Tradução, adaptação cultural e validação da "Process of Retirement Planning Scale (PRePS)" para a população portuguesa

A transição para a reforma representa um dos momentos mais marcantes do ciclo vital da pessoa adulta, tendo implicações significativas na sua saúde física, bem-estar psicológico e integração social. Não sendo apenas um evento pontual, trata-se de um processo de transição multifatorial, cuja qualidade depende, entre outros aspetos, do grau de preparação individual e dos recursos socioculturais e institucionais de apoio (Noone, Stephens, & Alpass, 2010; Seidl, Neiva, Noone, & Topa, 2021).

A literatura evidencia que reformas não planeadas, mais especificamente, as precoces, involuntárias ou motivadas por motivos de saúde, estão associadas a piores desfechos ao nível da saúde mental, maior risco de isolamento e perceção negativa da reforma (Mosconi et al., 2023; Wood & Pachana, 2025). Por outro lado, a transição bem preparada está correlacionada com uma maior satisfação na reforma, manutenção do bem-estar subjetivo, estilos de vida saudáveis e maior continuidade nos papéis sociais (Bačová, Kohút, & Halama, 2023; Vigezzi et al., 2021).

A Organização Mundial da Saúde (OMS), através da Década do Envelhecimento Saudável 2021–2030, reconhece que a promoção de transições bem-sucedidas ao longo da vida, incluindo a transição para a reforma, constitui uma prioridade global. Este plano defende que o envelhecimento saudável requer a manutenção da capacidade funcional e da participação ativa das pessoas em todas as etapas da vida, sendo fundamental “adicionar vida aos anos” (Organização Mundial da Saúde [OMS], 2020). Neste sentido, a promoção do planeamento da reforma, desde idades mais precoces da vida adulta, é vista como uma medida preventiva essencial à saúde e à inclusão social. Também a nível nacional, o Plano de Ação do Envelhecimento Ativo e Saudável 2023–2026, aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 14/2024, reconhece explicitamente a importância de preparar a população para as mudanças associadas ao envelhecimento. Entre os pilares estratégicos do Plano destaca-se a promoção da autonomia, da literacia em saúde e da capacitação para as transições associadas à vida laboral, nomeadamente a reforma (Presidência do Conselho de Ministros, 2024).

Em Portugal, apesar da crescente evidência sobre a relevância do planeamento para a reforma, não existem, até ao momento, instrumentos validados que permitam avaliar, de forma multidimensional, o grau de preparação para essa transição. A Process of Retirement Planning Scale (PRePS), desenvolvida por Noone et al. (2010), é uma escala validada internacionalmente que avalia quatro domínios do planeamento (financeiro, saúde, estilo de vida e psicossocial), segundo quatro fases do processo: representações, definição de objetivos, decisão e preparação. A escala já foi adaptada para contextos culturais diversos (Brasil, Coreia do Sul, Turquia e Espanha), apresentando boas propriedades psicométricas (Seidl et al., 2021; Rafalski & Andrade, 2016), mas carece ainda de validação para a população portuguesa.

A sua adaptação cultural e validação no contexto nacional poderá não apenas colmatar uma lacuna científica e prática, mas também oferecer uma ferramenta de apoio à atuação de profissionais de saúde, nomeadamente em Enfermagem, na identificação precoce de necessidades e na promoção de transições bem-sucedidas, em linha com a Teoria das Transições de Meleis (Schumacher & Meleis, 1994), e com as estratégias de promoção da longevidade saudável preconizadas pelas instâncias nacionais e internacionais.

A transição para a reforma é um momento crítico do ciclo vital, com impacte significativo na saúde, bem-estar e participação social da pessoa mais velha. À luz da Teoria das Transições de Afaf Meleis, a preparação para a reforma deve ser compreendida como um processo contínuo, passível de ser promovido e avaliado. Em Portugal, não existem instrumentos validados que avaliem, de forma compreensiva, o grau de preparação da pessoa adulta para a reforma. A “Process of Retirement Planning Scale” (PRePS) é um instrumento internacionalmente validado que avalia quatro domínios do planeamento da reforma, nomeadamente: financeiro, saúde, estilo de vida e psicossocial, considerando ainda os estádios de representações, objetivos, decisão e preparação. Este projeto visa a tradução, adaptação cultural e validação da PRePS para a população portuguesa, segundo as diretrizes metodológicas de Beaton et al. (2000). O estudo alinha-se com os objetivos da Década do Envelhecimento Saudável 2021–2030 e com o Plano de Ação Nacional para o Envelhecimento Ativo e Saudável 2023–2026, contribuindo para o diagnóstico e intervenção precoce em transições para a reforma bem-sucedidas.

Objetivo Geral: Traduzir, adaptar culturalmente e validar psicometricamente a escala Process of Retirement Planning Scale (PRePS) para a população portuguesa, de forma a disponibilizar um instrumento adequado à avaliação da preparação para a reforma.

São objetivos específicos do projeto (OE):

OE1) Traduzir e adaptar culturalmente a escala PRePS para o português europeu, assegurando a equivalência conceptual, idiomática e cultural da versão original;

OE2) Avaliar a validade de conteúdo da versão portuguesa da escala com o apoio de um painel de peritos multidisciplinar nacional;

OE3) Estudar as propriedades psicométricas da versão portuguesa da PRePS, incluindo validade de constructo e fiabilidade, numa amostra de adultos portugueses em idade de pré-reforma.

Este projeto apresenta um contributo inovador ao disponibilizar, pela primeira vez, uma versão portuguesa validada da Process of Retirement Planning Scale (PRePS), um instrumento internacionalmente reconhecido na avaliação multidimensional da preparação para a reforma. A sua adaptação para o contexto português responde a uma lacuna científica e prática, pois não existem atualmente escalas culturalmente validadas que permitam avaliar, de forma sistematizada, o grau de preparação da população adulta portuguesa para esta transição crítica.

A disponibilização desta escala permitirá não só avançar o conhecimento científico na área do envelhecimento e das transições ao longo do ciclo vital, como também apoiar o trabalho de profissionais de saúde, particularmente enfermeiros, na identificação precoce de necessidades de intervenção junto de pessoas em idade de pré-reforma. A utilização da PRePS em contextos clínicos, comunitários ou organizacionais possibilitará o desenvolvimento de programas de capacitação orientados à promoção de transições bem-sucedidas para a reforma, contribuindo para a saúde, bem-estar e participação ativa da pessoa mais velha.

Alinhado com os objetivos da Década do Envelhecimento Saudável (2021–2030) e do Plano Nacional para o Envelhecimento Ativo e Saudável (2023–2026), este projeto reforça a importância de criar instrumentos de diagnóstico culturalmente adequados que sustentem políticas públicas e intervenções baseadas em evidência, com impacte real na vida dos cidadãos.

O presente projeto contempla o envolvimento do cidadão sobretudo através de uma abordagem consultiva, estando prevista a participação de pessoas adultas em idade de pré-reforma na fase de pré-teste da versão portuguesa da escala. Através de entrevistas cognitivas ou preenchimento acompanhado, será recolhida informação quanto à clareza, relevância, aceitabilidade e adequação cultural dos itens, permitindo garantir a validade linguística e concetual da versão adaptada ao contexto nacional.

De forma colaborativa parcial, prevê-se ainda o potencial envolvimento de cidadãos ou representantes da população-alvo na produção de materiais informativos associados à escala, nomeadamente no que respeita à produção de orientações de utilização dirigidas a profissionais e utentes. A abordagem de coprodução não será adotada, uma vez que não está previsto que os cidadãos integrem formalmente a equipa de investigação ou participem diretamente na gestão ou direção científica do estudo.

  • Capítulo Phi Xi da Sigma Theta Tau International
  • Bačová, V., Kohút, M., & Halama, P. (2023). The impact of psychological preparation information on retirement planning intention and retirement conceptualization. Studia Psychologica, 65(2), 133–153. https://doi.org/10.31577/sp.2023.02.850

    Beaton, D. E., Bombardier, C., Guillemin, F., & Ferraz, M. B. (2000). Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine, 25(24), 3186–3191. https://doi.org/10.1097/00007632-200012150-00014

    Boateng, G. O., Neilands, T. B., Frongillo, E. A., Melgar-Quiñonez, H. R., & Young, S. L. (2018). Best practices for developing and validating scales for health, social, and behavioral research: A primer. Frontiers in Public Health, 6, 149. https://doi.org/10.3389/fpubh.2018.00149

    Mosconi, G., Vigezzi, G. P., Bertuccio, P., Amerio, A., & Odone, A. (2023). Transition to retirement impact on risk of depression and suicidality: Results from a longitudinal analysis of the SHARE study. Epidemiology and Psychiatric Sciences, 32, e34. https://doi.org/10.1017/S2045796023000239

    Noone, J. H., Stephens, C., & Alpass, F. (2010). The Process of Retirement Planning Scale (PRePS): Development and validation. Psychological Assessment, 22(3), 520–531. https://doi.org/10.1037/a0019512

    Organização Mundial da Saúde. (2020). UN Decade of Healthy Ageing: Plan of action 2021–2030. World Health Organization. https://www.who.int/publications/i/item/decade-of-healthy-ageing-plan-of-action

    Presidência do Conselho de Ministros. (2024). Resolução do Conselho de Ministros n.o 14/2024: Aprova o Plano de Ação do Envelhecimento Ativo e Saudável 2023–2026. Diário da República, 1.a série — N.o 9 — 12 de janeiro de 2024.

    Rafalski, J. C., & Andrade, A. L. (2016). Planejamento da aposentadoria: Adaptação brasileira da PRePS e influência de estilos de tomada de decisão. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 16(1), 36–47.

    Schumacher, K. L., & Meleis, A. I. (1994). Transitions: A central concept in nursing. Image: The Journal of Nursing Scholarship, 26(2), 119–127. https://doi.org/10.1111/j.1547-5069.1994.tb00929.x

    Seidl, J., Neiva, E. R., Noone, J. H., & Topa, G. (2021). Process of Retirement Planning Scale (PRePS): Psychometric properties of the complete and short Spanish versions. Psicothema, 33(2), 231–239. https://doi.org/10.7334/psicothema2020.353

    Vigezzi, G. P., Gaetti, G., Gianfredi, V., Frascella, B., & Odone, A. (2021). Transition to retirement impact on health and lifestyle habits: Analysis from a nationwide Italian cohort. BMC Public Health, 21, 1670. https://doi.org/10.1186/s12889-021-11670-3

    Wood, R. E., & Pachana, N. A. (2025). The role of meaning in the retirement transition: Scoping review. The Gerontologist, 65(6), gnaf076. https://doi.org/10.1093/geront/gnaf076

    Informação do projeto

    • Data de Início

      01/12/2025

    • Data de conclusão

      01/12/2028

    • Projeto Estruturante

      ENVELHECIMENTO, SAÚDE E CIDADANIA: CIDADANIA E PROMOÇÃO DA AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA DA PESSOA IDOSA E DOS SEUS CUIDADORES

    • Linha Temática

      Well-being and Health Promotion

    • Target population
      • Pessoas adultas (idade > 18 anos), residentes em Portugal
    • Palavras-chave
      • aging
      • retirement
      • Health Planning
      • Psychometrics
    • Áreas prioritárias
      • Envelhecimento ativo
    • ODS da Agenda 2030 das Nações Unida
      • Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
    • Equipa de Projeto
      • Alberto José Barata Gonçalves Cavaleiro IR
      • Alberto José Barata Gonçalves Cavaleiro IR
      • Catarina Alexandra Rodrigues Faria Lobão
      • Adriana Raquel Neves Coelho
      • Liliana Baptista Sousa
      • Maria de Lurdes Ferreira de Almeida
      • Paulo Jorge dos Santos Costa