Os comportamentos para-suicidários têm aumentado nos últimos anos. Apesar de Portugal não fazer parte do estudo multicêntrico do para-suicídio da OMS, as estatísticas apresentadas levam-nos a verificar que Portugal acompanha este aumento, particularmente em jovens entre os 15 e 24 anos. Se comparármos os dados do centro multicêntrico da OMS, com os dados de Coimbra, verificamos que estamos numa posição cimeira na frequência deste tipo de comportamentos. A Consulta de prevenção do Suicídio dos Hospitais da Universidade de Coimbra acompanhou, desde a sua criação, indivíduos com comportamentos da esfera suicidária, tendo uma vasta experiência nesta matéria, sendo uma referência nacional.

Um conhecimento mais profundo dos jovens e do seu desenvolvimento, numa fase de vida onde os comportamentos para-suicidários são mais comuns, permitirá a adequação de um plano de intervenção centrado no indivíduo e seu ambiente, destacando a família. O objectivo central deste estudo é analisar o impacto do comportamento para-suicidário na família, o papel da família no seu desenvolvimento e na ocorrência de comportamentos recorrentes, através dum modelo de intervenção visando a promoção do bem-estar individual e familiar.

Este projecto tem dois focos de intervenção: por uma lado o para-suicida, intervenção individualizada, no contexto hospitalar, em regime ambulatório, que visa a resolução da crise precipitante do comportamento para-suicidário e melhorar as estratégias de coping. Por outro lado, a intervenção familiar, no contexto hospitalar e domiciliário, tem como objectivo estudar o impacto que o comportamento teve na família e a influência desta na repetição do comportamento para-suicidário, ajudando-a a lidar com este comportamento e a ser promotora do bem estar individual e familiar.

O público alvo são os adolescentes para-suicidas residentes no Concelho de Coimbra e suas famílias. Desenrola-se em quatro domínios:

1-Identificação do perfil do adolescente para-suicida que recorre ao serviço de urgência dos HUC através de questionários e entrevista clínica (EACOS, Entrevista de Avaliação de Comportamentos Suicidários), durante 12 meses com um grupo de controlo de características semelhantes.

2- Intervenção junto das famílias dos para-suicidas, através da avaliação da Emoção Expressa (EE) e intervenção familiar de acordo com o modelo de Kerfoot, Harrington e Dyer (1995) “Brief home-based intervention with young suicide attempters and their families”. Nesta abordagem das famílias duas entrevistas (a segunda e a quinta) serão feitas no domicílio ao longo de 12 meses, finalizando com uma última sessão de avaliação da EE.

3- Prevenção de novos comportamentos para-suicidários através de elaboração de um guia para as famílias e criação de um blog.

4-Promoção de formação para profissionais de saúde no sentido da apresentação dos resultados do estudo e dinamizar a mudança de práticas, se necessário.

Como Santos estudou anteriormente (2000, 2007) o destino da maioria dos indivíduos com comportamento para-suicidário, que recorriam à urgência era o domicílio, para junto da família. O mesmo auto caracterizou a família com uma elevada EE, especialmente sobreenvolvimento emocional, criticismo e hostilidade. Os elementos da família mostravam dificuldades em lidar com este processo e apresentavam sentimentos de culpa, incapacidade, medo, comportamentos estigmatizantes e isolamento. Estes dados conferem grande importância à intervenção familiar, ajudando no coping e resolução de problemas.

Com este projecto esperamos prevenir novos comportamentos para-suicidários e promover novas discussões neste tema, melhorando a assistência aos jovens e familias. Por outro lado a experiência da equipa neste tema e na investigação conduzida anteriormente faz-nos ter esperança de conseguir contribuir para melhorar a assistência a este grupo de risco.

 

Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem

Hospitais da Universidade de Coimbra, E.P.E.

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