A relação conjugal emerge de um processo de organização contínuo, complexo e dinâmico entre duas pessoas com características próprias, cada uma delas dotada de significados, valores, crenças e de um conjunto de experiências históricas e culturais da família de origem (Figueiredo, 2012; Porreca, 2019).
A qualidade da relação conjugal pode afetar a qualidade de vida de todos os elementos da família (Demirtas, 2018).
São fatores protetores da conjugalidade, a gravidez planeada, a comunicação conjugal, a compreensão e a entreajuda entre o casal. Por outro lado, são fatores dificultadores, a gestão de momentos a sós, o reinício e a manutenção da sexualidade, o desempenho do papel parental, a família alargada e a ausência de apoio dos profissionais de saúde (Silva et al., 2021).
A satisfação conjugal emerge da relação conjugal. Provém de sentimentos de bem-estar, segurança, intimidade e compreensão (Cerqueira-Santos et al., 2016; Hernandez, 2020; Porreca, 2019). Trata-se, portanto, de um indicador de felicidade (Nourani et al., 2019).
Estar satisfeito com a relação conjugal contribui significativamente para a manutenção do relacionamento do casal e para o seu papel parental. Por outro lado, a diminuição da satisfação conjugal, gera uma fonte de tensão entre os elementos do casal, o que por sua vez poderá ampliar problemas pré-existentes no relacionamento e levar a uma relação parental insatisfatória (Doss & Rhoades, 2017).
A satisfação conjugal diminui até aos 18 meses da criança, verificando-se também um aumento dos conflitos conjugais até esta idade. Nos homens, a satisfação conjugal sofre poucas alterações até aos seis meses pós-parto, sofrendo um declínio mais drástico dos 6 aos 18 meses da criança. Pelo contrário, a satisfação conjugal das mulheres sofre um maior declínio até aos seis meses, sofrendo posteriormente um declínio moderado até aos 18 meses (Cowan et al., 1985, conforme citado por Estrela, 2023).
Relações conjugais bem definidas facilitam o processo de transição para a parentalidade, o que por sua vez resulta em níveis de satisfação conjugal mais elevados (Brito et al., 2022).
A transição para a parentalidade é uma das transições mais dramáticas e intensas que o sistema familiar enfrenta, pois embora se trate de um acontecimento de caráter normativo e habitualmente esperado e desejado, não é vivenciado de igual modo por todos os indivíduos/famílias. Torna-se por isso de um período suscetível de desequilíbrios e vulnerabilidades, constituindo-se como um risco para a saúde e bem-estar do sistema familiar (Martins et al., 2017).
É uma transição que gera um período de crise no casal, podendo ocorrer uma diminuição da satisfação conjugal após o nascimento do primeiro filho. Ao sistema familiar, acrescentam-se novas responsabilidades e tarefas, o que provoca stress e poderá resultar em insatisfação conjugal (Moraes & Granato, 2016; Soares & Colossi, 2016).
Durante a transição para a parentalidade existem famílias que experienciam vivências positivas na conjugalidade, referindo uma maior união entre o casal, uma maior partilha de tarefas, cooperação e o reinício do namoro. Contudo, outros casais, vivenciam experiências negativas, apontando a existência de menos tempo para o casal, o receio da mulher no reinício da atividade sexual e o receio desta em não se sentir desejada pelo companheiro (Mendes, 2009).
Após o nascimento do primeiro filho, as discussões e os conflitos entre o casal poderão aumentar, a efetividade da comunicação pode diminuir e culminar em insatisfação, pois a atenção, o tempo e o espaço do casal, passam a ser dedicados maioritariamente à criança (Moraes & Granato, 2016).
O aumento dos conflitos conjugais deve-se também às tarefas domésticas que sofreram um aumento significativo, pelo que é essencial que haja uma redistribuição das mesmas (Moraes & Granato, 2016; Martins et al., 2017).
Assumir um novo papel, o de pai e o de mãe, interfere na vida conjugal, principalmente na sexualidade. Casais com filhos apresentam um menor nível de satisfação sexual e menos tempo para realizarem atividades em comum (Nourani et al., 2019).
De acordo com Tralhão et al. (2020), o enfermeiro é o profissional de saúde responsável pela capacitação e pelo empoderamento das famílias, promovendo a saúde familiar e prevenindo situações de fragilidade ou de doença.
Enquadramento: A satisfação conjugal assume um papel preponderante na sobrevivência e crescimento das famílias. Resulta da avaliação subjetiva que cada elemento do casal faz acerca da relação com o companheiro. O nascimento do primeiro filho impõe um conjunto de mudanças na vida do casal, pelo que a conjugalidade fica muitas vezes para segundo plano. Enquanto agente facilitador dos processos de transição, cabe ao Enfermeiro Especialista em Saúde Familiar, capacitar a família pelo reforço das suas forças e pela transformação das suas barreiras.
Objetivos: Conhecer a satisfação conjugal dos casais após o nascimento do primeiro filho; Identificar a relação entre os fatores sociodemográficos e a satisfação conjugal destas famílias.
Metodologia: Estudo transversal, descritivo-correlacional de abordagem quantitativa. Será utilizada uma técnica de amostragem não probabilística por conveniência. A população alvo é constituída por casais com filhos até aos 18 meses. Será aplicado um questionário sociodemográfico e a EASAVIC a ambos os elementos do casal.
Resultados Esperados: Espera-se conhecer a satisfação conjugal dos casais com filhos até aos 18 meses e identificar a relação entre os fatores sociodemográficos e a satisfação conjugal destas famílias. Prevê-se que estes resultados contribuam para o aumento do conhecimento em Enfermagem de Saúde Familiar e que promovam a qualidade dos cuida
Conhecer a satisfação conjugal dos casais em transição para a parentalidade; Identificar a relação entre os fatores sociodemográficos e a satisfação conjugal destas famílias.
Este estudo é inovador na medida em que aborda a satisfação conjugal de casais primíparos, em transição para a parentalidade, com filhos dos 0 aos 18 meses, à luz da Enfermagem de Saúde Familiar. Propõe uma abordagem centrada na família com potencial para contribuir para a melhoria da qualidade dos cuidados. Toda a investigação cumpre os princípios éticos com aprovação das comissões de ética da UICISA: E e da ARS do Centro.
O envolvimento da pulação-alvo (casais primíparos com filhos até aos 18 meses) é garantido através da participação ativa na recolha de dados. Os resultados serão partilhados com os profissionais de saúde, promovendo a literacia em saúde. Pretende-se construir um projeto de melhoria contínua, a fim de melhorar a qualidade dos cuidados prestados a todos os casais “primíparos” com filhos dos 0 aos 18 meses.
Não aplicávelBrito, T., Sousa, S., Peixito, M. J., Ferreira, M., & Figueiredo, M. H. (2022). Família Silva. In M. H. Neves (Coord.), Conceção de cuidados em enfermagem de saúde familiar: Estudos de caso (pp. 1-32). Sabooks Editora.
Cerqueira-santos, E., Silva, B.B., Rodrigues, H.S., & Santos, L. (2016). Homofobia internalizada e satisfação conjugal em homens e mulheres homossexuais. Contextos Clínicos, 9(2), 148-158. https://doi.org/10.4013/ctc.2016.92.01
Demirtas, A., Baytemir, K. & Güllü, A. (2018). The predictive role of constructive thinking on atributions and marital satisfaction. Eletronic Journal of Social Sciences, 17(66), 766-778. https://doi.org/10.17755/esosder.359172
Doss, B. D, & Rhoades, G. K. (2017). The transition to parenthood: impact on couples’ romantic relationships. Current Opinion in Psychology, 13, 25–28. https://doi.org/10.1016/j.copsyc.2016.04.003
Estrela, F. A. (2023). Adaptação à parentalidade: O impacto do primeiro filho na satisfação conjugal [Dissertação de Mestrado, Universidade de Lisboa]. Repositório da Universidade de Lisboa. http://hdl.handle.net/10451/61508
Figueiredo, M. H. (2012). Modelo dinâmico de avaliação e intervenção familiar: Uma abordagem colaborativa em enfermagem de família. Sabooks Editora.
Hernandez, J. A. & Baylão, V. L. (2020). Papéis sexuais, amor e satisfação conjugal em indivíduos heterossexuais e homossexuais. Psico-USF, 25(1), 27-38. https://doi.org/10.1590/1413-82712020250103
Martins, C. A., Abreu, W. J., & Figueiredo M. C. (2017). Tornar-se pai ou mãe: O desenvolvimento do processo parental. Fronteiras: Journal of Social, Technological and Environmental Science, 6(4), 146-161. http://dx.doi.org/10.21664/2238-8869
Mendes, I. (2009). Ajustamento materno e paterno: experiências vivenciadas pelos pais no pós-parto. Mar da Palavra.
Moraes, C. J. & Granato, T. M. (2016). Tornando-se pai: uma revisão integrativa da literatura sobre a transição para a parentalidade. Psicologia em estudo. 21(4), 557-567. http://doi.org/10.4025/psicolestud.v21i4.29871
Nourani, S., Seraj, F., Shakeri, M. T. & Mokhber (2019). The relationship between gender.role beliefs, household labor division and marital satisfaction in couples. Journal of Holistic Nursing and Midwifery, 29(1), 43-49. http://doi.org/10.29252/HNMJ.29.1.301
Porreca, W. (2019). Relação conjugal: Desafios e possibilidades do “nós”. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35(especial), 1-12. https://dx.doi.org/10.1590/0102.3772e35nspe7
Silva, M. M., Gavinho, M. S., Neves, V. F. & Camarneiro, A. P. (2021). Fatores protetores e dificultadores da conjugalidade na transição para a parentalidade. Pensar Enfermagem, 25(2), 20-32. https://doi.org/10.56732/pensarenf.v25i2.183
Soares, B. & Colossi, P.M. (2016). Transições no ciclo de vida familiar: a perspetiva paterna frente ao processo de transição para a parentadidade. Revista Barbarói, 48, 253-276. http://dx.doi.org/10.17058/barbaroi.v0i48.6942
Tralhão, F., Rosado, A. F., Gil, E., Amendoeira, J., Ferreira, R. & Silva, M. (2020). A família como promotora da transição para a parentalidade. Revista UIIPS - Unidade de Investigação do Instituto Politécnico de Santarém, 8(1), 17-30. https://doi.org/10.25746/ruiips.v8.i1.19874
11/05/2025
30/09/2025
Investigação e Ação em Saúde Familiar
Well-being and Health Promotion