTAMENTO
Well-being and Health Promotion