Vivências Conjugais em Casais Reformados

Em Portugal, de acordo com os últimos dados, o índice de envelhecimento no ano de 2001 era de 102,2, em 2011 de 127,8 e em 2021 de 182,1, evidenciando o aumento do número de pessoas com 65 ou mais anos de idade, no decorrer das últimas décadas. A par destes dados, verifica-se também um aumento do índice de longevidade que no ano de 2001 apresentava o valor de 41,4, em 2011 de 47,9 e 2021 de 48,7 (PORDATA, 2022a; PORDATA, 2023).

Não devendo ser encarado como um problema, o envelhecimento deve ser visto como um processo natural do ciclo vital, que deve ser vivido de forma saudável e autónoma o maior tempo possível (Ministério da Saúde. Direção-Geral da Saúde,2004)

É relevante mencionar o final da vida profissional, ou seja, a reforma, evento que marca a transição para a velhice (Sousa, 2006). Para alguns indivíduos, a reforma pode significar mais tempo livre para dedicar a alguma tarefa que até então não tinha sido possível realizar, mas para outros poderá traduzir-se numa mudança drástica no rendimento ou até perda de status familiar e status social (Amaro, 2014). A reforma pode concretizar-se não como um planeado e desejado espaço de libertação, mas implicando um sentimento de fim de vida produtiva, redutor dos contatos sociais. Sem preparação para usufruir desse novo espaço, esta fase pode transformar-se num período de depressão por incapacidade ou falta de condições para atingir os seus objetivos, ou mesmo, incapacidade de definir novos objetivos (Loureiro et al., 2015).

Usualmente, a reforma é vista como um fator de stress individual e é esquecido o impacto que esta tem no seio familiar (Moen, Kim, & Hofmeister, 2001). O trabalho ocupa grande parte da vida do indivíduo, sendo este primordial na vida do ser humano, já que é uma das formas de subsistência.

A reforma traz alterações em diferentes áreas da vida pessoal e familiar, exigindo adaptações, e por consequência, a reestruturação dos padrões familiares e a criação de novos papéis sociais (Loureiro et al., 2015)

A interseção da vida profissional na vida familiar é muito pertinente no estudo da conjugalidade. O impacto que o trabalho tem no sistema familiar e a forma como se influenciam mutuamente tornam importante o seu estudo (Narciso & Ribeiro, 2009).

Num estudo realizado por Moen et al. (2001), afirmam que a informação relativa à profissão, isto é, a reforma ou vida ativa, são preditores da relação marital. No mesmo estudo, os autores encontram menores níveis de conflito quando o seu cônjuge também está reformado (Moen et al., 2001).

Walker et al. (2010) encontram, no seu estudo, uma aproximação entre cônjuges no ciclo tardio de vida, demonstrando que os homens se sentem mais perto das suas mulheres e com mais comportamentos de demonstração de afetos, acrescentando um impacto bidirecional entre cônjuges, tanto a nível negativo (depressão) como a positivo (estado de espírito/moral).

Sendo, a reforma, uma vivência expectável e que ocorre habitualmente na idade adulta, pode gerar um momento critico, onde a conjugalidade surge como recurso fundamental nesta fase. A mobilização de recursos conjugais poderá, então, ser fundamental na adaptação a esta nova dinâmica conduzida pela entrada na reforma, sendo o cônjuge percecionado como uma relevante fonte de apoio. Um casal funcional, com história de uma boa dinâmica conjugal, terá maior facilidade em adaptar-se à reforma, quer no que diz respeito às mudanças positivas quer às negativas (Loureiro et al., 2015).

A reforma traz alterações em diferentes áreas da vida pessoal e familiar, exigindo adaptações, e por consequência, a reestruturação dos padrões familiares e a criação de novos papéis sociais (Loureiro et al., 2015).Sendo uma vivência expectável e que ocorre habitualmente na idade adulta, pode gerar um momento critico, onde a conjugalidade surge como recurso fundamental nesta fase. Um casal funcional, poderá ter maior facilidade em adaptar-se à reforma (Santos, 2018).

Objetivos: Analisar as vivências de casais na reforma, relativamente ao seu relacionamento conjugal; Conhecer as perceções dos casais reformados, sobre a importância do Enfermeiro(a) de Família, nesta fase do ciclo vital.

Metodologia: Investigação qualitativa, de orientação fenomenológica, aplicada a casais heterossexuais, inscritos numa USF, pelo menos um dos conjugues estar reformado há menos de 5 anos. Colheita de dado: entrevista semiestruturada. Análise de Dados: Modelo de análise corpus textual.

A reforma é um marco importante na vida adulta, exigindo adaptação tanto dos indivíduos quanto do casal.

Os enfermeiros de família desempenham um papel crucial nesse processo, oferecendo cuidados antecipatórios ou durante a transição, promovendo a capacitação dos casais e contribuindo para a satisfação conjugal, com impactos positivos na saúde familiar.

Este estudo pretende responder ao objetivo do projeto estruturante, “Investigação e Ação em Saúde Familiar”, concretamente: Estabelecer parcerias com as redes formais e informais das comunidades visando a capacitação das famílias para a promoção da saúde.

Especificamente, os objetivos são: Analisar as vivências de casais na reforma, relativamente ao seu relacionamento conjugal; Conhecer as perceções dos casais reformados, sobre a importância do Enfermeiro(a) de Família, nesta fase do ciclo vital.

Espera-se que os resultados do estudo permitam a construção de um projeto de melhoria continua da qualidade nas práticas clínicas com os casais/famílias nesta fase do ciclo vital, de forma a contribuir para uma prática clínica baseada na evidencia.

Não aplicável

  • Unidade Local de Saúde de Coimbra
  • Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
  • Alarcão, M. (2002). (Des) Equilíbrios familiares, uma visão sistémica. Quarteto Editora.

    Duvall, E. (1977). Marriage and family development (5th ed.). Lippincott.

    Figueiredo, M. H. (2012). Modelo Dinâmico de Avaliação e Intervenção Familiar, uma abordagem colaborativa em enfermagem de família. Lusociência.

    Figueiredo, M. H. (2023). Enfermagem de saúde familiar. Lidel. ISBN 978-989-752-491-2.

    Fortin, M. (2009). Fundamentos e etapas no processo de investigação. Lusodidacta

    Lei no 428/2018 de 16 de julho. (2018). Regulamento de competências específicas do enfermeiro especialista em enfermagem comunitária na área de enfermagem da saúde familiar. Em Diário da República: 2a Série, n. 135, 19354-19359. https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/regulamento/428-2018-115698616

    Lei no 140/2019 de 6 de fevereiro. (2019). Regulamento das Competências Comuns do Enfermeiro Especialista. Em Diário da República: 2a Série, n. 26, 4744-4750. https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/regulamento/140-2019-119236195

    Lourenço, M. M. C. (2006). Casal: conjugalidade e ciclo evolutivo. (Dissertação de doutoramento não publicada). Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Coimbra. https://hdl.handle.net/10316/973

    Loureiro, M. A. M. H. & Silva, M.A.N.C.G.M.M (2015). Transição para a Reforma: um programa a implementar em Cuidados de Saúde Primários (1a ed.). Gráfica Candeias. file:///C:/Users/utz/Downloads/LivroREATIVA%20(1).pdf

    Moen, P., & Hofmeister, H. (2001).Couples' work/retirement transitions, gender, and marital quality. Social Psychology Quarterly, 64, 1, 55-71. https://psycnet.apa.org/record/2001-05986-004

    Narciso, I., & Ribeiro, M. T. (2009). Olhares sobre a Conjugalidade. Coisas de ler.

    Pires, A. S. R. (2008). Estudo da conjugalidade e da parentalidade através da satisfação conjugal e da aliança parental. http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/820/1/20978_ulsd056139_tm .pdf.

    PORDATA (2022). INE, Índice de envelhecimento e outros indicadores de envelhecimento segundo os Censos. https://www.pordata.pt/portugal/indice+de+envelhecimento+e+outros+indicadores+de+envelhecimento-526

    PORDATA (2022). INE, Censos 2021: Divulgação dos resultados definitivos. file:///C:/Users/103341/Downloads/23Censos_Definitivos_2021_retif%20(1).pdf

    PORDATA (2023). Municípios. Índice de Envelhecimento. https://www.pordata.pt/municipios/indice+de+envelhecimento-458

    Rebelo, L. (2018). A Família em Medicina Geral e Familiar. Conceitos e Práticas. Almedina.

    Relvas, A. P. (2006). O ciclo vital da família: Perspectiva sistémica (4ed.). Afrontamento.

    Sousa, L. (2006). Envelhecer em família: Os cuidados familiares na velhice (2a ed.). Ambar.

    Vilelas, J. (2020). Investigação O Processo de Construção do Conhecimento. (3a ed.). Edições

    Walker, R., & Hoppman, C. (2010). Subjetive well being Dynamics in couples from the australian longitudinal study of aging. Gerontology: 2011; 57; 153-160. doi: 10.1159/000318633

    Informação do projeto

    • Data de Início

      27/10/2024

    • Data de conclusão

      15/05/2025

    • Projeto Estruturante

      Investigação e Ação em Saúde Familiar

    • Linha Temática

      Well-being and Health Promotion

    • Target population
      • Casais heterossexuais, inscritos numa USF, em que um dos cônjuges está reformado há menos de 5 anos
    • Palavras-chave
      • Enfermagem Familiar
      • Conjugalidade
      • Reforma
      • Cônjuges
    • Áreas prioritárias
      • Educação para a Saúde e Literacia
      • Envelhecimento ativo
      • Formação e desenvolvimento dos profissionais de saúde
      • Transições de saúde e autocuidado
    • ODS da Agenda 2030 das Nações Unida
      • Erradicar a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares
      • Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
      • Garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos
      • Reduzir as desigualdades no interior dos países e entre países
      • Tornar as cidades e comunidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis
      • Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas a todos os níveis
    • Equipa de Projeto
      • Liliana Inês da Silva Carvalho IR
      • Ana Paula Tardego Reis
      • Maria da Conceição Brito Bonifácio
      • Margarida Alexandra Nunes Carramanho Gomes Martins Moreira Silva
      • Rogério Manuel Clemente Rodrigues