“TeenSnooze” - Promoção da higiene do sono em adolescentes – efetividade de um programa de intervenção em meio escolar

Um sono com qualidade é crucial para assegurar um bom estado de saúde e bem-estar, e funcionar em pleno diariamente (Organização Mundial da Saúde [OMS], 2004). Um sono saudável requer uma duração adequada, boa qualidade, regularidade e ausência de perturbações do sono, podendo ser influenciado por fatores genéticos, comportamentais, estilos de vida, saúde e ambientais (Paruthi et al., 2016).

A higiene do sono é a associação entre comportamentos e promoção de bons padrões de sono. Estes comportamentos podem repartir-se pelos hábitos ou ambiente em torno da pessoa (Irish et al., 2015; International Council of Nurses [ICN], 2015). A higiene do sono comprometida pode causar impactos negativos a nível físico, psicológico, social e neurológico. Estes impactos podem refletir-se em fadiga, sonolência, dificuldades na gestão emocional, depressão, ideação suicida, automutilação, sistema imunológico deficitário, baixa qualidade de vida e bem-estar, aumento de doenças crónicas, défice cognitivo, ou aumento dos custos de saúde (OMS, 2004; Centers for Disease Control and Prevention, 2016, 2017; Lee, 2017; Yeo et al., 2019).

A American Academy of Sleep Medicine (AASM) declarou que os adolescentes entre os 13-18 anos devem dormir entre 8-10 horas por noite (Paruthi et al., 2016). Dormir o número recomendado de horas está associado a melhores resultados em saúde mental e física, melhor desempenho escolar, gestão emocional mais efetiva e ao aumento da qualidade de vida.

A adolescência é um período de mudanças impactantes na qualidade do sono, a nível psicossocial e biológico (Cassof et al., 2013). Está associado um atraso na fase da indução do sono, com consequente atraso do ciclo circadiano, pela libertação tardia de melatonina, hormona essencial para induzir o sono e regularizar o ciclo circadiano (Carskadon et al., 1993; Redeker, 2011). Outras causas podem ser a pressão académica ou social, uso excessivo de dispositivos eletrónicos à noite ou a ansiedade (Yang et al., 2005; Lee, 2017; Godsell & White, 2019).

Diversos estudos reportam a média da duração do sono nos adolescentes, nomeadamente: 6,02 horas (Yang et al., 2005); 7,1 horas durante a semana e 7,42 horas nos fins de semana (Saxena et al., 2016). Em Portugal, 7,41 horas durante a semana e 9,46 horas ao fim-de-semana (Pinto et al., 2016); 39,2% dormem menos de 8 horas (Matos et al., 2018); ou então 7,52 horas, atingindo mínimos de 5 horas durante a semana, e 8,78 horas ao fim-de-semana (Paiva et al., 2016).

O uso de medicação para dormir em adolescentes tem vindo a ser investigado pelo seu potencial impacto. Na Noruega, em 13415 crianças e adolescentes, a prescrição de melatonina em rapazes era de 72,6% e em raparigas de 59,9% e de benzodiazepinas em rapazes era 94% e 94,2% em raparigas (Hartz et al., 2012); ainda na Noruega, em 2171 adolescentes, 17% faziam medicação hipnótica e psicotrópica (Oerbeck et al., 2020), no Canada, em 67 psiquiatras, 83% reportaram prescrever melatonina e 10% trazodona como 1.ª linha de tratamento para crianças e adolescentes com distúrbios do sono e depressão. A melatonina (97%), a trazodona (81%) e a quetiapina (73%) foram percebidas como efetivas no tratamento (Boafo et al., 2020).

Os adolescentes com uma duração curta de sono reportam tensão, ansiedade, irritabilidade, hostilidade, confusão, cansaço, pouca motivação, humor depressivo, tristeza, desesperança, stress, pensamentos suicidas e de automutilação, dificuldade de concentração e anedonia (Paiva et al, 2016; Lee, 2017; Yeo et al., 2019).

A Sleep Foundation (2023), reportou que 89% dos adolescentes têm aparelhos eletrónicos no quarto durante a noite, estes são um obstáculo a uma boa higiene do sono, desenvolvendo comportamentos de dependência (Paiva et al, 2016; Godsell & White, 2019; Pérez-Chada et al., 2023). Contudo, no estudo de Bainton e Hayes (2022) os adolescentes reportaram que ver filmes ou ouvir música na cama os ajudava a adormecer.

Vários estudos também verificaram a associação entre o sono curto e o desenvolvimento de comportamentos de risco nos adolescentes, tais como beber bebidas alcoólicas, fumar, violência ou consumir drogas (Johnson & Breslau, 2001; O’Brien & Mindell, 2005; Paiva et al, 2016).

A AASM (Paruthi et al., 2016) recomenda uma abordagem multidimensional para aumentar a conscientização e compreensão dos efeitos do sono na saúde, educar jovens, famílias, professores e profissionais de saúde; e promover a investigação sobre a importância do sono para a saúde e o

Nos adolescentes, uma higiene do sono comprometida pode resultar de diversos fatores, como a pressão escolar ou social, ansiedade ou o uso excessivo de aparelhos eletrónicos à noite, emergindo impactos negativos a nível físico, psicológico, social e neurológico.

A higiene do sono engloba os comportamentos, hábitos e ambiente em redor da pessoa, esta sendo adequada pode melhorar a qualidade do sono e da saúde. As mudanças na adolescência têm um elevado impacto na qualidade do sono, sendo característico os adolescentes dormirem menos horas que as recomendadas. Os enfermeiros que trabalham com adolescentes, têm um papel vital a ajudá-los na gestão da sua saúde e do ambiente ao seu redor. A educação sobre a higiene do sono é vital para o bom desenvolvimento dos adolescentes, sendo as escolas os locais ideais para intervir, pelo elevado número de adolescentes em simultâneo, através dos programas de promoção da saúde sobre a higiene do sono. Estes programas visam aumentar o conhecimento sobre o sono, criar uma visão positiva sobre o sono e ajudar a desenvolver hábitos saudáveis de sono, reduzindo assim os efeitos negativos resultantes de uma higiene do sono comprometida.

Assim, pretende-se construir e avaliar um programa de promoção da higiene do sono em adolescentes, envolvendo igualmente a família, informado pela melhor evidência e validado por peritos da área da saúde escolar e comunidade escolar.

Objetivo geral: Construir e avaliar a efetividade do programa para a promoção da higiene do sono em adolescentes.

Objetivos operacionais:

1. Sintetizar a evidência da efetividade dos programas promotores do sono em adolescentes, no meio escolar;

2. Construir um programa para a promoção da higiene do sono em adolescentes;

3. Validar o programa para a promoção da higiene do sono em adolescentes;

4. Avaliar a viabilidade do programa para a promoção da higiene do sono em adolescentes;

5. Avaliar a efetividade do programa de promoção da higiene do sono em adolescentes.

- Uma abordagem integrada ao trabalhar com adolescentes, família e parceiros da comunidade;

- Melhorar a saúde e bem-estar dos envolvidos;

- Desenvolver um programa informado pela melhor evidência;

- Usar metodologias novas e efetivas;

- Reduzir custos em saúde.

Não aplicável

  • Unidade de Saúde Pública - ULS Região de Leiria
  • Escola Gualdim Pais
  • Bainton, J., & Hayes, B. (2022). Sleep in an At Risk Adolescent Group: A Qualitative Exploration of the Perspectives, Experiences and Needs of Youth Who Have Been Excluded From Mainstream Education. Inquiry: a journal of medical care organization, provision and financing, 59. https://doi.org/10.1177/00469580211062410

    Carskadon, M. A., Vieira, C., & Acebo, C. (1993). Association between puberty and a circadian phase delay. Sleep, 16(3), 258-62. https://doi.org/10.1093/sleep/16.3.258

    Cassoff, J., Knäuper, B., Michaelsen, S., & Gruber, R. (2013). School-based sleep promotion programs: effectiveness, feasibility and insights for future research. Sleep medicine reviews, 17(3), 207-214. https://doi.org/10.1016/j.smrv.2012.07.001

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    Regulamento n.o 428/2018 de 16 de julho. Diário da República n.o 135/2018 - II Série. Ordem dos Enfermeiros. Lisboa, Portugal.

    Project Information

    • Start Date

      26/09/2023

    • Completion date

      30/07/2027

    • Structuring project

      DETERMINANTS AND INTERVENTIONS IN COMMUNITY HEALTH AND PUBLIC HEALTH

    • Thematic line

      Well-being and Health Promotion

    • Target population
      • Adolescentes
    • Keywords
      • Promoção da saúde
      • Adolescentes
      • Sono
      • Saúde escolar
      • Enfermagem
    • Áreas prioritárias
      • Educação para a Saúde e Literacia
    • ODS da Agenda 2030 das Nações Unida
      • Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
    • Project Team
      • Filipa Margarida Gonçalves Duque RI
      • Enfermeira Carla Santos
      • Rogério Manuel Clemente Rodrigues
      • Cristina Maria Figueira Veríssimo
      • Doctor Serena Bauducco